medical equipment, medicine, laboratory-4099428.jpg

A Biomedicina como paixão

Quem conversa com o ribeirão-pretano Luiz Ernesto Paschoalin percebe que está diante de um apaixonado pelo setor de Análises Clínicas. Especialista em Patologia Clínica e Análises Clínicas, com especialização em hematologia laboratorial, Paschoalin, também é professor e conferencista, atua no setor há 40 anos. E durante tanta década foi testemunha do quanto o setor cresceu e desenvolveu para atender com excelência e presteza a altíssima demanda em meio a uma das piores pandemias da humanidade. Aqui nesta entrevista, o “biomédico do ano” reafirma a sua convicção na qualidade dos exames feitos em laboratórios profissionais, o quanto estão acessíveis às pessoas mais pobres e dá um panorama sobre os desafios deste setor tão importante quanto fundamental para o desenvolvimento da humanidade .

César Hernandes

Luiz Ernesto Paschoalin

LaborNews – O setor de Análises Clínicas conseguiu responder às demandas da população durante o epicentro da pandemia da SARS-CoV-2 no Brasil?

Paschoalin – No início, as respostas do setor precisaram acomodar algumas situações, como a falta de material para trabalho, como os kits, e o tempo para adequação dos laboratórios, pois existe pelas autoridades sanitárias um controle de qualidade muito rígido. Recebemos kits e materiais de trabalho do mundo todo exigindo do setor um cuidado muito grande, já que a Vigilância Sanitária exigiu todos os controles. Também precisamos pensar quais materiais deveríamos utilizar, aqueles de melhor qualidade. Experimentamos quase todos os testes do mercado e fazendo com que começássemos a realizar exames pouco menos de dois meses do surgimento da pandemia. A partir de então, começamos a ter a nossa produção, iniciando os processos e realizando todos os exames. No início, tivemos um custo operacional muito alto, pois faltavam máscaras, luvas, insumos em geral, preços em dólar, mas não repassamos para os nossos clientes.

LaborNews – Muitos problemas…

Luiz Ernesto – Uma situação difícil enfrentada foi quando as farmácias começaram a fazer exames. Víamos tendas de teste para a Covid-19 em postos de combustível, em tendas ao lado das bombas de gasolina, e isso causa um problema para as autoridades, pois perdem o controle do número de infectados, uma vez que nem toda pessoa repassa as informações do exame. Reafirmo: os exames precisam ser feitos em laboratório profissionais, com controle de qualidade e de informações às autoridades sanitárias. Também enfrentamos dias, como no laboratório do qual sou proprietário, de atendimento a 700, 800 pessoas, mas felizmente atendemos todos com o envolvimento de muita gente. Destaco também a nossa preocupação em proteger cada colaborador dos laboratórios – nenhum contraiu a doença em seu exercício de trabalho.

LaborNews – É possível dizer que os laboratórios atenderam a demanda mesmo com todas as dificuldades?

Luiz Ernesto – Sem dúvida, e com muito sacrifício. Um ponto importante que elevou os nossos custos foi a briga de mercado, quando as empresas farmacêuticas negociaram todos os testes diretamente com as fábricas. Os laboratórios, sem essa representatividade e a mesma condição econômica, sofreram. Independente desse custo operacional, atendemos todos respeitando os controles de qualidade, o qual não abrimos mão em hipótese alguma.

LaborNews – Você é contra o autoteste para Covid-19?

Luiz Ernesto – Eu não sou contra, e nem discuto a qualidade. Sou a favor de todas as formas que existirem para melhorar a capacidade de testagem, entretanto é preciso saber como as informações desses testes estão sendo repassadas às autoridades. Esse é o meu questionamento. É complexo discutir a qualidade de teste A, B ou C…mas a falta de informações precisas causa um prejuízo tremendo para o país controlar a pandemia.

LaborNews – Quando falamos em exames laboratoriais, ainda pensamos em procedimentos mais caros ou já é possível dizer que as camadas mais pobres da população têm acesso?

Luiz Ernesto – Sim, as camadas mais carentes têm acesso aos exames, não somente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que tem uma boa cobertura, mas também em laboratórios, com preços bastante acessíveis e resultados fantásticos. Por exemplo, hoje o preço do exame de Covid-19 em laboratório é o mesmo de um autoteste de farmácia. E no laboratório o exame é trabalhado por um profissional qualificado, com um rígido controle de qualidade, uso de materiais indicados e a elaboração de um laudo, o qual pode ser feito em inglês para atender quem necessita viajar para o exterior. Todo esse processo por um preço idêntico ao autoteste. E isso é só um exame, mas a grande maioria de testes é disponibilizada por um preço bem acessível à população, e com excelentes resultados. O meu laboratório tem 28 anos, e às vezes me pego lembrando do tempo em que começamos, um trabalho praticamente manual, bem individualizado…

LaborNews – Como evoluiu…

Luiz Ernesto – Evoluiu muito, e eu fico feliz pela qualidade nos exames, diagnósticos e no controle de qualidade. Se existir uma falha, é possível corrigir com tranquilidade, pois há um controle quase individual de cada paciente, dentro da curva. E isso é fantástico! E afirmo: não existem erros laboratoriais! Os erros são em fases pré-analíticas, como o paciente que não segue as regras para os exames, ou aquele que praticou alguma atividade física excessiva. São questões alheias ao laboratório e dificilmente existirá o erro, pois temos controle de todas as situações: do ar, que está dentro; da água, que passa por vários filtros até chegar ao aparelho do exame, além do controle das autoridades sanitárias. E o melhor: acessível a todos.

