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Candida auris: A Quick Review on Identification,Current Treatments, and Challenges

Publicado por Cernáková, L et al. 2021. Int J Mol Sci. 22(9):4470. Artigo consultado: Cândida auris : fungo multirresistente surge como nova ameaça.

CDC, Centers for Disease Control and Prevention. CDC 24/7, Fungal Diseases Candida auris .

Com a identificação de mais um caso de infecção por Candida auris no Brasil, o presente texto ressalta a disseminação deste patógeno no mundo, as complicações na identificação desta espécie frente as outras candidíases e alguns procedimentos que devem ser instaurados em ambientes hospitalares e home care.

A importância na rapidez da identificação da espécie C. auris passa por laboratórios especializados em análises fúngicas de qualidade, que possibilitarão a diminuição das infecções e óbitos.

O gênero Candida é composto por fungos unicelulares de crescimento simples com alta capacidade de adaptação, sobrevivendo em vários nichos no hospedeiro. Possuem aproximadamente 150 espécies descritas, das quais 20 foram identificadas como agentes etiológicos das populares candidíases. A Candida albicans é a mais bem conhecida mundialmente por causar 80 % das infecções, esta levedura assim como muitas de seu gênero, vivem normalmente de forma comensal sem causar doenças, porém a qualquer desequilíbrio nas interações hospedeiro-patógeno pode desencadear infecções superficiais e invasivas.

Candida auris é uma das espécies que causam os mais graves problemas hospitalares. Esta levedura entra na corrente sanguínea e se espalha pelo corpo do paciente causando sérias infecções invasivas, principalmente nos que fazem uso de cateteres, linhas ou tubos que entram no corpo, ou que permanecem em hospitais por longos períodos, ou ainda que receberam antibióticos ou antifúngicos anteriormente. Isto porque esta levedura tem natureza oportunista e pode se tornar multirresistente a vários tipos de antifúngicos.

Em 2009, no Japão foi identificada pela primeira vez uma infecção por Candida auris , no canal auditivo externo de um paciente. Atualmente esta levedura está globalmente disseminada, detectada em pelo menos 35 países e nos 6 continentes, com pelo menos 4.733 casos reportados. Por sua importância no contexto atual de facilidade de disseminação, principalmente por sua alta transmissibilidade entre pacientes, o European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases (ECCMID 2021) dedicou algumas apresentações para discutir aspectos desse patógeno.

No Brasil já foram registrados dois casos, um em dezembro de 2020, no qual foi detectado em um cateter de um paciente internado em UTI em um hospital de Salvador (BA). Com este houve disseminação, com a identificação de outros 15 casos, com 2 óbitos. O segundo, em dezembro 2020, foi detectado em amostra de urina de um paciente de 88 anos internado em um hospital também em Salvador.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já determinou protocolos de avaliação e isolamento de casos com a C. auris no país por nota técnica (ANVISA Nº 11/2020).

Dados descritos na literatura para os fatores de risco para a C. auris são semelhantes para infecções por outras espécies de Candida . Esses fatores incluem cirurgia recente, diabetes, uso de antibióticos de amplo espectro e antifúngicos; e não há até o momento uma prevalência por idade, pois as infecções ocorrem desde bebês prematuros a idosos.

Entre as características de C. auris que a diferencia de outras espécies de Candida estão: a) a produção de biofilmes com multirresistência às drogas mais frequentemente utilizadas, como fluconazol, equinocandinas ou anfotericina B; b) grande potencial para causar infecções invasivas e de corrente sanguínea graves, principalmente em pacientes imunossuprimidos ou com comorbidades; c) sua capacidade de sobreviver por longos períodos em pacientes (colonizando órgãos por meses), ou por semanas ou meses em superfícies; d) apresenta resistência a diversos desinfetantes utilizados em limpeza hospitalar, incluindo os que tem como base o quaternário de amônio.

O tratamento para infecções por C. auris atualmente combinam várias terapias, dentre elas a mais imediata é o ataque da camada de biofilme que confere a múltipla resistência ao fungo, para poder tornar efetiva a ação de alguns antifúngicos; e posterior administração de probióticos que venham a diminuir o desenvolvimento deste patógeno.

São terapias ainda em estudo, pois cada caso está inserido em um contexto ambiental, econômico e cultural específico. Em termos de desinfecção de superfícies de cateteres, a utilização de antifúngicos, flavaglinas extraídas de plantas, irradiação fotoativa de comprimentos de onda de luz apropriados têm se mostrado promissoras.

Como agravante, a situação pandêmica da doença da COVID-19, com novas cepas, causando milhões de casos em todo o mundo, está contribuindo de maneira significativa para as infecções nosocomiais, nas quais a C. auris promove o agravamento nos ambientes de saúde. Como no caso da COVID19, há indivíduos assintomáticos para esta espécie.

Um dos maiores desafios da infecção por C. auris é a sua difícil identificação laboratorial por métodos convencionais. Estudos comparativos entre espécies mais comuns de candidíases não indicaram nenhuma diferença na taxa de sobrevivência in vivo entre C. auris C. albicans ou C. glabrata ; obtendo o mesmo resultado na análise da carga fúngica tecidual entre C. auris C. albicans . Atualmente o diagnóstico mais preciso é obtido pela pesquisa molecular feita por PCR convencional e sequenciamento das regiões específicas do genoma da C. auris ; e as técnicas de PCR em tempo real e a espectrometria de massa (MALDI-ToF MS) ainda possuem valores proibitivos para algumas regiões.

A correta e rápida identificação da espécie e dos pacientes colonizados é fundamental para a implementação de medidas de precaução, evitando a propagação do agente, como o isolamento de contato, a separação de objetos e equipamentos de uso individual e a desinfecção apropriada do ambiente hospitalar inclusive em pacientes em home care . Em vista do exposto, o controle desta deverá ser feito por um diagnóstico seguro e este requer laboratórios confiáveis em análises fúngica.

Referências: Serão fornecidas, quando solicitadas.

Traduzido, livremente, por Regina Affonso