Sociedade Brasileira de Diabetes explica que, agora, devem ser feitos mais estudos sobre a doença, melhorando o diagnóstico e o tratamento
A Federação Internacional de Diabetes (IDF) reconheceu uma nova classificação para diabetes chamada de tipo 5. Na verdade trata-se da renomeação do “diabetes relacionado à desnutrição”, que afeta principalmente adolescentes e jovens adultos magros e desnutridos. É mais comum em países de baixa e média renda, pois está intimamente ligado à desnutrição, sendo mais comum na Índia, Tailândia, Uganda, Etiópia, Nigéria, dentre outros. No Congresso da IDF, o presidente da entidade, Peter Schwarz, anunciou a criação de um grupo de trabalho para desenvolver um diagnóstico formal e diretrizes terapêuticas para a doença nos próximos dois anos. A Sociedade Brasileira de Diabetes está atenta às novidades sobre o diagnóstico e tratamento deste tipo de diabetes e aguarda as diretrizes internacionais relacionadas a ele.
Este tipo de diabetes foi descrito há mais de 70 anos e já foi chamado de diabetes tropical, pois aparecia mais em países tropicais, e diabetes tipo J, porque o primeiro caso foi descrito na Jamaica, em 1955. Essa é uma doença que acomete indivíduos jovens com menos de 30 anos e de muito baixo peso, com IMC abaixo de 18,5-19. Por acometer pessoas jovens e magras, muitas vezes esse tipo é confundido com o diabetes mellitus 1 (DM1), mas há muitas diferenças entre eles.
O DM1 é uma doença autoimune onde os anticorpos da pessoa anulam a capacidade do pâncreas de produzir insulina. Com isso, a reserva de insulina da pessoa se esgota semanas ou meses após o diagnóstico. Já nos casos do diabetes tipo 5, as pessoas provavelmente sofreram uma desnutrição calórico-proteica relevante na vida intrauterina ou na primeira infância, na fase de formação dos órgãos, o que causou uma diminuição das células pancreáticas produtoras de insulina, chamadas de células-beta. Por isso, a secreção de insulina é pequena, mas maior do que no caso do DM1. Outra diferença importante é que no DM1, por não ter nenhuma produção de insulina, a pessoa precisa fazer várias aplicações do hormônio para evitar uma complicação grave, que é quando o organismo produz muita cetona, tornando o sangue ácido, chamada de cetoacidose, que pode até levar à morte. O diabetes tipo 5 não faz a cetoacidose porque o organismo tem uma reserva de insulina, embora ela não seja suficiente para controlar os níveis de açúcar no sangue.
Já em relação ao tipo 2, a diferença é mais óbvia, pois cerca de 90% dos casos estão ligados ao sobrepeso ou obesidade, exatamente o contrário do tipo 5. A resistência à insulina é causada pelo excesso de peso e só costuma aparecer depois dos 35-40 anos de idade.
De acordo com o médico Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes, no Brasil não temos dados de prevalência de diabetes tipo 5. “Talvez existam casos, mas possivelmente estejam rotulados como DM1 por causa da sobreposição de características, como a idade precoce de aparecimento do diabetes e o baixo IMC”, explica. O médico diz, ainda, que os estudos sobre esse tipo de diabetes indicam que é mais comum em homens residentes na zona rural. Por isso, podem até não receber o diagnóstico correto justamente por se tratar de países de baixa renda, onde as pessoas quase não vão ao médico, não recebem o tratamento adequado e ficam com os níveis glicêmicos muito altos, o que favorece o desenvolvimento de complicações crônicas do diabetes, como cegueira, problemas renais, cardíacos e amputações de membros inferiores.
A classificação desse tipo de diabetes é importante para que seus sintomas e causas sejam mais conhecidos, levando a um diagnóstico mais preciso. “Isso também fará com que este tipo de diabetes seja melhor estudado, trazendo maior entendimento sobre a doença e um tratamento mais preciso e específico.” Dr. Fernando lembra que o tratamento desse tipo de diabetes não envolve apenas insulina, mas também um adequado aporte calórico, de proteínas e de micronutrientes.
Fonte:
GBR Comunicação