Daurio Speranzini Jr
O ano de 2023 apresenta-se como uma grande oportunidade de voltar a refletir sobre a tão esperada transformação na área da saúde. Acompanho essa discussão com muita intensidade desde a década passada, patrocinando encontros com diversos e importantes atores do segmento. O diagnóstico é quase o mesmo, porém as ferramentas e a conscientização são maiores hoje.
Nosso sistema é universal e multifacetado. Fundos públicos o patrocinam e têm o SUS, Sistema Único de Saúde, como estrutura-base para executar os diversos procedimentos. Por ser universal, um paciente tem direito a saúde de qualidade sem distinção social ou econômica. Mas é multifacetado porque ele divide seu protagonismo com um sistema privado que atende cerca de 25% da população – 50 milhões de habitantes mais privilegiados! Os 160 milhões de brasileiros remanescentes lutam com dificuldade para receber o atendimento ambicionado.
A qualidade do atendimento médico parece que vai se degradando à medida que vamos nos distanciando da cidade de São Paulo – para ser mais preciso, do Complexo das Clinicas de São Paulo (nesta afirmação existe alguma falha intencional, simbólica e provocativa, é claro).
Hospitais públicos como o mencionado são ilhas de gestão e tecnologia e apresentam, como consequência, melhor atendimento ao paciente. Há muito o HCFMUSP investe em melhora da qualidade dos recursos humanos, de sistemas e da gestão, com foco muito forte em inovação. E o resultado na qualidade do atendimento impressiona mesmo! Basicamente, a gestão dos recursos dos hospitais pertencentes ao complexo está voltada em torno do paciente, e não das doenças que o acometem.
Todas as iniciativas com viés tecnológico ou de inovação do complexo hospitalar estão concentrados no InovaHC, um hub de tecnologias avançadas que objetiva catalisar empreendedores e recursos que gerem soluções para, conforme enunciado da instituição, “tornar a jornada do atendimento mais intuitiva, eficiente e iterável”. Algumas das inovações tecnológicas mais importantes da medicina brasileira estão passando por lá. A recente parceria com o Insper, por exemplo, uma das grandes instituições de pesquisa e ensino de negócios do país, que já está testando um novo modelo de operação remota de exames – tomografia e ressonância magnética.
O incentivo ao desenvolvimento de tecnologias em solo brasileiro é importante. Mas é fundamental encontrar aplicabilidade em áreas que façam a diferença na vida das pessoas.
Nesse sentido, o ano de 2023 nos traz esperança. A nova Ministra da Saúde, Nísia Trindade, competente profissional da área, certamente recuperará as discussões sobre esses e outros assuntos. Retomar a coordenação do SUS; estar bem conectada com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; recuperar o calendário vacinal; fortalecer a indústria nacional. Estes são alguns aspectos que precisamos evoluir. Eu estou otimista.
* Daurio Speranzini Jr é um dos mais experientes líderes empresariais do mercado da tecnologia médica do Brasil. Formado em engenharia mecânica pela FEI, possui MBA pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e extensão em Business Administration pelo Massachusetts Institute of Technology – MIT. Há 20 anos ocupa posições muito destacadas – vice-presidente, presidente e/ou CEO – nas maiores companhias mundiais com foco em tecnologia, saúde e healthcare. Toda essa experiência proporcionou um capital importante para análises profundas sobre as características e os processos operacionais das estruturas de saúde, públicas e privadas.