No ambiente atual, apesar de os recursos destinados a serviços de saúde serem limitados, todos os que recebem ou fornecem estes serviços presumem que eles sejam de alta qualidade. Entretanto, para deleite de alguns e consternação de outros, há inúmeras citações divulgadas na mídia que permitem questionar a verdadeira qualidade dos serviços de saúde hoje oferecidos.
Os casos relatados em jornais e televisões sobre prejuízos catastróficos ocorridos em consequência de ações ou omissões de profissionais de saúde enfocam o problema dos erros em sistemas de saúde (muitas vezes tratado de forma inapropriada como “erro médico”), mas não oferecem uma boa visão sobre sua natureza ou magnitude.
Embora pesquisadores publiquem regularmente estudos sobre erros em sistemas de saúde, informações epidemiologicamente adequadas limitam-se a poucas instituições, procedimentos e especialidades. Por estas razões, a prevalência e a magnitude desses incidentes ainda são completamente conhecidas. Não se conhecem estudos que apontem que a assistência médica possa ser fornecida sem erro. Não há situação livre de risco e nenhuma especialidade está imune, deixando os pacientes em risco, independentemente de sua idade, sexo ou condição de saúde. Mas, estranhamente, alguns consideram que não há lugar para erros na medicina moderna. Embora sempre seja dito que os médicos “são apenas humanos”, as maravilhas tecnológicas têm realmente criado uma expectativa de perfeição. Mas, não se pode esquecer que, inevitavelmente, introduzirão consigo novas formas de erros.
Os questionamentos chegam, frequentemente, à área de laboratórios clínicos, com consequências desastrosas para a imagem e credibilidade do setor, embora os métodos utilizados para a avaliação da qualidade dos serviços laboratoriais sejam impróprios e questionáveis.
O debate sobre erro em sistemas de saúde e a segurança dos pacientes se acendeu em nível internacional, com a publicação, em 1999, de um relatório do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Medicina, nos Estados Unidos da América, intitulado “To Err is Human“ (“Errar é Humano”). Ele estima que entre 44 mil e 98 mil mortes por ano nos Estados Unidos da América, sejam consequência de erros cometidos durante a busca de cuidado em saúde.
O relatório clama por mais tentativas para prevenir danos causados pela assistência médica. Entretanto, as soluções como, por exemplo, sistemas de informática destinados a esta prevenção, são caras para se construir e manter, e as seguradoras, assim como outros compradores de serviços, não parecem estar dispostos a pagar pela despesa extra, tornando difícil conseguirem-se recursos suficientes para inovações em segurança, mesmo que uma análise dos investimentos demonstre que há retorno a longo prazo. Prevenir eventos danosos requer criatividade, comprometimento e recursos financeiros.
Considera-se que, atualmente, as lideranças médicas e as organizações de assistência médica não têm incluído entre suas prioridades a redução dos erros. Mas há urgência que tais análises sobre a relação entre os erros e resultados adversos sejam realizadas e utilizadas, de modo a permitir que as estruturas organizacionais sejam redesenhadas, minimizando o impacto do fator humano na assistência à saúde. Na verdade, nenhuma indústria de risco adquiriu segurança sem uma pressão externa substancial. Na área da saúde, tradicionalmente, muitos dados são produzidos, mas pouca informação é gerada, pois os dados não são analisados nem utilizados para se obter a melhoria dos processos.
Observa-se que a comunidade em geral espera que os procedimentos utilizados para cuidar de seus problemas de saúde sejam modernos, eficazes e que sejam executados por indivíduos qualificados. Assim, o público pode receber garantias optando pela utilização de serviços de saúde Acreditados ou Certificados. Como as exigências de consumidores e compradores de serviços está aumentando, a demanda por padronização e comparabilidade entre organizações e serviços oferecidos à comunidade está se tornando assunto inadiável, também na área da saúde.A prática da medicina laboratorial (análises clínicas) deve ser vista neste contexto de mudanças. O diretor de um laboratório, quer seja um patologista, hematologista, microbiologista, bioquímico etc., necessita adquirir conhecimentos que proporcionem um trabalho de alta qualidade, que maximize a eficiência e eficácia neste mundo de novas demandas.