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Opinião
Maria de Lourdes Pires Nascimento, MD
Hematologista, Universidade Federal da Bahia / UFBA
mlpnascimento@uol.com.br
Raça e racismo - texto 6
(Tópicos retirados do Livro Raça / Racismo: Relações com Doença Falciforme e Talassemia)
É necessária a categorizaçao racial na área de saúde?
A Categorização ou Classificação Racial com os seguintes argumentos: f) No Brasil, não existe nenhum grupo humano
geralmente é um dos itens das fichas de identificação a) Ausência da evidência científica, tanto que seja Racialmente Puro, pois as populações
na área de saúde. Entretanto nem todos os antropológica como genética, de que Raça seja brasileiras contemporâneas são o resultado de um
profissionais da Área de Saúde, concordam. Alves uma característica biológica. A variação genética longo processo de miscigenação que vem variando, e
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refere vários artigos científicos em que alguns autores no interior de uma população pode ser maior do se ampliando, com o passar dos tempos. A união entre
possuem argumentos a favor e outros que são contra que a variação genética que distingue populações imigrantes europeus e brasileiros apenas alterou o
a Categorização Racial na Área de Saúde. diferentes (8, 9, 10, 11) . Fenótipo, porque a População Brasileira já teve desde
A Favor da Classificação Racial em Medicina, os b) Ausência de associações entre as classificações o início um Fenótipo Mestiço e continua ampliando o
principais argumentos utilizados para defender esta raciais baseadas em traços físicos e marcadores Fenótipo Mestiço (16) .
existência são: biológicos de doenças ou efeitos terapêuticos de
Referências
a) As diferenças raciais continuam a ser medicamentos. A aparência física é determinada por
1) Alves C, Fortuna CMM, Toralles MBP. A Aplicação e o Conceito de Raça em Saúde
importantes para a investigação de fatores não um pequeno número de genes, sendo o resultado de Pública: definições, Controvérsias e Sugestões para Uniformizar sua Utilização nas
pesquisas Biomédicas e na Prática Clínica. Gaz. Med. Bahia. 75:1 (Jan-Jun): 92-115,
genéticos de doenças, uma vez que estão amplamente adaptações a determinadas condições geográficas. 2005.
reconhecidas às diferenças em relação à qualidade Não é possível se associar traços físicos a um 2) Ahdieh L, Hahn RA. Use of terms “race”, “ethnicity” and “national origins”: a re-
view of articles in the American. Journal of Public Health, 1980-1989. Ethn Health
de vida, riscos de adquirir determinadas doenças, significado biológico (12, 13) . 1: 95-98, 1996.
3) Jones CP, LaVeist TA, Lillie-Blanton M. “Race” in the epidemiologic literature: an
resposta a tratamentos e acesso a serviços de saúde c) Raça é mais uma maneira de classificar
examination of the American Journal of Epidemiology, 1921-1990. Am J Epidemiol
entre grupos populacionais distintos como resultado humanos com base em conceitos sociais, políticos, 134: 1079-1084, 1991.
4) Kaufman JS, Cooper RS. Considerations for use of racial / ethnic classification in
da estratificação social. Até 1994, existiram cerca étnicos, mutantes e geralmente mantidos por uma etiologic research. Am J Epidemiol. 154: 291-298, 2001.
de 2.500 artigos científicos que eram indexados em ideologia racial (13) . 5) McKenzie KJ, Crowcroft NS (Editorial). Race, ethnicity, culture and science. BMJ
309: 286-287, 1994.
Medline usando classificações raciais ou étnicas (2, 3, 4, 5) . d) Independente da classificação racial utilizada, 6) Burchard EG, Ziv E, Coyle N, et al. The importance of race and ethnic background
in biomedical and clinical practice. N Engl J Med 348: 1170-1175, 2003.
b) O uso de raça e ou/etnia é importante em a miscigenação facilitada pela quebra de barreiras 7) Rathore SS, Krumholz HM. Differences, disparities, and biases: clarifying racial
estudos para avaliar alocação de recursos de saúde geográficas e culturais irá diluir cada vez mais as variations in health care use. Ann Intern Med, 141: 635-638, 2004.
8) Bamshad MJ, Wooding S, Watkins WS, et al. Human population genetic structure
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para grupos populacionais menos favorecidos . possíveis diferenças atribuídas as raças . and inference of group membership. Am J Hum Genet. 72: 578-589, 2003.
9) Barbujani G, Maganini A, Minch E, Cavalli-Sforza LL. An apportionment of human
c) O conhecimento da ancestralidade pode e) Alguns autores têm proposto a exclusão da
DNA diversity. Proc Nat Acad Sci (USA). 94: 4516-419, 1997.
facilitar o teste diagnóstico para mutações específicas classificação racial e ou étnica das pesquisas médicas, 10) Lewontin RC. The apportionment of human diversity. Evol Biol. 6: 381-392,
1972.
que são mais prevalentes em determinados grupos, e alegando que além da falta de base genética para o 11) Long JC, Kittles RA. Human genetic diversity and the nonexistence of biological
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deste modo facilitar o diagnóstico e o tratamento . uso destas classificações, elas servem apenas para races. Human Biology 75: 449-471, 2003.
