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Opinião
Dr. Edgar Garcez Júnior
Graduado em Biomedicina, especialista em Patologia Clínica, em Microbiologia e em Administração Laboratorial.
É diretor técnico do Serviço Especializado em Patologia Clínica S/C LTDA, conselheiro titular da Comissão de Ensino
e Docência, e da Comissão de Ética do Conselho Regional de Biomedicina 1ª Região (CRBM1), coordenador adjunto
do Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (FCFAS), conselheiro do Conselho Federal de Biomedicina
(CFBM) e presidente da Associação Paulista de Biomedicina (APBM)
edgargj@uol.com.br
Os autotestes para a COVID-19 podem ajudar?
Nas últimas semanas, a população vem sendo que busca o material genético do vírus e leva cerca de para sua aquisição. Será um teste elitizado, uma vez que
bombardeada de informações a respeito da falta 12 horas de processamento no laboratório. o governo já informou que não irá distribuir os testes
de testes para diagnóstico da COVID-19 nos setores O teste impõe algumas dificuldades para o usuário: gratuitamente na rede pública de saúde. O valor proposto
público e privado. 1 - Respeitar o período da infecção onde o teste é é muito próximo dos praticados pelos laboratórios
Laboratórios de análises clinicas têm enfrentado efetivo; clínicos, sendo que no laboratório o cliente terá um
grandes dificuldades na aquisição e entrega de kits 2 - Colher adequadamente a mostra com o swab; profissional capacitado para colher corretamente a
para realizar testes de antígeno e RT-PCR, além de 3 - Interpretar o resultado; amostra e no período certo. Também receberá um laudo
insumos necessários aos atendimentos. 4 - E o que fazer de posse de um resultado positivo; assinado por um profissional habilitado. Esse laudo terá
Importadores e representantes dos grandes 5 - Pagar entre 75 reais e 120 reais por um teste sem valor diagnóstico para o médico.
fabricantes no mundo estão aproveitando a situação direito a reclamar se não se sair bem na sua execução O autoteste não tem valor diagnóstico, é um
e aumentando seus preços, além de estabelecerem ou não saber interpretar o resultado. teste de triagem que certamente será repetido em
a forma antecipada de pagamento para entrega dos A população brasileira não está habituada a um laboratório para auxiliar no diagnóstico médico.
testes e insumos. É a famosa lei de quem tem poder executar autotestes. Somente os brasileiros diabéticos Um custo elevado para o sistema de saúde, que terá
financeiro fica com a maior e melhor fatia do bolo. Isso que medem sua glicemia diariamente ou algumas de atender um paciente na maioria das vezes sem
faz com que os pequenos e médios laboratórios, já mulheres que usam os testes de gravidez comprados sintomas, mas que testou positivo num teste mal
fragilizados, fiquem sem acesso aos testes necessários em farmácias que convivem com esses testes. Mesmo interpretado ou mal realizado.
para atender a população. São esses pequenos e os autotestes de HIV, distribuídos na rede pública, Tal condição pode sobrecarregar ainda mais os
médios laboratórios que fazem a capilaridade do “não pegaram”, pelas dificuldades impostas pelo serviços de pronto atendimento já abarrotados de
atendimento, principalmente aos usuários do SUS. método e a falta de confiança da população usuária. pacientes com síndromes gripais.
Com essa dificuldade de acesso aos testes A forma correta de colher creio ser o maior Mesmo que todos esses percalços sejam
aparece, como “tábua salvadora”, a discussão sobre obstáculo. O usuário provavelmente não irá alcançar, sanados, os autotestes ainda não estarão disponíveis
a venda de autotestes para COVID-19 como a solução com o swab, a região nasal para obtenção de uma imediatamente após a decisão da ANVISA em liberar
para o momento de dificuldades. amostra adequada devido ao desconforto provocado. sua produção, importação e comercialização. Os
Esses “autotestes” são uma versão adaptada dos Serão amostras mais superficiais que poderão levar a fabricantes e importadores terão de registrar todas as
testes para detecção de proteínas (antígenos) presentes resultados falso negativos. Por outro lado, a coleta em diferentes marcas na ANVISA. A aprovação leva tempo
no capsídeo viral do SARS-CoV-2, amplamente utilizados profundidade ou com força exagerada poderá causar e pode ser que, até lá, já não sejam tão necessários.
nos laboratórios clínicos. Esses testes, quando bem ferimentos e sangramentos que inviabilizam a coleta e Diante de todos esses fatos o melhor caminho
executados, acusam uma infecção pelo vírus que está comprometem a amostra com a presença de sangue. para a população é procurar seu laboratório de
acontecendo naquele momento; é um teste direto e O custo do teste também o restringe a uma faixa confiança para realizar um teste de qualidade com um
rápido, fica pronto em 15 minutos, diferente do RTP-CR muito pequena da população que tem poder aquisitivo profissional capacitado e habilitado.
