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Opinião
Por que os leucócitos e plaquetas também passeiam?
Se pudéssemos ver microscopicamente como as células do sangue fluem através
Prof. Dr. Paulo Cesar Naoum dessas vias sanguíneas, observaríamos que há um padrão de escoamento: os eritrócitos
Professor Titular pela UNESP ocupam a parte central dessas vias juntamente com os linfócitos. Margeando a corrente
Diretor da Academia de Ciência e Tecnologia, dos eritrócitos estão os neutrófilos e eosinófilos, enquanto que monócitos, basófilos
Acadêmico da ARLC
a.c.t@terra.com.br e plaquetas se movimentam pelas “beiradas”, ou seja, próximos às paredes dos vasos
sanguíneos.
O fato de os monócitos circularem próximos às paredes dos vasos sanguíneos
permitem que eles realizem suas tarefas de defesa imune com mais rapidez, alcançando
Não é incomum discordâncias entre médicos e profissionais de laboratórios sobre facilmente os tecidos infectados por bactérias, vírus, fungos e outras partículas
resultados de exames, notadamente do hemograma de pacientes hospitalizados. estranhas ao organismo, fagocitando-os e desencadeando a resposta do sistema imune
Profissionais mais experientes em medicina e em laboratório sabem que resultados especializado.
de algumas análises laboratoriais variam em poucas horas entre uma coleta e outra de Por outro lado, as plaquetas ao circularem próximo às paredes dos vasos sanguíneos
sangue, e esta situação é mais frequente em pacientes hospitalizados. atuam rapidamente para evitar sangramentos causados por traumas imperceptíveis
Variações de resultados de exames que compõe o hemograma, principalmente de que ocorrem a partir do momento em que começamos a despertar do sono, e que se
leucócitos e plaquetas, se devem a diversas interferências fisiológicas com destaques seguem acontecendo ao longo do dia de trabalho, esporte etc.
para gestantes, coletas de sangue após exercícios físicos e refeições, durante crises Os neutrófilos, por sua vez, somente vão aos tecidos quando alertados por aqueles
agudas de estresses, entre outras. Por outro lado, alterações fisiopatológicas em monócitos que saíram do sangue e foram aos tecidos e órgãos – algo que ocorre com
exames laboratoriais de pacientes com febre, infeções agudas, câncer, leucemias, frequência inimaginável.
hepatopatias, doenças renais, traumatismos graves e descompensações metabólicas, Os linfócitos, como se sabe, são as células mais especializadas do sistema imune
principalmente, são recorrentes ao longo de um mesmo dia. e efetuam uma sofisticada forma de bloqueio imunológico contra vírus e proteínas
Em relação aos leucócitos e plaquetas - tema do título deste artigo - há variações estranhas aos nossos tecidos e órgãos, e aguardam no sangue a chamada biológica
naturais diárias em pessoas saudáveis que afetam a quantidade de leucócitos para participarem das nossas defesas.
e plaquetas, que alcançam diferenças entre 20 a 30% entre um resultado e outro. Com atuações tão cansativas como essas, quando, em geral, a maior parte da
Obviamente essas variações podem ser mais acentuadas em pessoas doentes. população humana começa diminuir seu ritmo de trabalho por volta das dezesseis
Pesquisas realizadas em populações saudáveis mostraram que leucócitos e horas, as células do sangue também diminuem seus fluxos para os tecidos, enquanto
plaquetas começam aumentar suas quantidades no sangue a partir das dezesseis horas que a incansável medula óssea continua enviando células para substituírem aquelas
– quando a maioria das pessoas diminuem seus ritmos de trabalho – e este processo que saíram da circulação sanguínea e foram aos tecidos e órgãos para nos defenderem
continua até a meia-noite. Porém, à medida que amanhece, a quantidade destas células de infecções, intoxicações etc..
do sangue diminuem gradualmente, atingindo valores quantitativos mínimos entre E é dessa forma que o sangue circulante vai acumulando mais células até à
seis e oito horas da manhã. Como seria possível explicar este fenômeno para o médico meia-noite, e enquanto repousamos elas se divertem passeando pelos quase 100 mil
que está muito bravo na porta do laboratório? quilômetros de vias sanguíneas do nosso corpo. Enfim, quando amanhece, o nosso
Pessoas adultas, homem ou mulher, contém entre 80 a 100 mil quilômetros de organismo está novamente pronto para o enfrentamento da jornada diária, onde
vasos sanguíneos em seus corpos e que atuam como vias de escoamento das células preocupações, agitações, contaminações, estresses etc. colocam leucócitos e plaquetas
do sangue para os tecidos e órgãos. para trabalharem intensamente.