12) Angier N. Do races differ? Not really, genes show. New York Times. August 22,
d) O uso de categorias raciais minimizaria, de perpetuar discriminação, preconceito, marginalização f1, 2000.
13) Parra FC, Amado RC, Lambertucci JR, et al. Color and genomic ancestry in Brazi-
forma democrática, as diferenças na alocação de e subjugação. Para estes pesquisadores a classificação
lians. Proc Nat Avad Sci (USA). 100: 177-182, 2003.
recursos, política e uso de serviços de saúde com um racial somente teria indicação quando para estudar 14) Collins FS. What we do and don’t know about ‘race’, ‘ethnicity’, genetics and heal-
th at the dawn of genome era. Nat Genet. 36 (11 Suppl): S13-15, 2004.
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tratamento igual baseado em necessidades iguais . o impacto do Racismo ou quando para estudar a 15) Royal CF, Dunston GM. Changing the paradigm from “race” to human genome
Contra a Classificação Racial em Medicina, os desvantagem cultural e social no acesso e uso de variation. Nat Genet. 36 (11 Suppl): S5-7, 2004.
16) IBGE / Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por
autores defendem o abandono desta classificação, serviços de saúde (14, 15) . Amostra de Domicílios. 27: 1-125, 2006.
KELLY CASIMIRO
É Psicóloga, fez carreira em RH de empresas da área da saúde.
Atualmente é sócia da Desenvolvere Assessoria, empresa especializada
em desenvolvimento humano na área da saúde.
Kelly.casimiro@desenvolvereassessoria.com.br
Liderança e o uso da Empatia como ferramenta estratégica
Em tempos de isolamento social, home office seja, é entender qual a expectativa que o outro Saber fazer uso da empatia é outro fator que
e pandemia, o profissional que sabe usar da tem em relação a nós. E isso tem tudo a ver com auxilia a gestão remota, ou seja, o acesso a equipe
empatia para obter resultados é, com certeza, Liderança. é mais tranquilo, uma vez que todos sabem que
Líder. Na prática isso parece bem fácil, todavia, como essa relação é autêntica e baseada em confiança.
A empatia se define como a capacidade de ser empático e ainda obter os resultados que a Aliás, falando em empatia e confiança, como
se colocar no lugar do outro e assim tentar organização necessita? você enxerga essa situação na sua empresa? Se
compreender seu sentimento. Tem sido bastante A empatia vai além de se colocar no lugar do perguntarmos aos colaboradores qual o índice de
estudada ao longo dos anos pela Psicologia e outro, ela envolve uma preocupação genuína com empatia dos líderes, que nota eles dariam – de 0
atualmente é alvo de estudos e ações nas empresas as pessoas. É se colocar à disposição para fazê- a 10? E você, qual nota você se daria? Esse tipo
mundo a fora. las se sentirem melhor, seja com relação aos seus de questionamento pode ser feito via Pesquisa de
Daniel Goleman, autor da teoria da Inteligência sentimentos ou outros aspectos. É justamente aí Clima Interno – sua empresa já fez isso?
Emocional, divide a empatia em três pilares. que a empatia tem papel primordial no exercício O fato é que nessas respostas, os números nunca
1) Empatia Cognitiva: utilizada para da liderança. batem! E pela minha experiência, as empresas
compreender a perspectiva do outro e pensar Conhecer o perfil de cada colaborador, sua precisam sim, trabalhar a empatia de modo
sobre seus sentimentos. É saber utilizar-se do realidade e até membros de sua família, faz muita estratégico e sincero. Não só por esse motivo, mas
autoconhecimento para compreender o ponto de diferença no dia a dia. É com o interesse genuíno, também por ele, como estará sua empresa depois
vista do outro; exercício constante da comunicação e uso da dessa pandemia? Com certeza será preciso usar
2) Empatia Emocional: sentir o sentimento empatia que os laços emocionais são de muita empatia para se colocar no lugar de cada
da outra pessoa, porém, sem se aprofundar. Aqui criados e fortalecidos e com isso, a relação pessoa para ajustar tarefas, entregas, metas e até
pode-se observar a linguagem não verbal para de confiança é estabelecida. Com essa relação mesmo a relação interpessoal.
melhor entender esse sentimento; estabelecida, o “cobrar resultados” se torna Para você, Líder, que sabe usar desse precioso
3) Preocupação Empática: interpretar e algo comum, como sendo apenas uma etapa da recurso, fica aqui meus Parabéns! Se você ainda
entender como o outro precisa de ajuda, ou relação de trabalho. não sabe como fazer – fica aqui o convite!
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