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Opinião
Maria de Lourdes Pires Nascimento, MD
Hematologista, Universidade Federal da Bahia / UFBA
mlpnascimento@uol.com.br
Raça e racismo - texto 4
(Tópicos retirados do Livro: Raça / Racismo: Relações com Doença Falciforme e Talassemia)
Como surgiu o racismo...e no Brasil?
No final do século XV e início do XVI, a na escravidão, que foi a “anulação dos valores da haver, negam ter, mas demonstram, em sua
Europa estava no seu apogeu, como “dona cultura negra”, feita pelos colonizadores com o imensa maioria, preconceito contra negros”.
dos mares e do dinheiro. O homem branco objetivo de legitimar a dominação. Entre 1550 a Rodrigues (14) denomina este fenômeno de
estava no pedestal, sendo o senhor do mundo”. 1850, foram deportados para o Brasil mais de 4 “Racismo Cordial”, afirmando que esta atitude
Imbuídos dessa ideologia, os conquistadores milhões de africanos. A força do racismo fez com seria uma maneira de não ofender mais aqueles
europeus – especificamente espanhóis e que a escravidão dominasse a história do Brasil que se discrimina.
portugueses – iniciaram a colonização da por mais de três séculos, sendo este o último Referências
América recém descoberta, implementando país, no mundo, a abolir a escravidão através 1) Globineau JA. Moral and intellectual diversity of races. J.B. Li-
ppincott & Co, Philadelphia, p.337-338, 1856.
um sistema produtivo baseado na mão-de-obra da Lei n0 851 de Eusébio de Queiroz, com data
2) Carvalho FM. O delírio racista. Folha de São Paulo, São Paulo, 23
escrava. Assim, as populações indígenas foram de 4 de setembro de 1850. Após a lei, a classe dez. 1984. Folhetim, n.414
escravizadas e exterminadas, o que resultou na dominante brasileira optou pela imigração de 3) Davidoff C. Bandeirantismo: verso e reverso, (Coleção Tudo é
História, 47), 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
diminuição da mão de obra escrava indígena, e europeus brancos, com o intuito de “branquear” 4) Freitas D. Raízes históricas do racismo brasileiro, D.O. Leitura,
para substituí-la, os europeus voltaram os olhos o país porque através da miscigenação poderia São Paulo, v.4 (42): 12-13, 1985.
5) Kalckmann S, Santos CG, Batista LE, et al. Racismo institucional:
para a África, dando início à escravidão negra. trazer “elementos étnicos superiores”. Mesmo
um desafio para a equidade no SUS? Saúde Soc São Paulo. 16 (2):
Os governantes, intelectuais da época com o após a lei, a raça negra ficou condenada a 146-155, 2007.
beneplácito da Igreja Católica, que comungavam exclusão e discriminação, pois a ideologia racista 6) Sivanandan A. Los pobres son los nuevos negros. La Fogata
Digital, Buenos Aires, sep. 2002. Disponível em: www.lafogata.
o ideário de superioridade dos brancos europeus permaneceu e assim pode-se concluir que foi org/02inter/09internacional/pobres,htm
sobre os demais povos, fundamentaram o racismo “a escravidão quem inicialmente construiu o Acesso em 10 de agosto de 2005.
7) MPF. Brasil / Ministério Público Federal, Lei n0 581, de 4 de
antinegro, ao afirmar que: “Não se pode admitir Brasil”. A substituição da mão-de-obra escrava setembro de 1850. Lei Eusébio de Queirós. Estabelece medidas
a ideia de que Deus, que é um ser infinitamente significou a redefinição do lugar do negro na para a repressão do tráfico de africanos neste império. Disponível
em: www.prr1.mpf.gov.br/nucleos/nucleo_criminal
sábio, tenha colocado, sobretudo uma alma boa, sociedade: “de escravo a marginal”, e assim
Acesso em 16 / março / 2007.
