O diagnóstico precoce de sepse é necessário tanto para ajudar os pacientes como para evitar o uso desnecessário de antimicrobianos. Essa grave doença, resultante da presença de microrganismos patogênicos no sangue ou tecidos e da resposta do organismo ao quadro, pode levar a disfunção orgânica, choque e óbito.
A procalcitonina desempenha um papel fundamental no diagnóstico da sepse, por ser praticamente indetectável no sangue das pessoas saudáveis e aparecer na presença de uma infecção bacteriana.
“A infecção bacteriana leva a um aumento da produção de procalcitonina, enquanto a viral leva a uma diminuição dessa produção”, então podemos usar esse marcador para identificar se “a infecção é mais provavelmente viral ou bacteriana”, disse o Dr. Ryan Maves, médico intensivista e diretor do programa de especialização em doenças infecciosas do Naval Medical Center, nos Estados Unidos.
O uso da procalcitonina como ferramenta de distinção entre a infecção viral e bacteriana, marcador de gravidade da sepse e pista do momento de suspender o uso de antibióticos foi discutido durante um debate no Society of Critical Care Medicine 2020 Critical Care Congress, nos EUA.
Tanto o Dr. Ryan como o Dr. Ricard Ferrer, médico e chefe do Departamento de Medicina Intensiva do Vall d’Hebron Barcelona Hospital Campus, na Espanha, concordam que o nível de procalcitonina no sangue ajuda a determinar quando administrar antibióticos.
“A procalcitonina pode ajudar a diagnosticar a sepse, especialmente em caso de incerteza”, disse o Dr. Ricard. E seu nível pode ser utilizado para determinar a gravidade do paciente; quanto maior o nível de procalcitonina, maior a taxa de mortalidade, ele explicou.
Mas o Dr. Ryan argumentou que a procalcitonina sérica não é o melhor marcador de gravidade.
Diversos outros exames podem ser utilizados para determinar a gravidade de uma doença crítica, como o Sequential Organ Failure Assessment (SOFA), ele disse ao Medscape.
O maior problema é decidir quando suspender o uso do antibiótico, disse o Dr. Ryan.
Administração de antibióticos
Existe uma duração padronizada para a terapia antimicrobiana para diferentes tipos de infecção bacteriana, apontou o Dr. Ryan, mas ela é “tamanho único”.
Diante da pressão para reduzir o uso de antimicrobianos em função do aumento da resistência, deve-se considerar o ajuste do uso dos antibióticos de acordo com o resultado dos exames. O aumento dos níveis de procalcitonina pode ser um sinal de iniciar o uso de antibióticos e a redução pode indicar que o paciente está melhorando e os antibióticos podem ser suspensos.
“O algoritmo para a terapia antimicrobiana orientada pela procalcitonina é, penso eu, o aspecto mais importante”, disse o Dr. Ricard. A estratégia envolve monitoramento periódico dos níveis de procalcitonina em pacientes sendo tratados com antibióticos em vez de utilizar uma duração fixa para o curso do tratamento.
“Estudos mostraram que essa estratégia é segura, pode reduzir o uso de antibióticos e cortar custos, e alguns estudos mostraram que pode levar a uma redução na mortalidade”, ele relatou.
Mas, “se vamos analisar a administração de antimicrobianos”, disse o Dr. Ryan, “eu argumentaria que nossa ênfase deveria ser fazer com que as pessoas adotem esquemas terapêuticos mais curtos, validados por ensaios clínicos, antes de utilizar um exame de sangue para substituir a opinião clínica”.
Existem confusores que também podem elevar os níveis de procalcitonina, ele apontou. Por exemplo, pacientes com lesão renal aguda ou crônica – um problema comum nas unidades de tratamento intensivo – apresentam níveis elevados de procalcitonina porque não conseguem excretá-la de forma apropriada.
E, um paciente com pneumonia viral pode ter uma infecção bacteriana secundária. Não está claro como isso afeta a produção de procalcitonina, ele acrescentou.
Talvez uma combinação de biomarcadores se torne, afinal, um algoritmo clínico funcional . Uma mistura de novos biomarcadores emergentes e a administração de antibióticos guiada pela procalcitonina podem oferecer uma estratégia mais segura e barata para o diagnóstico e prognóstico da sepse.
Society of Critical Care Medicine (SCCM) 2020 Critical Care Congress. Apresentado em 18 de fevereiro de 2020.
Fonte: Procalcitonina usada na sepse com sucesso variável – Medscape – 20 de março de 2020