Luiz Fernando Barcelos
Diretor Executivo e Membro Nato da SBAC
barcelos@sbac.org.br
Uma esperança ainda com incertezas
No fim do ano passado, de forma exultante até, letal, deve ser encarada com muita preocupação. enfrentamento de doenças, mas não substitui e nunca
prevíamos que em 2022 nos livraríamos do peso É impressionante a rapidez e a intensidade do substituirá os exames laboratoriais. Insinuar, por meio
representado pela pandemia da Covid-19. Muitos aparecimento de novos casos que, por sua grande de propaganda, tal possibilidade de substituição,
fatores levavam a crer que estávamos corretos, quantidade, estão levando à ocupação de muitos é iludir a sociedade. Os laboratórios clínicos fazem
devido à evolução natural da doença e à vacinação leitos de UTI, além do aumento, embora pequeno, no EXAMES. Fora deles são feitos TESTES limitados e sem
atingindo índices crescentes. número de óbitos. finalidade diagnóstica.
Contávamos com a retomada da atividade A nossa grande esperança é ouvir pesquisadores Vamos lembrar que aumentar o acesso aos
econômica, com a melhora do nível de empregos, renomados, brasileiros e estrangeiros, dizendo que os clientes é muito importante. No entanto, os acessos
com a redução da inflação e, enfim, com a volta à estudos realizados com as doenças infecciosas sinalizam oferecidos devem ser qualificados, e a rede de
normalidade. Sabíamos que tínhamos muitos desafios para que as variantes se tornem menos letais e mais laboratórios existente no Brasil atende perfeitamente
pela frente, em especial o desabastecimento de infectantes com o passar do tempo – o que poderia esta demanda.
insumos industriais e a desorganização do mercado indicar que a pandemia está “chegando ao fim”. Apesar do susto com essa nova variante, penso
como um todo. Porém, pouco a pouco, buscaríamos Veja, é importante ressaltar que não é a doença que as esperanças de um 2022 melhor irão se realizar, e
as soluções e trilharíamos o caminho da correção que está chegando ao fim, mas sua incidência como que logo teremos uma situação bem mais confortável.
destes problemas. pandemia. Provavelmente teremos que conviver E que encerraremos 2022 bem melhor que nos últimos
Mas fomos impactados pela variante Ômicron, com a Covid-19, controlando-a com vacinas por um dois anos.
claramente menos letal, mas com uma capacidade tempo ainda sem previsão. Inclusive, temos notícias Temos muita fé de que realizaremos, depois
infectante extremamente importante. O número de de que o panorama da doença na Europa já tem uma de três adiamentos, o 47º Congresso Brasileiro de
infectados por ela é assustador. E é relevante registrar significativa mudança, apresentando um declínio Análises Clínicas em Fortaleza, de forma presencial,
que a maioria dos infectados não tem o esquema acentuado de casos. entre os dias 19 e 22 de junho.
vacinal completo. É relevante lembrar que em todo o período em que Estamos, faz muito tempo, necessitando retomar
As vacinas não impedem os indivíduos de a pandemia nos aflige, a atuação intensa e qualificada esta atividade que permite, além da atualização
contraírem o vírus, mas os protege. Afinal, possuem dos laboratórios clínicos foi de alta importância científica, o reencontro com colegas e professores,
o poder de evitar que a doença atinja patamares de no diagnóstico, no tratamento, na avaliação e no o convívio com os palestrantes, conhecer novos
gravidade muito altos. Assim, vacinados tem sintomas acompanhamento da resposta imunológica. A mídia equipamentos e sistemas diagnósticos, conversar
leves e muitos sequer apresentam sintomas. tem feito justíssimos elogios aos médicos e enfermeiros, com os fornecedores, relaxar nas atividades sociais e,
A boa adesão dos brasileiros às vacinas, já mas esquecem de citar os laboratórios que foram por vezes, estender alguns dias a mais a presença na
comprovada em outros ações do Plano Nacional de fundamentais em todas as etapas da pandemia. cidade para aproveitar um pouco de turismo.
Imunizações, está contribuindo decisivamente para Os laboratórios clínicos brasileiros são submetidos O “charme” conferido por um congresso presencial
um maior controle neste momento. Os nossos níveis à mais rigorosa norma técnica sanitária da área da não pode ser esquecido e, por esta razão, devemos
de vacinação são até superiores à maioria dos países saúde, o que garante um ambiente qualificado e a manter e apostar que conseguiremos realizá-lo.
Europeus a aos dos Estados Unidos da América. segurança dos pacientes. Os exames laboratoriais Finalmente, a SBAC continuará com as atividades
Os defensores da não-vacinação estão deixando são realizados com controle da qualidade, expertise digitais, como o SBAC Digital, o CEPAC Digital e a
de contribuir para esta conquista e significativa técnica e ambientes adequados, diferentemente Semana das Análises Clínicas, devido a clara percepção
melhora do quadro sanitário. Com todo o respeito aos dos testes realizados fora do laboratório – que não de que se trata de uma maneira de oferecer o
que pensam de outra forma, entendo que se vacinar é oferecem tal segurança nos resultados. conhecimento de forma mais efetiva e capilarizada
um ato de cidadania. Fazer testes fora do ambiente laboratorial é num país do tamanho do nosso.
De qualquer forma, essa variante, embora pouco válido quando se está inserido numa estratégia de Venham conosco!
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