Há pessoas que com o simples embalo em uma rede nordestina caem num sono irresistível, enquanto outras não conseguem dormir por várias razões: estresse, barulho, iluminação inadequada, ansiedade etc.
Quais as razões que nos fazem tão diferentes, quando o assunto é dormir?
No nosso organismo há células que não têm descanso, são os neurônios. No típico período de seis a oito horas de sono essas células não param de trabalhar e efetuam atividades com a mesma intensidade de quando estamos praticando exercícios. Os neurônios coordenam as reações químicas que controlam níveis de hormônios, pressão arterial e equilíbrio ácido-básico, principalmente, e estabelecem o que os fisiologistas denominam de ciclo cicardiano. Este ciclo é o mecanismo pelo qual nosso organismo se regula entre o dia e a noite, e é por essa razão que ao escurecer somos induzidos ao sono, e ao amanhecer nós nos despertamos. Atualmente se sabe que as induções do sono e do despertar têm relações com quatro genes: Per-2, Per-3, DEC2 e ADRB1, que produzem proteínas indutoras do sono. Estes genes estão sujeitos a mutações que podem mudar a forma de faze-los trabalharem.
O gene Per-2 está relacionado em induzir o momento de ir para a cama ao escurecer e o de acordar, quando amanhece. Mutações que tornam este gene lento faz com que a pessoa produza menos proteína indutora do sono e, portanto, não sinta sono, tornando-se insone. Mas se a mutação o tornar acelerado na produção de proteínas indutoras do sono, o efeito é contrário e a pessoa se torna hipersone (sonolência excessiva), sentindo-se impelida a ter sono em qualquer ambiente, independente do horário.
O gene Per-3 tem também relações com indução do sono e do despertar. As mutações que o torna mais lento fazem as pessoas acometidas por esta alteração genética ficarem acordadas durante quase toda a noite (insones), e para estes casos o sono somente acontece com a exaustão física e mental. O exemplo mais expressivo desta mutação acontece com as “pessoas da noite”, onde a combinação da genética com o meio ambiente as tornam adaptadas para seguirem estilos de vida adequados à noite. Incluem aqui os profissionais que só trabalham à noite: músicos, artistas, garçons, vigias noturnos, boêmios etc., e os notívagos – que possuem uma rotina de costumes noturnos, por exemplo: leituras, estudos, jogos de internet, jogos de carteado etc.
O gene DEC2 recentemente foi relacionado como partícipe de distúrbios do sono. Mutações que o torna lento em suas atividades biológicas, causam o encurtamento do período de sono, mas não afeta o metabolismo do organismo. Os portadores destas mutações se sentem bem com apenas quatro a seis horas de sono por noite, em vez das oito horas (tidas como as mais frequentes). O exemplo para esta situação são as “pessoas viciadas no trabalho” ou workaholic.
O gene ADRB1, tal qual ao gene comentado acima, ao sofrer mutações que diminuem a produção de proteínas relacionadas ao comando do sono também provoca o aumento da vigília e a menor necessidade de sono.
Insônia e hipersonia de causas genéticas se manifestam desde a infância, tornando-se evidentes a partir da adolescência, e continuam até o fim da vida. A maioria das pessoas com essas alterações de causas genéticas conseguem administrar suas condições fisiológicas, se adaptando a estilos de vida que lhes tornam compatíveis às tarefas do dia-a-dia. Por outro lado, insônia e hipersonia podem ter causas adquiridas. A insônia de causa adquirida pode estar relacionada com a velhice, estresse, ansiedade, depressão (75% dos casos)*, desconforto ambiental, cafeína, nicotina, drogas estimulantes e mudanças de atividades laborais, entre outras. A hipersonia, por sua vez, pode estar relacionada com anemia crônica, hipoglicemia crônica, obesidade, alcoolismo, medicamentos e drogas relaxantes, e depressão (15% dos casos)*, entre outros. Quando insônia e hipersonia alteram as atividades físicas e mentais, há necessidade de cuidados médicos.* Os outros 10% dos distúrbios da depressão tem relações com a apnéia que interfere na qualidade do sono.