A pandemia da Covid-19 trouxe uma mudança profunda e duradoura (quiçá eterna) em diferentes aspectos da vida global e isso inclui a saúde metabólica da população. Estudos que foram conduzidos de 2020 para cá revelam que os anos mais intensos da pandemia – entre 2020 e 2022 – resultaram em alterações consideráveis no metabolismo das pessoas, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças metabólicas.
Dra Marcela Rassi, médica endocrinologista e professora da Pós Graduação de Endocrinologia da Sanar e Afyafala sobre o tema: “A pandemia nos mostrou o quanto a saúde metabólica deve ser levada em consideração primária no bem-estar geral do paciente. Como endocrinologista eu já sabia de sua importância, mas a população passou a ter essa consciência depois de ver aumentando o número de pessoas que desenvolveram doenças metabólicas, como diabetes e obesidade, por exemplo. O nosso trabalho agora é apoiar a população na recuperação de hábitos saudáveis para mudar as estatísticas crescentes de diagnósticos diretamente impactados pelo estilo de vida ”.
Durante o período de confinamento observou-se uma mudança radical no estilo de vida da população em geral. Em casa, as pessoas diminuíram (ou pararam completamente) a prática de exercícios físicos, a qualidade da alimentação piorou e o estresse pelo momento e pela incerteza do cenário mundial cresceram em velocidade impressionante. “Todas as mudanças que acompanharam o isolamento social – um verdadeiro confinamento nos primeiros meses de pandemia – contribuíram para o aumento do sedentarismo (muitos abandonaram completamente a prática esportiva e passaram a ficar muito tempo sentados em frente à TV), para a piora da qualidade alimentar (especialmente industrializados e ultraprocessados já que muitos fizeram “estoque” de alimentos prevendo um cenário de caos em mercados e os alimentos que podemos estocar são justamente os cheios de aditivos químicos que prejudicam a saúde) e até aumento de casos de obesidade. Esses são fatores altos de risco para diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Estudos mostraram que, de fato, esses diagnósticos cresceram assustadoramente nos últimos anos”, diz Marcela.
E não somente as mudanças físicas, a fragilidade da saúde mental provocada não só pelo cenário pandêmico, mas pelo próprio confinamento fez intensificar o nível de estresse no organismo e, como é sabido, o estresse crônico, causado pelas preocupações com a saúde e a instabilidade financeira, eleva os níveis de cortisol que, em excesso, pode levar ao acúmulo de gordura abdominal e resistência à insulina.
“Mesmo em 2024, com a Covid-19 sendo considerada não mais uma doença pandêmica, vemos os seus impactos na população. Muitas pessoas ainda se recuperam financeiramente dos prejuízos trazidos pelos anos anteriores e isso se reflete na qualidade da alimentação. Para uma parte grande da população, o acesso a alimentos naturais e saudáveis não é uma realidade tão próxima. Precisamos unir esforços não só dos profissionais da saúde, mas dos governos municipais, estaduais e federal para a promoção da saúde. A população precisa de ajuda na retomada de seus bons hábitos e isso deve ser uma preocupação de todos”, finaliza a médica.