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Entrevista
“É urgente e fundamental interromper
o ciclo de transmissão”
Um dia antes da aprovação
do autoteste para Covid-19 pela
Anvisa, o presidente da CBDL -
Câmara Brasileira de Diagnóstico
Laboratorial, Carlos Eduardo
Gouvêa, detalha ao Labornews o
atual cenário da testagem no país
que vem batendo recordes de
contaminação. Ele explica como
o mercado está se preparando
para atender a demanda por
testes e como o Ministério da
Saúde marcou passo em relação
a liberação do autoteste que,
segundo ele, vai ajudar na luta
contra o avanço da pandemia.
César Hernandes Carlos Eduardo Gouvêa, presidente da CBDL - Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial
Labornews – O "Programa Diagnosticar para Labornews - E os testes rápidos? avalia o autoteste dentro da Política Nacional,
Cuidar" criado pelo Ministério da Saúde em 2020 Carlos Eduardo Gouvêa – O Governo distribuiu como ferramenta complementar, e que por isso
está atualizado para esse novo momento da para estados e municípios no final de 2021 cerca deve ser distribuído nas farmácias, mas não via
pandemia? de 60 milhões de testes. Um volume bom, mas SUS, o que é uma pena.
Carlos Eduardo Gouvêa – O Ministério da insuficiente. No pico da demanda, de dezembro
Saúde tentou fazer uma série de atividades para cá, ninguém encontrava o teste. Relatório Labornews – Isso é política pública...
em função da pandemia, mas correu um pouco da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes Carlos Eduardo Gouvêa – Primeiro, é política
atrasado, mesmo tendo boas ideias. Podemos de Farmácias e Drogarias) apontou na semana pública; segundo, o poder de compra do Estado
citar como exemplo este momento da discussão de 17 a 23 de janeiro a quantidade de 740 mil ajuda muito na escala, pois nosso mercado é muito
pela Anvisa sobre a liberação de uma resolução testes realizados em todo o país. Isso somente competitivo. Compras muito grandes, com escalas,
que determinará quais são os requisitos para nas farmácias. Essa demanda é resultado de uma permitem uma redução de custo baixando-o no
o autoteste para a Covid-19 como ferramenta tempestade perfeita: população com uma alta mercado privado. E ainda existe a importância do
(a Anvisa aprovou o uso do autoteste em 28 confiança, poucos cuidados e encontros de final acesso porque nem todo mundo poderá pagar
de janeiro, um dia depois da realização da de ano e uma nova cepa muito mais infectante entre 45 e 70 reais, valores estes que deverão ser
entrevista). Ela estava prevista para o dia 19 de combinada com a H3N2. Ou seja, as pessoas ficaram os preços de um autoteste.
janeiro, mas não ocorreu. Para surpresa de todos, desesperadas porque sabem da importância do
não aconteceu por conta da Política Nacional diagnóstico preciso e rápido. E percebemos que Labornews – Então estados e municípios
de Saúde voltada à testagem e combate para Governo e iniciativa privada não contavam com poderão entrar no circuito?
a Covid-19 que, segundo a Anvisa, não estava o aumento da demanda. Esse fato reduziu os Carlos Eduardo Gouvêa – Sim, porque as
satisfatória para incorporação do autoteste estoques locais dando largada a uma nova corrida secretarias estaduais e municipais poderão comprar
neste momento. Então, dentro da questão da para reposição destes, gerando a discussão de o autoteste uma vez que o SUS é gerenciado pelas
testagem e de outras campanhas, existe uma uma nova ferramenta que deve fazer parte de três esferas de poder. Muitos postos de saúde
desconexão entre o que o mercado precisa e o iniciativas para o combate e interrupção do ciclo de competem à autoridade municipal e o autoteste pode
que o Ministério consegue oferecer. transmissão, que é o autoteste... entrar até como ferramenta para tirar a aglomeração
do posto, como aconteceu recentemente na Itália,
Labornews - E qual foi a resposta do Ministério Labornews – ...e que agora está sendo discutido que o distribuiu gratuitamente para a população.
da Saúde à Anvisa? pela Anvisa.
Carlos Eduardo Gouvêa - O Ministério da Carlos Eduardo Gouvêa - A discussão é que a Labornews - Como os laboratórios, hospitais
Saúde fez uma revisão completa do Programa Anvisa quer entregar uma solução que seja adequada e farmácias estão trabalhando para atender a
Nacional de Testagem desde o início da e coerente com a Política Nacional. A RDC 36/15, demanda por testes?
pandemia. Inicialmente, o Programa previa 46 que regulamenta os testes de diagnósticos no país, Carlos Eduardo Gouvêa – Assim que percebemos
milhões de testes, metade de PCR e a outra prevê que autoteste para doenças as quais possuem a mudança e a tendência de alta da contaminação,
de testes rápidos. Houve uma dificuldade alguma situação de infecção, ou que precisam de entramos em contato com todas as fábricas mundo
para implementar os testes de PCR porque notificação compulsória – como os casos do HIV e afora para alocar a produção para o Brasil. Foi
não tinha equipamento instalado e preparado da Covid-19 – precisam fazer parte de um programa uma briga, mas se mostrou possível. Em janeiro,
para atender uma demanda alta em biologia de saúde pública e ter uma demanda do gestor conseguimos em torno de 12 e 14 milhões de testes no
molecular. Por exemplo, a primeira compra principal. Então a Anvisa disse ao Ministério que só total, entre PCR e testes de antígeno, que devem estar
de quase dez milhões foi realizada junto a uma iria adiante se fosse provocada. em trânsito. O volume está vindo de forma gradativa,
empresa associada nossa, via Organização Pan- mas à medida que desembarca conseguimos liberar
Americana da Saúde (OPAS), e ao começar Labornews - E o Ministério respondeu? e entregar. Para ser mais célere, a CBDL fez uma
a distribuir pelos laboratórios centrais dos Carlos Eduardo Gouvêa - Mandou uma reunião com a diretoria da Anvisa criando um canal
estados, o Ministério enfrentou uma séria de nota técnica pedindo a avaliação do autoteste, de atendimento prioritário para todas as licenças de
dificuldades com infraestrutura, treinamento entretanto, a Anvisa respondeu que não estava importação que contenham reagentes ou insumos
de pessoal e problemas para equacionar a satisfeita, pois é necessário ter um programa para produção local, ou kits prontos, para a Covid-19.
velocidade do diagnóstico. Com o aumento consistente. Em 21 de janeiro, Ministério e Anvisa Agora existe uma força-tarefa para começar a liberar
da demanda, um resultado de PCR chegou a reuniram-se para dirimir dúvidas. Na terça-feira, de forma muito rápida, possibilitando reabastecer o
demorar de 7 a 15 dias para ficar pronto. Isso 25, saiu um despacho da Secretaria de Combate à mercado. Dentro desse contexto, as empresas estão
não adianta. Covid-19 do Ministério da Saúde informando como diluindo entre os vários clientes. Continua na página 6
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