PROSTATECTOMIA ROBÓTICA: UM INCRÍVEL ROBÔ PRESTANDO ENORME SERVIÇO À MEDICINA

“A cirurgia robótica já é realidade no país. mais de uma centena de robôs já auxilia médicos de diversas especialidades (patologias torácicas, ginecologia, gastro, proctologia, entre outras) pelo país, inclusive pelo SUS, mostrando benefícios com relação a menor sangramento e tempo de internação. “O robô não tem qualquer tipo de autonomia. Sua função é exclusivamente magnificar a visão e dar mais precisão e delicadeza aos movimentos do cirurgião”, explica o Dr. João Paulo Cunha, urologista e mestre pela Divisão de Urologia do HC-FMRP-USP, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, American Urological Association e Endourologycal Society. À LaborNews, além de explicar o funcionamento do método, ele fala sobre os benefícios da reposição hormonal em homens e os tabus que estão sendo quebrados na área da disfunção erétil, outra de suas especialidades” 

LaborNews – A cirurgia robótica já é uma realidade no país? Desde quando ela é utilizada?
Dr. João Paulo – Em 2007, quando fazia um estágio em cirurgia minimamente invasiva no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, embora eles já estivessem realizando cirurgia robótica rotineiramente, a estrela da instituição em cirurgia prostática era o Dr. Bertrand Guillonneau, executando no estado da arte a prostatectomia radical laparoscópica. Em 2008 foi realizada a primeira cirurgia robótica no Brasil. Esta técnica tem sido cada vez mais realizada e hoje existem mais de 110 robôs no Brasil. Estes se concentram principalmente no Sudeste, mas algumas capitais brasileiras ainda não dispõem de robô. Já Ribeirão Preto dispõe de duas
unidades.
LaborNews – Esse procedimento já é acessível para a população? Já é possível acessá-la no SUS?
Dr. João Paulo – Sem dúvidas os dispositivos fazem parte do sistema privado em sua grande maioria, porém algumas unidades encontram-se ligadas ao SUS, principalmente em ambientes universitários. Hoje estes procedimentos não fazem parte do rol de procedimentos da ANS e, portanto, os convênios não cobrem a utilização da técnica. Porém, atualmente, mesmo pacientes com convênio médico optam, muitas vezes, por realizar, arcando com os custos.
LaborNews – Quais são os benefícios da cirurgia robótica em relação às cirurgias tradicionais?
Dr. João Paulo – A cirurgia robótica objetivou em seu princípio o tratamento de patologias torácicas, porém fez grande sucesso com a urologia, nas cirurgias prostáticas. Outras especialidades que utilizam muito a técnica são ginecologia, gastro e proctologia. Um dos fatores que levaram à grande utilização na urologia é o fato da pelve ser um local de espaço reduzido, com várias estruturas contíguas que dificultam a realização de cirurgias laparoscópicas. É muito discutido os benefícios da cirurgia robótica sobre as técnicas convencionais. Alguns estudos mostram benefícios com relação à menor sangramento e tempo de internação.
LaborNews – Qual o papel do robô na realização do procedimento? Ele executa algum passo sozinho?

Dr. João Paulo – O nome correto para a técnica é cirurgia laparoscópica robô assistida e o robô não tem qualquer tipo de autonomia. Sua função é exclusivamente magnificar a visão e dar mais precisão e delicadeza aos movimentos do cirurgião, que fica em um console, na sala cirúrgica, próximo ao paciente anestesiado, com os braços robóticos posicionados pelo cirurgião auxiliar, que fica aparamentado em
campo cirúrgico. Todos os movimentos são realizados pelo cirurgião.
LaborNews – Hoje em dia, quais são as cirurgias que utilizam esse método?
Dr. João Paulo – Uma diversidade cada vez maior de procedimentos tem utilizado a técnica robótica. Teoricamente, todos os procedimentos realizados dentro da cavidade abdominal podem ser executados com o auxílio da plataforma robótica.
Em urologia, cirurgias prostáticas e renais são as mais realizadas. Também são comumente realizados histerectomias e tratamento de endometriose pelos ginecologistas; cirurgia bariátrica e outras cirurgias de intestino delgado e cólon pelos cirurgiões do aparelho digestivo e cirurgias em crianças feitas pelo cirurgião pediátrico, entre outras.
LaborNews – Para utilizar o método, é necessário treinamento?
Dr. João Paulo – Sim, muito treinamento. Quem já tem o treinamento em videolaparoscopia, encontra facilidade para o aprendizado desta técnica. Porém, para quem não tem treinamento em ambas, a curva de aprendizado – quantos procedimentos em média, demora para aprender – para cirurgia robótica, é menor do que a laparoscopia.
LaborNews – A disfunção erétil ainda é um tabu entre nós? Como a ciência
tem ajudado os homens nessa questão?
Dr. João Paulo – Sim, grande tabu e causa de muito sofrimento. Frequentemente pacientes com disfunção erétil de causa orgânica (vascular, hormonal, etc.) desenvolvem transtornos psicológicos que agravam o problema. A ciência colaborou muito na compreensão da fisiopatologia da disfunção erétil. Compreendendo suas causas os tratamentos podem ser mais direcionados e efetivos. Um grande divisor de águas no tratamento da patologia foi o uso de medicações inibidoras das 5-FOSFODIESTERASES, como o sildenafil e a tadalafila, por exemplo, que se tornaram disponíveis e populares há duas décadas.
LaborNews – O exame de próstata ainda é um assunto delicado entre os homens? O que o poder público e a ciência podem fazer para minimizar essa questão?
Dr. João Paulo – O exame da próstata é um assunto delicado entre os homens. Embora muito rápido, é tido como um exame desagradável. Embora seja tema de frequentes discussões em congressos de urologia, sua necessidade é reconhecida
pelas mais importantes sociedades da área. E a sua aceitação tem sido cada vez maior e mais difundida.
LaborNews – A reposição hormonal masculina é indicada para quais tipos de pessoas?
Dr. João Paulo – Geralmente para homens que aparentam sintomas e baixos níveis de testosterona. Vale lembrar que os sintomas são amplos e alguns deles difíceis de discernir de outras patologias, como, por exemplo, a depressão. Existem muitos homens com a necessidade de iniciar a reposição hormonal, bem como temos vários casos de homens usando hormônios sem necessidade ou de forma inadequada.
LaborNews – Existem contraindicações à reposição hormonal? É um método invasivo?
Dr. João Paulo – Sim! As principais contraindicações são câncer de próstata, problemas hepáticos e cardíacos. Jovens com prole não constituída tem sido frequentemente esquecidos por alguns profissionais e também na auto administração abusiva. As formas mais comuns de reposição hormonal são o uso do gel transdermico, injetável ou implantes subcutâneos.
LaborNews – É possível dizer que, no futuro, conseguiremos retardar o processo de envelhecimento e combater doenças com a reposição hormonal?
Dr. João Paulo – É esperado que consigamos retardar o processo de envelhecimento com diversas medidas. A reposição hormonal é uma delas, quando indicado.
De toda forma, o processo de envelhecimento é inexorável. Tão importante quanto postergá-lo é nos prepararmos para atravessá-lo da melhor forma possível. Nós devemos investir em um envelhecimento saudável, com bem-estar e qualidade de vida. Atividade física, controle do peso, alimentação saudável e detecção de patologias em estágio inicial são fatores que fazem muita diferença.