LaborNews – Quais são os desafios e o atual cenário do setor de Análises Clínicas no país? Existem avanços tecnológicos?

Luiz Ernesto – A área teve uma evolução tecnológica enorme. Hoje, em muito pouco tempo, temos respostas, e de qualidade, para novos exames. A cada dia enfrentamos novos parâmetros, mas é uma área de muita evolução o tempo todo. Por exemplo, mapeamos todos os processos, da chegada do paciente ao laboratório até a sua ida para casa e o seu comportamento no pós-exame. Não estamos só preocupados com o resultado em si do exame, mas com toda a qualidade do processo. Portanto, eu percebo uma evolução constante e não tem como retroceder. Entretanto, é necessário dizer o surgimento de várias situações complexas, como os Point Of Cares Testing (POCT), pontos de farmácias realizando exames, um processo que ainda precisa ser muito discutido, tanto na legislação a qual pode ser criada quanto realizá-lo em ambiente “não laboratorial”, mas com o compromisso de qualidade junto a laboratório. Ou seja, o que a tecnologia trouxe de problemas para o mercado, ela também se incumbirá de resolver depois.  

LaborNews – O que é o Lab Rede? Como é a sua atuação?

Luiz Ernesto – É o meu segundo mandato no Conselho de Administração; no mandato anterior fui o vice-presidente e estou ao lado de cinco colegas – Isadora Bittar Floriani, presidente; Ênio Gualberto Rocha, vice-presidente; Roberto Joji Chiba Kimura e Sérgio Leal Bagno. O Lab Rede foi criado para suprir qualidade e logística a um preço melhor aos laboratórios. Os do interior possuem dificuldades na realização de exames, não pela capacidade técnica, mas por não possuir um volume necessário para chegar a um preço acessível ao seu cliente. E os laboratórios de apoio traziam esses exames, gerando problemas de valores e de logística, pois os resultados demoravam muito a chegar. Isso levou um grupo de laboratórios (hoje são 240) criar o Lab Rede para ser uma rede de apoio entre laboratórios.

LaborNews – E quais são as características?

Luiz Ernesto – Quando da sua fundação, a exigência do laboratório para fazer parte do Lab Rede era ter um controle de qualidade rígido – controle externo. O intuito é, acima de tudo, a qualidade dos resultados dos exames, dos diagnósticos e a segurança para o cliente. Hoje é um laboratório que faz aproximadamente 600 mil exames/mês, mesmo não sendo laboratório de apoio. O Lab Rede possui um parque técnico muito bom, com qualidade, velocidade e logística. Conta com um grupo de pessoas que estuda o tempo todo: são assessores contratados, biomédicos, bioquímicos e médicos que apresentam trabalhos para todos os congressos da área, realizam palestras e dão um suporte técnico científico muito bom gerando muita velocidade nas informações.

LaborNews – E está em todo o Brasil?

Luiz Ernesto – Não. Nós temos uma unidade em Belo Horizonte, local do nosso laboratório central (NTO).

LaborNews – O senhor foi considerado o Biomédico do Ano no XVII Congresso Brasileiro de Biomedicina. O que isso significa?

Luiz Ernesto – Estou muito feliz pela indicação pelos serviços prestados dentro da Biomedicina, do setor de Análises Clínicas. Possuo laboratório há 28 anos, mas sou formado desde 1982. Ao longo desses 40 anos trabalhamos de 12 a 15 horas por dia em uma rotina profissional muito gratificante, mas, acima de tudo, não é uma homenagem apenas para mim, mas também para os meus 22 colaboradores que participaram ativamente ao longo dos anos. Muitos estão ao meu lado desde o início e alguns trabalharam comigo em outros laboratórios. Eu tenho uma equipe a qual me dá um respaldo técnico e profissional muito bom, com qualidade de atendimento e de resultados. Disse a eles que a homenagem pertence a todos, pois são igualmente importantes. Fiquei muito grato e emocionado também pelo encontro com vários colegas os quais não via há muito tempo. Foram quatro anos totalmente ausente, com uma luta muito intensa diante da pandemia e trabalhando muito. Aristóteles dizia: “o importante não é receber homenagens, mas merecê-las”. Não sei se a mereço, mas fiquei muito emocionado e grato pelo reconhecimento.

LaborNews – Como é a formação acadêmica do setor? O Brasil é referência?Luiz Ernesto – O Brasil é uma referência na área de Biomedicina. As faculdades têm uma excelente grade curricular, mas a escolha pela área de Análises Clínicas tem sido cada vez menor. Hoje há uma forte tendência para as áreas de estética, mesmo com os nossos trabalhos para trazer mais profissionais para Análises Clínicas, pois quem entra na nossa área não sai mais, uma vez que é muito apaixonante trabalhar com diagnóstico, ajudando as pessoas em suas questões de saúde. Mas para entrar na nossa área é preciso estudar todos os dias, pois ela evolui muito; hoje você tem acesso aos trabalhos publicados no mundo todo, imediatamente, traduzidos. São informações necessárias que chegam com muita velocidade e poder levar para o nosso cliente aqui em nossa cidade, como Presidente Prudente, com a mesma qualidade técnica existente em todo centro do Brasil e do mundo, é muito gratificante.