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Opinião
A nova onda: degradação ambiental de oceanos
Outro tipo de poluente do oceano é o esgoto vertido ao mar por muitas cidades do
Prof. Dr. Paulo Cesar Naoum litoral. Quando se usam longos emissários de descarga, a quilômetros das praias, não
Professor Titular pela UNESP há perigo de contaminação do litoral, pois a matéria orgânica é degradada na própria
Diretor da Academia de Ciência e Tecnologia, água, e seus produtos são reciclados naturalmente ao longo do tempo; é evidente que
Acadêmico da ARLC a fauna e flora da região que recebe a descarga fica comprometida. Por outro lado,
a.c.t@terra.com.br descargas de esgoto próximo ao litoral causam poluição de praias, espalham odores
desagradáveis e múltiplos tipos de sujeiras visíveis (plásticos, restos de alimentos
etc.) e invisíveis (microrganismos e metais pesados). Os microrganismos contaminam
Por muitos anos, enquanto pesquisador de doenças de sangue, dediquei-me aos banhistas através da pele, boca, ouvido, anus, órgãos genitais e ferimentos, causando
estudos de poluições industriais relacionados com leucopenias e anemias. Nos anos doenças infectantes. A poluição por metais pesados, como o chumbo e mercúrio,
80, quando analisei rãs e sapos coletados no estuário santista poluído por óleo e metais afetam o sistema nervoso de seres humanos, peixes, baleias e tubarões, principalmente.
pesados emitidos por indústrias de Cubatão, SP, identifiquei alterações microscópicas Há também suspeitas de despejos de produtos químicos por navios de grandes
em células de suas peles, além de enfisema pulmonar, necroses hepática e intestinal, indústrias fora das águas territoriais, onde não há controle e fiscalização. Embora
e aplasia de medula. Estes achados foram comunicados cientificamente, ganharam se saiba que esses resíduos indesejáveis possam ser diluídos na proporção de uma
notoriedade nacional e internacional, e seu impacto político resultou no controle da parte por bilhão de partes de água, eles afetam diretamente a fauna e a flora na região
poluição industrial daquela cidade. em que foram descartados. Neste contexto pode ocorrer deslocamentos dos produtos
Neste artigo comento algo que está acontecendo, e de certa forma negligenciada, tóxicos para o litoral através das correntes marinhas, enquanto que moluscos, peixes e
qual seja: a poluição dos oceanos. outras espécies marinhas podem ser mortas ou afetadas por mutações.
O petróleo é o poluente mais intenso dos oceanos e causa danos irreparáveis em Mais recentemente a degradação ambiental nos oceanos tem sido acentuada por
mar aberto, podendo atingir litorais. Vários acidentes são reportados anualmente e descartes de produtos indesejáveis por um número absurdo de navios de cruzeiros,
outros são omitidos. Eles são causados por navios petroleiros, vazamentos de poços onde milhares de passageiros expelem no mar seus dejetos fecais, urinários e
petrolíferos instalados no mar, e acidentes “inexplicáveis” como o despejo de petróleo alimentares, além de toneladas de plásticos. Embora se saiba que esses navios têm
venezuelano na costa do nordeste brasileiro em 2019. equipamentos para tratamento de excrementos, seu armazenamento é limitado às
Em aves marinhas, o petróleo causa mortandade que superam milhares de pássaros aguas territoriais, e o excedente é expelido em alto mar, onde não há fiscalização.
e extinguem espécies. O suplício da contaminação do petróleo nas aves começa por Conclusão: O Brasil, com 8 mil quilômetros de litoral deveria criar programas
suas penas que ficam encharcadas de óleo, impedindo o voo e a alimentação. Na científicos de avaliação do ambiente oceânico em todas as universidades federais
tentativa de limpar sua plumagem, os pássaros acabam ingerindo o óleo e morrem que estão instaladas nas capitais dos estados banhados pelo Atlântico. Dessa forma a
envenenados. Da mesma forma, morrem algas, moluscos e crustáceos, e o alarme contribuição ao meio ambiente seria efetiva, muito mais que os arroubos políticos de
somente é dado quando o óleo atinge banhistas de praias badaladas. nossos governantes.
Encontro Biociência
8ª edição ENATIH irá reunir Especialista da USP propõe a
especialistas em terapia de criação de um banco de dados
genômicos
implantes hormonais
A partir de setembro a Bahia será palco de um dos mais importantes
encontros médico-científicos do país sobre terapia hormonal, o ENATIH.
Organizado pela Elmeco, o evento está na sua 8ª edição em 2023, e
promete reunir os maiores especialistas da área.
Com o tema “Ciência em Movimento – Sempre à frente do tempo”,
o fórum será realizado entre os dias 28 de setembro a 01 de outubro, no
Tivoli Ecoresort, na Praia do Forte, em Mata de São João e irá contar com O Prof. Dr. Michel Satya Naslavsky, professor do Instituto de Biociências da USP
a presença de cerca 350 médicos e um público estimado em 600 pessoas. e coordenador do Laboratório de Análises Genômicas em Medicina P4 (Lamp4),
afirma que a Medicina P4 (preditiva, preventiva, personalizada e participativa), que
O ENATIH é organizado pela Elmeco, uma farmácia magistral tem como base a Genômica, pode contribuir para a redução dos crescentes custos
fundada pelo Prof. Dr. Elsimar Coutinho, renomado médico e cientista dos sistemas de saúde.
brasileiro, especialista no tratamento de doenças como a miomatose e O Biólogo explica que essa nova vertente da Medicina se vale de testes genéticos
a endometriose, que afetam milhares de mulheres em todo o mundo. O para identificar fatores de risco para o desenvolvimento de doenças e assim preveni-
evento tem como principal objetivo promover a troca de experiência entre las e tratá-las de forma personalizada. Isso é possível porque grande parte das
doenças tem base genética.
profissionais da comunidade científica, bem como apresentar as novidades Os resultados do sequenciamento do genoma de uma pessoa são interpretados
no campo da terapia hormonal. com base em bancos de dados genômicos, que contêm informações que associam o
risco de desenvolvimento de determinadas doenças a mutações genéticas específicas.
O principal obstáculo para o desenvolvimento da Medicina P4 no Brasil é a
inexistência de um grande banco de dados genômicos brasileiro, que reflita o perfil
miscigenado da nossa população.
O Biólogo relata que um teste de genoma humano completo, que custava cerca
de US$ 1 milhão em 2007, hoje está disponível por menos de US$ 1 mil. No Brasil,
há em torno de uma dezena de laboratórios que oferecem os testes. Esses centros
dispõem de sequenciadores com a tecnologia de sequenciamento de nova geração
(NGS, em inglês, next-generation sequencing), que conseguem processar um teste
de genoma humano completo em cerca de uma hora e meia.
O único banco público de dados genômicos brasileiro é o do Centro de Estudos
sobre o Genoma Humano e Células-tronco (CEGH-CEL), laboratório da Profa.
Dra. Mayana Zatz na USP, também Bióloga, onde Michel Naslavsky atua como
pesquisador. Entre 2010 e 2017, o centro sequenciou o genoma completo de cerca
de 1.500 idosos na cidade de São Paulo.
“Não precisamos sequenciar 30 mil pessoas de uma só vez. Podemos fazer
ao longo de 5 a 10 anos, coletando informações de usuários do SUS, pessoas que
comparecem para consultas regulares e seus familiares e acompanhantes”, defende
o Biólogo, que sugere que a compilação das informações fique a cargo do Centro
de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia.
cajueiromarcelo@gmail.com
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