em um corpo completamente negro”. Assim surgiu o “racismo de exclusão”, significando que 8) Alencastro LF. As populações africanas no Brasil. Texto redigido
surgiu o Racismo Antinegro, que condenava além os negros livres não serviam para trabalhar. A para o capítulo relativo as “Populações africanas no Brasil”, que
integrou o plano Nacional de Cultura, apresentado no Congresso
da cor negra a inferioridade cultural. posição de marginalidade do negro em relação a em 15 / 12 / 2006, pelo Ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Em 1856 Joseph Arthur de Globineau na esta nova configuração social, e a “inadaptação” http://www.funag.gov Acesso em 18 de janeiro de 2007
9) Adorno TW, Frenkel-Brunswik E, Levinson D & Sanford R N.
publicação do seu livro “Moral and intelectual em relação com o trabalho, foi considerada uma
The authoritarian personality, New York: Harper & Row. 1950.
diversity of races”, passa a dar validade “científica” inferioridade cultural da raça negra, sobrando 10) Camino L, Silva P,Machado A, Pereira C. A face oculta do ra-
a ideologia racista e a superioridade da raça para eles as “ocupações improdutivas” (serviços cismo no Brasil: uma analise psicossociológica. Revista Psicologia
Política, 1 (1): 13-36, 2001.
branca, porque os brancos eram destinados a domésticos, biscates, ocupações subalternas, 11) Dollard J, Doob L, Miller N, Mowrer O, Sears R. Frustation and
governar sobre os demais povos. Foram as teorias etc.). Deste modo nascia u’a massa de herdeiros Agression. New Haven, CT, Yale University Press, 1939.
12) Hovland CL, Sears R. Minor Studies of Aggression: Correla-
de Globineau que tiveram grande influência de tudo aquilo de negativo que aqueles que
tion of Lynchings with Economic Indices. Journal of Psychology.
no desenvolvimento e nas políticas racistas da estavam no poder do Império e da República 9, 301-310, 1940.
Europa, especialmente adaptadas aos interesses legaram como heranças econômica, política, 13) Venturi G e Paulino MF. Pesquisando preconceito racial. Em
C. Turra e G. Venturi, (Orgs.). Racismo Cordial: A mais completa
nazistas (1). social e cultural para os escravos e ex-escravos análise sobre o preconceito de cor no Brasil. Editora Ática. São
A África passou a sofrer durante séculos (2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11,12). Paulo: 84-95, 1995.
14) Rodrigues F. Racismo Cordial. Em: C Turra e G.Venturi (Orgs.).
uma espoliação de traficantes de escravos, pelos Venturi e Paulino (13) sobre o preconceito Racismo Cordial: A mais completa análise sobre o preconceito de cor
governos europeus. No Brasil o racismo tem raízes racial afirmaram que: “os brasileiros sabem no Brasil. Editora Ática. São Paulo: 11-56, 1995.
Dra. Heloisa da Rocha Picado Copesco
Médica Dermatologista. Especialização em Dermatologia pelo Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo - HC - FMRP- USP.
Título de Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia - SBD.
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia - SBD.
heloisapicado@gmail.com
Melanoma: tumor de pele agressivo
Era 9 e pouco da manhã quando meu marido deixa algumas coisas passarem. Por isso, a pressa pintas dele e, ao examinar as costas, lá estava essa
telefonou e pediu para atender um conhecido dele ficou para depois do meu interrogatório aí (fotos ao lado, uma em maior aumento e a outra
dele. Eu expliquei que estava no meu último dia (anamnese) e exame completo. Examinei todas as como estava nas costas dele).
de atendimento, com agenda lotada e a mudança Essa “pinta” foi retirada com URGÊNCIA e o
de consultório no dia seguinte. Ele insistiu. E resultado da BIÓPSIA confirmou meu diagnóstico:
como era pedido do meu marido, eu topei não MELANOMA.
almoçar para atender o rapaz no meu horário de O melanoma é um TUMOR DE PELE AGRESSIVO,
almoço. com alta capacidade de metástase (atingir outros
A queixa era uma alergia no rosto. Somente órgãos) e levar a MORTE.
no rosto. Ele tinha pressa (33 anos, acho que É verdade, naquele dia, eu fiquei sem almoçar.
mal da nossa geração...) e queria que a consulta Mas, em troca, meu paciente ficou com tempo de
fosse rápida para poder ficar com a filha de 1 vida para ver a filhinha crescer.
aninho. @heloisapicadodermato #melanomacutaneo
Acontece que um dermatologista treinado não #dermatosbd #confienasuadermato
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