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Artigo

               Lacunas na lei da Política Nacional de Saúde Mental

                                              e o cenário pandêmico


                                                  o  enfrentado  pelo  Brasil,  sendo  certo  falar  que   É razoável prever a intensificação do sofrimento
                                                  a população  brasileira é desvalorizada e não   psíquico  quando  não  há  resultados  em  ações
                                                  assegurada da garantia de um direito de segunda   preventivas  e  sequer  avanços  e  possiblidades
                              José Santana Junior*  geração  conquistado,  ou  melhor,  de  todas  as   de resposta  às  necessidades  em  saúde  mental
                                                  gerações  pois  está  relacionada  à  simbiótica  da   da  população,  notadamente,  a  reforma  do  setor
                                                  pessoa  humana  e aos  direitos sociais:  o  direito à   deveria ser pauta no Congresso Nacional, porém,
                                                  saúde.                                      diariamente é possível perceber que esta não é a
         No  início  do ano  de 2020, a Organização   Isso  porque,  a  lei  10.216/2001,  que  disciplina   preocupação das autoridades.
       Mundial  da Saúde  declarou pandemia  em razão   diretrizes  da Política  Nacional  de  Saúde Mental,   Nota-se,  uma  necessidade  nímia  de
       da disseminação do vírus da Covid-19. A partir de   completou  neste ano  duas  décadas  de regência,   aperfeiçoamento da lei em comento. A pandemia
       então, além da implementação de estruturas aos   contudo, não foi realizada uma reforma na referida   ocasionada pelo coronavírus foi protagonizada por
       sistemas  de saúde  hospitalar,  fez  necessário  a   lei que pudesse consubstanciar os serviços extra-  vivências traumáticas, perdas e lutos e despedidas
       adoção global de medidas de prevenção e controle   hospitalares. Ao que se nota, é possível prever que a   inesperadas,  despertando  uma  profunda  tristeza
       da doença, de modo que a melhor estratégia para   população acometida por transtornos psicológicos   em todos que vivenciaram o período. Não se deve
       barrar o  espalhamento  do  vírus  foi  o  isolamento   ocasionados pelos traumas da pandemia tenha um   aceitar que a legislação se limite a apenas melhorar
       social  que  culminou  na  restrição  de  circulação   período de acompanhamento especializado maior   e tornar mais acessível os serviços de atendimento
       de pessoas,  forçando  impactos  no  cotidiano  da   do que a própria pandemia e aos prejudicados que   especializados à saúde mental.
       sociedade,  no  setor  econômico  financeiro  e  na   desejam reverter a  condição  de prejudicialidade   É,  precisamente  necessário,  ampliar o  campo
       dinâmica política e cultural do país.      da saúde mental socorrem-se do setor privado de   de competência para  atender a  uma  série de
         Com o avanço da pandemia no país e o crescente   saúde,  contudo  levando  em  consideração  que  a   problemas  e necessidades psicossociais  da
       número de mortes, que somam mais de 600 mil, as   economia do pais também experimentou os efeitos   população  sem  deixar  de  considerar  as  nuances
       perdas financeiras e humanas somadas a escassez   da pandemia, mais da metade dos brasileiros não   do período pandêmico,  adotando  medidas
       das relações, implicaram  em uma  afetação  na   possuem  condições  financeiras  de  custear  um   de  intervenção  adequada  para  prevenção  das
       saúde mental de todas as pessoas que vivenciam o   tratamento psicológico.             enfermidades psicossociais e de controle de todos
       período de pandemia, que apesar de preexistentes   É  possível  perceber  que  não  houve  nenhum   que  experimentaram  os  frutos  da  calamidade
       ao  momento  que  se  enfrenta,  os  sintomas  de   financiamento  contumaz,  tampouco  políticas   vivida pelo mundo, de modo que além de prever
       estresse, ansiedade, pânico e depressão acometem   públicas  para  enfrentamento  dos  efeitos  um controle eficaz e serviços de apoio emocional
       estimativa significativa da população.     psicológicos  motivados  pelo  período  pandêmico.   e psicológico, torna-se forçoso que a lei conte com
         Estima-se  que,  de  acordo  com  pesquisas   Vários foram os momentos  de  preocupação  com   a possibilidade de atendimento amplo das pessoas
       realizadas  pela  USP,  cerca  de  63  %  da  população   a  declaração  de uma  pandemia  possível  desde a   afetadas,  além de prever  planos de recuperação
       brasileira apresenta casos de ansiedade e 59 % de   promulgação  da referida  lei, contudo,  nenhum   psicossocial de médio e longo prazo.
       depressão,  o  estudo  apontou  ainda,  que  o  Brasil   planejamento  para cobrir a lacuna  da legislação   O  acesso  à  saúde  é  direito  basilar,  que  deve
       está em primeiro lugar no ranking dos países que   sobre  um  plano  de contingenciamento  para   estar  disponível  a  qualquer  cidadão,  pois  está
       mais sofreram com as restrições, desemprego e o   períodos de catástrofes foi colacionado.  inteiramente  ligado  a  dignidade  da pessoa
       isolamento social durante a pandemia, reforçando   Muito  embora  o  Sistema  Único  de  Saúde   humana e, cumpre ao Estado assegurar que todo
       que  o  cenário  pandêmico  tem  se  mostrado  um   disponibilize  o  acesso  à  atendimento  psicológico   ser  receba  todos  os  cuidados  adequados  para  a
       evento  traumático  para  além  das  pessoas  que  já   através da lei 10.216/2001,  a sua  redação não   prevenção, controle e recuperação dos transtornos
       sofriam com algum histórico de desordem mental.  determina atendimento  em saúde mental  de   psicológicos  e das  vulnerabilidades  psicossociais,
         O acesso  à saúde é um  dos direitos     situações  de pandemia  e, mesmo  com  tantas   que afetam inteiramente todas as relações daquele
       fundamentais  intitulados  na  Constituição  Federal   campanhas  de enfrentamento  da  doença  e  a   que  vive  no  meio  social,  econômico,  cultural  e
       e, sendo negligenciado, viola os direitos humanos.   mobilização  de todos  os canais de veiculação,  as   político.
       Sabe-se que, a atual conjuntura da política do país   atitudes  governamentais  e  o  desfinanciamento
       não  estabeleceu  uma  estratégia de  capacitação   na rede de saúde infere-se que as fragilidades da   *José Santana  Junior  é  advogado especialista
       nacional  para  que  a  população  fosse  amparada   saúde pública  ainda  permanecem enraizadas  na   em Direito Médico e da Saúde e sócio do escritório
       dos  efeitos  de  momentos  catastróficos  como   forma de gestão das autoridades governamentais.  Mariano Santana Sociedade de Advogados