Superfungo
Diagnóstico preciso é arma indispensável
contra o superfungo Candida auris
Um “superfungo” vem preocupando nos últimos anos ao se espalhar
silenciosamente pelo mundo. Trata-se do Candida auris, que ganhou destaque devido
à sua resistência a medicamentos antifúngicos e à capacidade de causar infecções
graves em pacientes vulneráveis. Alex Galoro, líder do Comitê de
A confusão entre Candida auris e outras espécies de fungos pode afetar o tratamento Análises Clínicas da Associação
da infecção de diversas maneiras, como atraso no diagnóstico, uso inadequado de Brasileira de Medicina Diagnóstica
medicamentos e agravamento da infecção. Portanto, laboratórios, clínicas e hospitais (Abramed).
precisam estar preparados e capacitados para oferecer exames que identifiquem sua
presença com precisão e acelerem o tratamento.
“A principal preocupação com o aumento da incidência do Candida auris
é a ausência de tratamento direcionado, já que se trata de um microrganismo o tipo de bactéria ou fungo leva de 4h a 12h na técnica de espectrometria e de 12h a
multirresistente, podendo levar a pessoa à morte”, explica Alex Galoro, líder do 24h no caso de provas bioquímicas. “O método mais avançado tem disponibilidade
Comitê de Análises Clínicas da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica restrita, pelo valor da tecnologia, mas a rapidez no resultado permite direcionar os
(Abramed). cuidados adequados ao paciente em menor tempo”, conta Galoro.
O fungo foi identificado pela primeira vez no Japão, em 2009, e depois se espalhou Ele ressalta que os associados à Abramed seguem rigorosos protocolos de
por países na Europa, na África, na Ásia, na Oceania e nas Américas. No Brasil, os qualidade e possuem infraestrutura adequada para oferecer um diagnóstico preciso,
primeiros casos de infecção foram conhecidos em dezembro de 2020. nas duas técnicas apontadas.
Em 18 de maio deste ano, foi confirmado o primeiro caso, no estado de São Paulo, Além disso, essas empresas seguem as boas práticas de laboratório, controle e
de um bebê no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, vinculado à garantia da qualidade. “A competência dos associados da Abramed também se reflete
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Já no estado de Pernambuco, nove na capacidade de interpretar corretamente os resultados e fornecer informações
casos foram registrados em 2023. relevantes aos médicos e profissionais de saúde”, acrescenta o coordenador do Comitê
Como o fungo é detectado? de Análises Clínicas.
Os exames de cultura de urina e outras secreções são responsáveis por revelar o Sintomas e tratamento
crescimento de microrganismos dentro do corpo. Uma vez confirmado, é realizado Os sintomas de alguém com Candida auris são típicos de uma infecção. Por
outro procedimento para identificar a bactéria ou o fungo que está agindo. exemplo, no caso de uma infecção urinária, são: dor ao urinar, aumento da frequência
Isso pode ser feito de duas formas. Uma delas é por meio de provas bioquímicas, para ir ao banheiro e, eventualmente, febre. “Os pacientes internados em hospitais,
que são testes laboratoriais para caracterizar esses microrganismos, de acordo com mais propensos a ter o fungo, podem não ter sintomas, ou apenas estar colonizados. O
seu metabolismo. O segundo modo é por meio de uma tecnologia de ponta chamada diagnóstico é feito por culturas de monitoramento de infecções hospitalares”, explica
espectrometria, amplamente aplicada na identificação de moléculas em amostras Galoro. Ou seja, o alerta maior é para pacientes vulneráveis e hospitalizados.
biológicas. A maioria das infecções causadas por Candida auris é tratada com um tipo
“Durante esse processo é possível distinguir, por exemplo, a Candida albicans, específico de medicamento antifúngico chamado equinocandinas. No entanto, há
a espécie mais comum, de outros tipos. Não é padrão fazer exame de sangue para casos em que essa infecção é resistente e não responde de maneira favorável, o que
identificar Candida auris, pois ela é encontrada com mais frequência no trato urinário”, torna o tratamento difícil. Portanto, é necessário recorrer à administração de múltiplas
esclarece Galoro. classes de antifúngicos em doses elevadas para combater a infecção.
Pelo exame, o crescimento do microrganismo pode ser constatado em até 48h. Já (11) 4106-4127 / (14) 99125-0362
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