Formado em Administração de Empresas pela FAAP e pós-graduado em finanças pelo Insper, Felipe Maricondi, CEO da WAMA Diagnóstica, explica em entrevista ao LaborNews o reposicionamento do Grupo Maricondi no mercado brasileiro, que conta hoje com quase 600 laboratórios parceiros distribuídos em 11 estados do país. Detalha também o inovador programa WAMA Clinic para o varejo farmacêutico, o enfrentamento do Grupo à pandemia da SARS-CoV-2, o grande investimento em um centro de soluções tecnológicas na Suíça e o orgulho de ver a WAMA selecionada pela OMS como a única empresa brasileira com a tecnologia de produção do teste rápido de antígeno para Covid-19 e outras doenças na América Latina e Caribe. “Hoje mudamos de patamar, com aptidão para produzir mais de cem milhões de testes por ano” .
César Hernandes
Felipe Maricondi, CEO da WAMA Diagnóstica
LaborNews – O que é o WAMA Clinic?
Felipe – O WAMA Clinic oferece um programa completo que possibilita ao varejo farmacêutico ingressar ou expandir seus negócios em serviços clínicos de farmácia, com adequado portifólio de produtos, serviços e procedimentos. É um programa que engloba suporte para as áreas de inteligência de mercado, marketing, trade, garantia de qualidade, pricing, compras e capacitação de RH. Embora em fase inicial, já foi implantado em algumas redes de farmácia. Entretanto, aguardamos a próxima resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para estabelecer o funcionamento do serviço clínico em farmácias, pois muitos atuam respaldados com liminares na Justiça.
LaborNews – Como vai funcionar e quem poderá aderir?
Felipe – Importante citar o Rodrigo Moura, da Clinicarx, que é uma empresa que se destacou na pandemia por fazer quase toda a laudagem dos testes de Covid-19 nas farmácias, o qual nos ajudou a criar o curso. Um dos diferenciais do Grupo Maricondi é ter além da WAMA, o Laboratório Maricondi, que está presente em 11 estados brasileiros. Então, a ideia do WAMA Clinic é otimizar todos os recursos em uma plataforma integrada para o cliente, partindo dos produtos que vamos oferecer às farmácias, realizando a coleta com o suporte do Laboratório Maricondi (após a regulamentação da Anvisa). Dessa forma, teremos a solução completa para oferecer ao mercado, ou seja, serviços, produtos, tecnologias de informação e um programa de capacitação e treinamento dos farmacêuticos.
LaborNews – Como é a experiência das empresas que já aderiram ao WAMA Clinic? E como é a participação da consultoria da Enter/Varejo?
Felipe – Ainda é um processo em fase inicial, mas já possuímos algumas redes farmacêuticas agendadas para treinamento. Já a Enter/Varejo é uma empresa especializada em canal farmacêutico, contratada por nós para formatar a estratégia e criação do WAMA Clinic.
LaborNews – Como a WAMA se preparou para enfrentar a pandemia do SARS-CoV-2?
Felipe – Foi um momento bastante intenso, de muito trabalho. Tivemos que nos preparar estruturalmente e financeiramente, montando um time comercial, para não perder oportunidades de negócios. No meio disso tudo, participamos de um programa junto à FIND – Aliança Global para Diagnósticos Confiáveis ao redor do mundo, o qual foi financiado pela UNITAID, ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). A WAMA Diagnóstica foi selecionada entre 125 empresas, de 25 países, para virar um hub de produção de testes rápidos de Covid-19 e de outras doenças na América Latina e Caribe, recebendo investimento para aumentar a sua capacidade produtiva. Portanto, hoje mudamos de patamar, com aptidão para produzir mais de cem milhões de testes por ano. Além disso, a WAMA é a única empresa brasileira que detém a tecnologia para fabricação própria do teste rápido para o antígeno do SARS-CoV-2, a qual foi transferida por empresa americana envolvida na pauta do programa em que participamos. E caso a pandemia volte a apresentar novos picos de contaminação, a WAMA está preparada com o know how tecnológico e de produção, que é 100% automatizado, com sistema de rastreio, uma novidade para o mercado.
LaborNews – Mas os testes serão distribuídos em países da América Latina e da África?
Felipe – A proposta do projeto de testes para Covid-19 é abastecer a América Latina e Caribe, mas temos conversado também com empresas da África para aumentar as nossas exportações.
LaborNews –Um dos avanços no período pandêmico é a chegada do autoteste e dos testes rápidos para detecção da doença. Como a empresa está investindo nesse processo?
Felipe – Hoje estamos aumentando nosso portfólio de produtos de testes rápidos qualitativos para várias doenças infecciosas: HIV, Hepatite, Sífilis, Dengue, Zika, Chikungunya, Covid-19, e combo Covid-19 + Influenza A e B, além de outros testes, como Troponina e pesquisa de Sangue Oculto nas fezes. No segundo trimestre lançaremos um teste point of care (POC) para identificação de Hemoglobinas Variantes e outro para Tipagem Sanguínea ABO e Rh. A WAMA também investe em testes quantitativos, onde se determina a concentração do analito, como Dimero-D, Procalcitonina, Troponina, Hemoglobina glicada, Microalbuminúria e outros. Investimos em nosso setor de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) para produzir novos produtos na linha POC, pois a descentralização do diagnóstico é uma realidade. Daqui 5, 10 anos, esse mercado vai mudar bastante e nos obriga a posicionar para termos produtos inovadores.