                                                                               Alerta


                                                                           Neurologista alerta para aumento

                                                                                de casos de AVC em jovens

                                                                              Atualmente, uma das principais causas de mortalidade e sequelas no
                                                                           Brasil, segundo o Ministério da Saúde, é o
                                                                           acidente vascular cerebral (AVC), conhecido
                                                                           popularmente  por derrame  cerebral.
                                                                           Estima-se que cerca de 100 mil pessoas por
                                                                           ano venham a óbito por conta da doença.
                                                                           Dados da Central Nacional de Informações
                                                                           do  Registro  Civil,  mostram  que  brasileiros
                                                                           entre 20 e 59 anos representavam 17,2% dos
                                                                           óbitos  por  AVC  em  2019,  índice  que  subiu
                                                                           para 18,5% no ano passado e chega a 20% entre janeiro e outubro de 2021.
                                                                              Mas,  o  que  alerta  muitos  especialistas, a  doença  deixou  de  afetar
                                                                           com maior frequência idosos. Um novo estudo publicado na revista The
                                                                           Lancet revelou que o AVC está afetando cada vez mais pessoas jovens e
                                                                           pessoas de meia-idade. O estudo também levantou a suspeita de que o
                                                                           excesso de trabalho como causador de estresse pode estar relacionado
                                                                           a um maior risco de AVC em jovens.

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