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Entrevista Exclusiva                                                                                         Por Andrea Penna




                            Flávia Martinello

                            • Graduada e Mestre em Farmácia-Análises Clínicas pela Universidade Federal de Santa Catarina em Farmácia;
                            • Doutora em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de São Paulo;
                            • Pós-doutora em Análises Clínicas pela Universidade de Liubliana-Eslovênia;
                            • Professora da Universidade Federal de Santa Catarina, desde 2007, onde atua em Biossegurança e Gestão da Qualidade em Análises Clínicas.




                          A Biossegurança e o Laboratório na Pandemia


                No SBAC DIGITAL, a Profa. Dra. Flávia Martinello analisou vários aspectos sobre a segurança nos laboratórios durante a pandemia,
                         apresentou dados e tirou dúvidas dos internautas. O SBAC DIGITAL recomeça em setembro com outras palestras.
        Veja abaixo o resumo da palestra e assista a Profa. Dra. Flávia Martinello em vídeo exclusivo para a Labornews (assista em: www.youtube.com/watch?v=_lyp4i4qxGQ).

         Flávia Martinello iniciou fazendo um  balanço
      do período, quando, na  emergência do novo
      coronavírus,  (SARS-CoV-2),  "os  laboratórios
      necessitaram se adequar, na mesma velocidade da
      pandemia, para atender com segurança à crescente
      demanda pelos testes  diagnósticos.  Devido  à
      alta  transmissibilidade  da COVID-19,  a  equipe
      do laboratório  enfrenta  incertezas e receio de
      contrair a doença”. Ela discorreu sobre as práticas
      de biossegurança e acentuou que essas dependem
      da avaliação de risco de cada laboratório.
         Para os níveis  de biossegurança,  no caso do
      SARS-CoV-2, Flávia Martinello  explicou que os
      "testes  laboratoriais  de  rotina, manipulação  de
      vírus  lisados,  fixados,  partes  não  infecciosas  do
      genoma, embalo de amostras biológicas e outras
      atividades  não-propagativas  (por  exemplo,   Para  a  higienização  do laboratório,  Flávia   suspeitos ou confirmados com infecção por SARS-
      sequenciamento,  teste  de  amplificação  de  ácidos   Martinello  esclareceu que  "o SARS-CoV-2   CoV-2, deve ser  individual e possuir  sistema
      nucleicos) requerem NB2 e processados em cabine   pode permanecer viável  por horas e até dias   de  exaustão de  ar. "Se não for  possível, manter
      se segurança  biológica utilizando as precauções   em  determinadas  superfícies,  dependendo  do   o ambiente bem  ventilado,  e após  a  coleta,  é
      padrão”. Ela  explicou ainda, que "as atividades   tipo de material”, e que a limpeza de objetos   fundamental  desinfetar  as  superfícies  e  deixar  o
      consideradas propagativas, como culturas virais,   e  superfícies,  seguida  de  desinfecção,  são   ambiente vago por 30 minutos. Durante a coleta,
      isolamento viral ou testes de neutralização devem   recomendadas para a prevenção da COVID-19 em   evitar a entrada e saída de outras pessoas na sala.
      ser  realizadas  em um laboratório  de  contenção   ambientes comunitários. Ela  abordou também  a   Ela  enfatizou que praticamente quase todas
      com fluxo de ar direcional (pressão negativa de ar)   descontaminação, como o processo  que remove   as atividades laboratoriais geram aerossóis como
      equivalente a NB3.                          ou elimina totalmente os microrganismos e   abertura manual de  tubos, pipetagem,  agitação
         Sobre as barreiras de contenção, ela enfatizou a   aprofundou técnicas e substancias para limpeza,   em vórtex,  extração  e centrifugação.  E  que “
      importância, qualidade e uso dos Equipamentos de   desinfecção e esterilização (veja no vídeo).  idealmente, o processamento inicial  (antes da
      Proteção Individual (EPIs): "para ser considerado   Ainda sobre a Higienização do laboratório, ela   inativação) de todas as amostras, inclusive aquelas
      EPI, o dispositivo deve ter o Certificado de Aprovação   detalhou que os processos de descontaminação de   para  sequenciamento  e  amplificação,  devem
      (CA) expedido pelo  órgão nacional competente   bancadas de trabalho, instrumentos e superfícies   ocorrer  em uma  CSB classe II validada".  E se  a
      para que se possa responsabilizar legalmente o   frequentemente tocadas no laboratório  como   amostra for aberta fora da CSB, usar máscara N95”.
      fabricante, caso este apresente alguma falha. A   maçanetas,  refrigeradores, freezers,  telefones,   Ela ainda recomenda que "as amostras sejam
