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Um veterano na luta pela valorização do setor de Análises Clínicas

Formado em Farmácia com habilitação em Análises Clínicas pela Universidade Federal do Ceará, Egberto Feitosa está nesse importante segmento de saúde há 20 anos. Como oficial farmacêutico do Exército Brasileiro, teve passagens marcantes pelos hospitais de São Gabriel da Cachoeira e de Manaus, no Amazonas, e no Hospital Geral de Fortaleza. Concursado, hoje exerce o ofício no Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará, e no Hospital Municipal de Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza. Chegou à diretoria regional cearense da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) em 2015, convidado pela diretoria que o antecedeu, assumindo o cargo de Secretário-Geral; Quatro anos depois, assumiu a presidência. Lembra com carinho dos desafios da época quando conseguiu aumentar o número de associados e oferecer um leque de cursos para o aperfeiçoamento profissional. Reconhece que o bom trabalho foi coroado pela possibilidade em sediar neste ano o 47º Congresso, que será realizado entre os dias 19 e 22 de junho na capital do Estado, Fortaleza. Ainda tem tempo para exercer o cargo de conselheiro federal de Farmácia pelo Estado do Ceará levando seu conhecimento dos tempos em que exerceu o cargo de vice-presidente do Conselho. Toda essa intensa bagagem qualifica-o analisar o cenário do setor de Análises Clínicas no país em tempos de pandemia: seus avanços, pesquisas, dificuldades e acesso dos mais pobres aos serviços, além de lutar pela valorização do setor por parte das esferas governamentais César Hernandes

Egberto Feitosa

LaborNews – A Sociedade Brasileira de Análises Clínicas chega à 47ª edição do seu Congresso em momento de pandemia mundial. Este será o tema central dos debates?

Egberto – A Sociedade Brasileira de Análises Clínicas promove esses encontros há quatro décadas com sucesso, ano após ano. Infelizmente foram dois anos sem condições de realizar o Congresso de forma presencial. Obviamente, a grave crise sanitária mundial provocada pela Covid-19, que trouxe à tona um tema de grande relevância para a Ciência e para o setor de análises clínicas, uma vez que lidamos com os diagnósticos dessa doença terrível, será tema central do encontro deste ano. Diversos palestrantes abordarão o assunto da pandemia, com suas principais atualizações e descortinando o que há de mais novo cientificamente no assunto. Não há como não abordar de maneira especial este tema que provocou tantas mortes no país e no mundo.

LaborNews – Quais são os principais nomes convidados para as palestras e quais serão os principais assuntos que serão discutidos?

Egberto – O Congresso sempre se destacou pela excelência científica e pelos grandes nomes presentes nas programações, e neste ano não será diferente. Teremos especialistas da qualidade de um Jorge Terrão, Marcos Fleury, Luiz Fernando Barcelos, Mauren Isfer, entre outros excelentes profissionais, que vão levar o que há de mais atual e moderno no setor de análises clínicas no Brasil e no mundo, seja na microbiologia, virologia, citologia, parasitologia, bioquímica, entre outras áreas.

LaborNews – A rede laboratorial brasileira está hoje em todo território nacional e de forma equânime?  

Egberto – Observando o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem mais de 16 mil laboratórios de análises clínicas no país, tanto no setor privado quanto no público. Como nosso país tem uma dimensão continental, a distribuição desses laboratórios ainda não é exatamente como deveria ser, ou seja, atendendo de forma igualitária a população brasileira, assim como também não é uniforme a distribuição populacional, já que existe uma concentração populacional maior nos grandes centros. Podemos dizer que temos presença em todas as regiões do Brasil, assim como a SBAC também está presente nacionalmente através do programa nacional do controle de qualidade – não só aqui, mas também em países vizinhos.

LaborNews – As pessoas de origem mais carente têm acesso aos exames de todo tipo?

