O Brasil está na lista dos países da região da américa Latina e Caribe em que o processo de envelhecimento seguirá mais acelerado. E a pirâmide etária perderá jovens, num processo irreversível que já está e curso. Mas os atores responsáveis pelo planejamento do cenário para esta nova realidade estão na plateia e o país não pode ficar de espectador tendo à espera um fenômeno que já é conhecido como a revolução prateada.
Estudo do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e BID LAB, o laboratório de inovação da organização, aponta que, atualmente, 11% da população latina e caribenha estão na faixa acima de 60 anos, mas alerta que a região presenciará o maior ritmo de envelhecimento populacional do mundo nas próximas décadas. O fenômeno transformará as economias.
Em 2018 o Brasil superou a marca dos 30 milhões de idosos, para o IBGE. A publicação “Economia Prateada – mapa dos atores e tendências na América Latina e Caribe”, assinada pelo BID e BID LAB, prevê que nas próximas três décadas a população com 60 anos ou mais terá um representante a cada quatro pessoas – atualmente, a proporção é de um a cada dez. E o estudo do BID aponta que em alguns países, dentre eles o Brasil, esse cálculo será de “quase” uma pessoa a cada três. Na região latina e caribenha, juntam-se ao Brasil, na lista de países com acelerado envelhecimento, o Chile, Colômbia, Uruguai, Costa Rica, Jamaica, Trinidad and Tobago e Barbados.
O grupo dos 60 deve ser o motor do emprego, crescimento e inovação, segundo especialistas do BID. Um dos aspectos importantes a ser considerado é que a longevidade implica algum grau de qualidade de vida, mas só podemos considerar qualidade de vida se a população tem acesso a programas de prevenção da saúde, cuidados médicos, alimentação e moradia dignas, trabalho e renda.
O estudo “Tsunami 60+”, de 2018, levantou que a população “60+” movimenta cerca de R$1,6 trilhão por ano em consumo no Brasil. O trabalho foi feito pela consultoria Hype60+ e pela plataforma Pipe Social, e aponta, ainda, que 63% das pessoas com 60 ou mais são provedoras da família. Entre 2013 e 17, segundo a Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, houve um aumento de 43% no número de pessoas acima de 65 anos trabalhando com carteira assinada.
Em 2010, o Brasil somava 14 milhões de pessoas (7,3% da população) com 60 anos ou mais. Só que eles chegarão a mais de 60 milhões (40,3%) daqui a 90 anos – menos de um século, segundo o Boletim Especial “Quem são os idosos brasileiros”, do DIEESE-Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. E um levantamento do IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada classifica o fenômeno como “envelhecimento acelerado”.
Antes da pandemia, em 2020, o DIEESE levantou 37,7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil (17,9% da população). 18,5% deles estavam no mercado de trabalho.
Há que se pensar na previdência. O modelo em que os mais jovens, que estão na ativa, sustentam o sistema previdenciário, e consequentemente os aposentados, precisa ser discutido tendo mais aposentados do que jovens na economia. Sistemas de saúde públicos e privados precisam repensar seus modelos uma vez que a saúde se debilita com a idade – e a questão não será apenas cuidar do paciente adoecido, mas garantir qualidade de vida com saúde de qualidade. Ainda não temos um modelo focado em prevenção – o que é essencial não apenas para idosos. O mercado de trabalho também precisa debater qual será o impacto da geração prateada na força de trabalho.Há ainda que se pensar num mercado enorme não explorado – educação para inserção ou reinserção dos chamados prateados na economia, políticas de inclusão, arquitetura urbana para cidades legitimamente inteligentes e acessíveis, desenvolvimento de tecnologias, aplicativos, produtos e serviços realmente desenvolvidos para este universo. A sociedade civil já vem debatendo, os futuristas têm divulgado cenários, os cientistas têm publicado trabalhos, já há inúmeros sítios na internet especializados no tema, pesquisas mundiais sobre saúde, comportamento, perfil dos novos idosos, mas falta o debate político, a iniciativa por parte dos políticos para o futuro que já começou – o que parece velho é subestimar a importância dessa população no futuro do país.