      eficácia  dos  EPI  depende  do  manuseio  adequado,   telas sensíveis  ao toque, teclados,  mouse, etc.   colocadas a 56° C por 30 minutos para inativar o
      treinamento  para  colocação  e  retirada,  prática  de   devem ser realizada no mínimo 1 vez ao dia, sendo   vírus antes de abrir o recipiente da amostra, que as
      higiene das mãos e comportamento humano, o   que na pandemia, deve ser mais frequente, a cada   amostras submetidas à extração ou inativação de
      qual pode representar um risco até maior do que o   3  h  ou quando houver  qualquer  derramamento.   ácido nucleico na CSB podem ser manuseadas fora
      próprio agente biológico”.                  E para  limpeza, o correto é o uso de Álcool 70%,   da CSB,  e que Todos  os procedimentos técnicos
                                                  glutaraldeído a  2% ou hipoclorito de sódio  com   devem ser  realizados  de  modo  a minimizar  a
                                                  concentração de cloro 0,05% (500 ppm).      geração de  aerossóis  e gotículas,  principalmente
                                                     Como medidas de biossegurança ela sugere:   com a utilização de centrífugas”.
                                                  distanciamento  social  dentro  do  laboratório,
                                                  separar  os  profissionais  em  2  equipes  (escala
                                                  de trabalho de 12 X 36 hs, estações de trabalho
                                                  espaçadas, a equipe que avalia/valida os resultados,
                                                  que avalia o controle da qualidade ou realiza tarefas
                                                  mais administrativas devem ser removidas do
                                                  espaço do laboratório e fazer o trabalho em um
                                                  espaço de escritório ou remotamente, escalonar o
                                                  uso dos espaços de refeição, atentar para a educação
                                                  continuada e treinamentos realizados de forma
                                                  remota, não esquecer da política de imunização
                                                  contra a gripe. Ela ainda recomenda manter as
                                                  janelas e portas de acesso sempre abertas. “Caso
                                                  seja  necessário  permanecer  com  ar-condicionado
                                                  ligado, deve-se ter atenção especial à limpeza dos
                                                  filtros e ao direcionamento do fluxo de ar. Quando   Nas  considerações  finais  ela  concluiu  que  “a
                                                                                              pandemia trouxe à tona boas práticas clássicas que
                                                  necessário o uso de crachás para acesso, orientar os
                                                  colaboradores sobre a higienização destes e sobre   estavam esquecidas não só pela população em geral,
                                                                                              mas  também  pelos  profissionais  de  laboratório,
                                                  o não uso de cordões; Tornar de uso individual
                                                  objetos como caneta, lápis, calendário, etc”.  como a higienização das mãos, a etiqueta
                                                     Biossegurança na fase pré-analítica      respiratória e a forma correta de paramentação e
                                                     A biossegurança na fase pré-analítica mereceu   desparamentação dos EPIs”, e que “a capacidade
                                                                                              resiliente dos  laboratórios e  a  adoção  das  boas
                                                  especial capítulo na palestra. Ela discorreu sobre
                                                  os cuidados na coleta de amostras, quando o local   práticas que foram destacadas aqui poderão
                                                                                              minimizar o risco de infecção por SARS- CoV-2 entre
                                                  de coleta  de amostras de pacientes clinicamente
                                                                                              os profissionais dos laboratórios clínicos”.
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