Saúde mental e diálise: O desafio de cuidar da mente em meio ao tratamento que salva vidas

Depressão, ansiedade e isolamento são comuns entre pacientes renais; especialista destacam a importância do acolhimento e do apoio emocional durante o tratamento

Viver com doença renal crônica e depender da diálise para sobreviver é um desafio que vai muito além da rotina médica. A cada sessão, o paciente não enfrenta apenas as limitações físicas, mas também o impacto emocional de uma condição que transforma profundamente o modo de viver. No Dia Mundial da Saúde Mental, marcado em 10 de outubro, o alerta é para a importância de reconhecer o sofrimento psicológico desses pacientes – e garantir um cuidado humanizado e um suporte emocional contínuo.

“Os impactos vão desde a depressão e ansiedade até a perda da autoestima e o isolamento social. O tratamento impõe mudanças profundas de rotina e pode gerar uma sensação de perda de controle sobre a própria vida. Por isso, o apoio psicológico é fundamental”, explica Mara Faria, coordenadora nacional de psicologia da DaVita Tratamento Renal.

Um estudo transversal publicado em janeiro de 2025, na revista Advances in Nursing and Health (ANH), ilustram a dimensão do desafio: 63,49% dos participantes com doença renal crônica submetidos à hemodiálise tinham algum nível de depressão – sendo que 17,74% apresentavam quadro moderado e 19,35%, grave. Quanto à ansiedade, 49,21% relataram sintomas (com 19,35% em nível moderado e 9,68% em nível grave).

Segundo a especialista, cada paciente vivencia esses desafios de forma única. “Não existe um perfil emocional único na doença renal crônica. É essencial compreender o momento de cada pessoa e acolher suas demandas específicas. O cuidado precisa ser integral e empático”, reforça Mara.

Nos centros de diálise, equipes multidisciplinares – formadas por psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas e médicos nefrologistas – atuam juntas para identificar sinais de sofrimento emocional e oferecer orientação e encaminhamento. “A observação diária é essencial. Quando algum profissional percebe alteração de humor ou comportamento, a equipe de psicologia é acionada para avaliar e, se necessário, indicar acompanhamento especializado via SUS ou convênio”, explica.

Além do acompanhamento individualizado, muitas unidades promovem rodas de conversa e grupos de apoio entre pacientes e familiares, criando espaços de escuta ativa e troca de experiências. “Esses encontros ajudam a reduzir o isolamento e a fortalecer os vínculos. O paciente percebe que não está sozinho, que outras pessoas passam por desafios semelhantes – e isso traz resiliência e esperança”, ressalta Mara.

Para ela, o tratamento não deve se tornar a vida do paciente, mas apenas parte dela. “É essencial manter hobbies, atividades prazerosas e a convivência social. A diálise ocupa algumas horas do dia, mas o paciente precisa continuar se percebendo como um ser inteiro, com interesses e afetos. Isso é o que sustenta o equilíbrio emocional.”

A psicóloga acrescenta que entre as recomendações para preservar a saúde mental durante o tratamento estão: manter uma rotina estruturada, praticar atividades físicas leves, usar técnicas de relaxamento, priorizar o sono, manter uma alimentação equilibrada e buscar ajuda profissional sempre que necessário. “Cuidar da mente é parte do tratamento. Quando o paciente se sente acolhido, informado e compreendido, ele adere melhor à terapia e tem mais qualidade de vida”, finaliza Mara.