LaborNews – Os testes quantitativos já estão à disposição no mercado?
Felipe – Nós já oferecemos vários testes, como os já citados, além de HCG (para gravidez) e PCR ultrassensível (marcador de doença inflamatória). Entretanto, estamos aumentando o nosso portfólio com novos testes para doenças infecciosas, hormônios, marcadores cardíacos, entre outros.
LaborNews – O Brasil voltou a contar com doenças que já estavam erradicadas; outras, permanecem entre nós, como a Dengue, Influenza, Zika, Chikungunya, entre outras. Quais são os avanços tecnológicos da WAMA para enfrentar essas doenças?
Felipe – A WAMA tem muitos desafios e um deles é criar independência. Como todas as empresas nacionais, dependemos de tecnologias do exterior. Assim, para minimizar essa dependência e aumentar nosso portfólio, investimos em desenvolvimento de soluções tecnológicas na WAMA, na Suíça. Atualmente, por exemplo, estamos desenvolvendo um produto inovador e disruptivo, ainda não disponível no mercado internacional, o qual utiliza tecnologia multiplex para doenças infecciosas e com várias possibilidades de aplicação.
LaborNews – E por que Suíça?
Felipe – A escolha da Suíça para instalação da empresa foi a oportunidade de acesso a recursos de classe mundial em termos de pesquisas biológicas. A Suíça é o local ideal para companhias envolvidas em tecnologia médica graças à disponibilidade de profissionais multilíngues e altamente qualificados, além do que ela promove ativamente a tecnologia e a transferência de know-how. Outro importante fator na decisão para instalação da empresa na Suíça é sua posição geográfica. A Suíça está localizada no coração da Europa e, embora esteja fora da União Europeia (EU), a confederação suíça partilha de elementos comuns aos 27 estados membros nos aspectos econômicos, cultural e legal. Graças a uma série de acordos bilaterais e à longa e ativa cooperação política, as companhias suíças têm acesso garantido aos 450 milhões de consumidores do mercado europeu. Então, é estratégico, pois absorvemos tudo o que existe de novidade no mercado possibilitando não depender somente dos recursos de nosso país, além de ser uma porta para a internacionalização do Grupo Maricondi.
LaborNews – Como funciona o centro de pesquisa na Suíça? Qual a finalidade?
Felipe – O centro de pesquisa foi criado logo após o convite feito por um órgão do governo suíço para a instalação de uma planta naquele país. Fomos visitar vários cantões, como são conhecidos os estados suíços, e visualizamos muita sinergia com o Cantão do Valais. Isso permitiu apresentarmos nosso projeto para um fundo europeu, o qual foi um dos selecionados entre 325 projetos. Foi então criado um consórcio, liderado pela WAMA Suíça, onde participam uma empresa francesa, especializada no desenvolvimento de proteínas recombinantes, e um hospital em Montpellier, na França, detentor de um banco de amostras de pacientes portadores de vários tipos de doenças infecciosas. Além desse projeto, temos outros em andamento.
A finalidade é fazer pesquisa e desenvolver produtos inovadores que sejam diferenciais no mercado para diversas rotinas laboratoriais. Nosso conhecimento em testes imunológicos cresceu muito. Dominamos a tecnologia de quimiluminescência, multiplex e outras. Essas tecnologias podem ser aplicadas a várias plataformas, inclusive na técnica de POC. Entendemos que no futuro isso vai trazer grandes diferenciais para a empresa, reduzindo dependência e dando o suporte necessário para explorar novos mercados.
LaborNews – Como a WAMA enfrenta as questões estatais?
Felipe – Atualmente, a legislação não favorece uma empresa somente por possuir um know-how de tecnologia. Nós estamos tentando nos aproximar da esfera pública para mostrar o trabalho de uma empresa brasileira, o que ela vem fazendo, como por exemplo, o projeto com a FIND. Nosso país ainda é muito dependente e os recursos para pesquisa e desenvolvimento são escassos. O empresário brasileiro, empreendedor, com empresa constituída, tem muitas dificuldades de conseguir linhas para financiar seu P&D, algumas vezes existem ideias brilhantes, mas que não evoluem por falta de incentivos. Nossa área de saúde ainda é muito dependente, e a pandemia mostrou que essa dependência, muitas vezes, pode ser fatal, como vimos. Acreditamos que muita coisa tem mudado e há mais conscientização das instituições responsáveis em promover recursos para a saúde.
LaborNews – E a formação do Grupo Maricondi?
Felipe – No final do ano passado nós reposicionamos a nossa marca no mercado e hoje somos chamados de Grupo Maricondi, englobando uma indústria de testes para diagnóstico clínico, com foco no POC, um laboratório de análises clínicas, com quase 600 laboratórios parceiros distribuídos em 11 estados do país e um centro de pesquisa desenvolvendo testes inovadores para o diagnóstico laboratorial, o que facilita muito nossa atuação. Desejamos criar diferenciais que ofereça um leque de opções aos nossos clientes, seja em laboratórios, clínicas ou farmácias, além da atuação em programas epidemiológicos públicos e privados. A sinergia operacional é elevada e temos muito trabalho a realizar.