Muito do desenvolvimento de um país pode ser positivamente impactado pela qualidade da saúde de sua população. “A saúde é amplamente reconhecida como o maior e o melhor recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma das mais importantes dimensões da qualidade de vida”, disse Paulo Buss, ex-presidente da Fiocruz, e é uma afirmação que precisa ser mais seriamente considerada por autoridades públicas.
A amplitude da visão da sociedade sobre o tema é o passo número zero para iniciar o planejamento de uma transformação urgente para as necessidades e os riscos que podem ameaçar a população na próxima década.
Já o passo número um é fazer com que cada real investido promova mais resultados do que o que se tem hoje. A verdade é que a gestão do país é o motor para iniciar essa corrida. A saúde precisa ser tratada como base para a qualidade de vida e dignidade da população, mas também para o desenvolvimento. Por isso, o tema depende de políticas tributária e fiscal, educação global, equidade de acesso não apenas à saúde, mas à educação e ao trabalho, legislação etc. Enfim, as políticas precisam ser abrangentes.
Além disso, há um sem-número de iniciativas da sociedade civil que têm gerado resultados positivos e são exemplos de captação e gestão de recursos,
logística, criatividade e efetividade. A última pesquisa disponível sobre Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil (Fasfi), do IBGE, mostra que em 2016 estavam ativas no país quase 237 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos e muitas dessas organizações desenvolvem projetos de escolarização, assistência básica, meio ambiente, saúde e outros que são modelo de gestão e resultados. E elas tiveram papel importantíssimo durante a pandemia. Basta imaginar como teria sido este cenário no Brasil sem atuação das ONGs e do voluntariado. Por isso, o olhar para a questão da saúde deve ser muito mais abrangente. Há parcerias para serem feitas e projetos que devem ser usados como exemplo e ampliados ou replicados.
Os países precisam trabalhar mais políticas e metas em conjunto. A Carta de Otawa, de 1986, com proposições para atingir a meta Saúde para Todos no Ano 2000 e nos anos seguintes, já alertava que a responsabilidade pela promoção da saúde não é exclusiva do setor saúde. Em muitos casos, as soluções são apenas uma questão de escolha para gerar mais e melhor com menos.
“Mais saúde por dólar investido” como requisito para alcançar a saúde universal é uma premissa defendida em estudo do BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento intitulado Efficient Spending for Healthier Lives. Há muito a ser feito porque o trabalho aponta que, dos 27 países, 22 encontram-se na metade inferior dos rankings de eficiência média entre os países da OCDE e defende, também, que com os mesmos orçamentos atuais seria possível aumentar a expectativa média de vida em quatro anos e a assistência qualificada ao parto em 4,4%.
Ou seja, já há recursos disponíveis para melhorar o nível e resultados em saúde.
O Fórum Econômico Mundial apontou cinco tendências globais que vão orientar o futuro da saúde. A primeira é um alerta para os custos com cuidados na saúde que estão atingindo níveis altíssimos e a saída é uma abordagem que traga soluções rápidas e criativas, com olhar especial para países emergentes e estabelecimento de parcerias com vistas para resultados e sustentabilidade.
A segunda tendência é que a indústria da saúde não pode entregar saúde sozinha; ou seja, a responsabilidade é mais ampla. A terceira tendência aponta para a importância dos smartphones como uma das ferramentas mais poderosas de acesso à saúde, por onde se pode acessar não apenas registros médicos, mas comportamentos, estilo de vida, dietas, atividades físicas e até adesão a tratamentos. A quarta tendência é que a saúde dominará as 10 principais tecnologias emergentes, como IA, engenharia genética, robótica e outras.
Por fim, um estudo do Fórum Econômico Mundial mostrou que a Índia perderia cerca de quatro trilhões e meio de dólares no período de 2012- 30 em virtude de doenças não transmissíveis e transtornos mentais. O valor é quase o dobro do PIB anual daquele país. Mas é só um exemplo, pois o país não é o único nessa situação. Ou seja, a quinta e última tendência é que o investimento com vistas a proporcionar vida saudável à população gera retorno para governos, empresas e sociedade.
Não podemos esbarrar em politização da saúde e outras áreas que, por falta de estratégia, têm prejudicado não apenas o desenvolvimento do país, mas a qualidade de vida dos cidadãos, especialmente os que mais precisam de políticas públicas. Os desafios são imensos, mas há alternativas de enfrentamento e planejamento deste futuro já disponíveis.