Egberto – Elas têm acesso a exames laboratoriais via Sistema Único de Saúde – SUS. E a minoria dos laboratórios, segundo o IBGE, atende pelo SUS, mostrando ainda uma dificuldade dessas populações para serem atendidas. É preciso políticas públicas para aumentar a acessibilidade das pessoas aos exames, dando maior suporte aos laboratórios, não somente para melhorar a remuneração dos laboratórios, mas também o reconhecimento dos profissionais. Também é importante chamar a atenção dos órgãos reguladores, principalmente do Governo Federal, pela urgente necessidade de valorização deste setor, tão importante para a saúde pública, principalmente para o atual momento de pandemia, quando adquiriu uma maior relevância. Diante deste cenário, os laboratórios precisam de uma atenção especial por parte do setor público para possibilitar às pessoas mais carentes, com vulnerabilidade social, acesso aos mais variados exames clínicos.

LaborNews – Voltando à pandemia do SARS-CoV-2, como os laboratórios conseguiram atender a demanda pela alta procura por exames?

Egberto – O mundo inteiro sofreu com os efeitos da pandemia: a falta de insumos e o aumento expressivo da demanda pela realização de exames – e não foi diferente com o setor de análises clínicas. Os laboratórios tiveram muitas dificuldades na aquisição de materiais e reagentes por conta da conjuntura. Ainda estamos passando por isso, mas com um cenário pouco melhor. Mesmo diante das dificuldades, a rede laboratorial conseguiu dar respostas à sociedade, mas isso é mais um motivo para chamarmos a atenção dos governantes para enxergar o setor de análises clínicas com bons olhos. É preciso uma valorização do setor laboratorial, importante e fundamental para a saúde pública, cerne da clínica médica de diagnósticos precisos e seguros das doenças.

LaborNews – E o autoteste? Já é uma realidade?

Egberto – O autoteste já é uma realidade, tanto no Brasil quanto no mundo. Após uma grande discussão por aqui, ele acabou sendo liberado no dia 28 de janeiro deste ano, com a resolução de Diretoria Colegiada 595 (Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que estabelece os procedimentos para o registro, distribuição, comercialização e utilização dos dispositivos médicos para o diagnóstico in vitro, como o autoteste para detecção de antígeno do SARS-CoV-2. E ele está em consonância com o Plano Nacional de Expansão de Testagem para Covid-19 – montado pelo próprio governo para fazer a testagem em massa. Os laboratórios têm grande importância nesse cenário, mas é sempre importante salientar que o autoteste não substitui os exames laboratoriais, e isso precisa ficar claro para população. Somente os exames no laboratório podem garantir a qualidade. Laboratórios estes que participam do programa de controle de qualidade das normas regulamentaras, como a RDC 302 da Anvisa, que apresenta requisitos mínimos para o funcionamento dos laboratórios de análises clínicas.

Labornews – Quais os principais avanços laboratoriais que já estão à disposição das dos brasileiros nos dias de hoje?Egberto – O setor laboratorial é muito vasto, amplo e engloba muitas áreas dentro das análises clínicas. Isso traz um impacto de tecnologia que é intrínseca à área. Quando falamos em tendências tecnológicas, não estamos falamos apenas de técnicas, mas de inovações das ferramentas de gestão. Na inserção de novos testes no mercado, novos róis de procedimentos, especialmente na qualidade dos serviços, de roteiros operacionais, na automação permitindo uma maior precisão e exatidão nos resultados e na tecnologia da informação. Na área da Genética, em franco crescimento, notamos muito conhecimento chegando ao setor revelando problemas de saúde futuros. São muitas tecnologias em nosso setor fazendo o nosso país não deixar nada a desejar para os demais. Isso fica mais restrito em grandes centros por uma questão de custo e de procura, mas os brasileiros têm acesso a exames mais sofisticados que demandam técnicas mais apuradas e elaboradas. O mercado brasileiro já está muito bem abastecido nesse sentido.