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Opinião

                      Dr. Wilson Shcolnik
                      Médico patologista clínico, presidente da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica
                      (Abramed) e do Conselho de Ex-Presidentes da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/
                      Medicina Laboratorial (SBPC/ML), membro da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado
                      e Segurança do Paciente (Sobrasp) e da Câmara Técnica de Segurança do Paciente do CFM

                      presidencia@abramed.org.br

       Pandemia traz impactos à saúde suplementar e reflexos à medicina diagnóstica


         Os efeitos da pandemia de Covid-19 ainda são   Segundo a Nota de Acompanhamento de   saúde.
       impossíveis de mensurar. A saúde e a economia   Beneficiários  (NAB),  do  Instituto  de  Estudos  de   A análise mostra um dos primeiros impactos
       ainda verão muitas consequências da maior crise   Saúde Suplementar (IESS), divulgada em julho,   da pandemia no setor, porém é preciso lembrar
       sanitária mundial dos últimos cem anos.    com base nos dados da Agência Nacional de Saúde   que ainda estamos no enfrentamento da crise e
         Se neste primeiro momento a saúde suplementar   Suplementar (ANS), houve queda no número de   que teremos de lidar com outros obstáculos, como
       assistiu à uma queda histórica na sinistralidade dos   beneficiários de planos de saúde em todo o país e   a  dificuldade  de  novos  investimentos  em  saúde,  a
       planos de saúde em decorrência da não realização de   o segmento voltou a ficar abaixo dos 47 milhões de   aquisição de insumos, o aumento da utilização de
       exames e cirurgias eletivas nos seis primeiros meses   usuários.                       serviços  médico-hospitalares devido  à demanda
       do ano, é muito provável que a crise econômica   No  comparativo  de  12  meses,  o  setor  perdeu   represada de atendimentos e exames que deixaram
       desencadeada pelo novo coronavírus leve à  uma   pouco  mais  de  124  mil  beneficiários.  No  entanto,   de ser feitos durante o primeiro semestre, e os
       nova migração de usuários da rede privada para a   só entre os meses de abril e maio, houve queda de   reflexos  desses  atrasos  e  adiamentos  no  trato  da
       rede pública, sobrecarregando novamente o Sistema   283 mil vínculos, dados que já são reflexo da queda   saúde populacional.
       Único de Saúde (SUS).                      da atividade econômica causada pela forte crise na   Balizando  essa  preocupação,  estudo
                                                                                              recentemente publicado pelo The British Medical
                                                                                              Journal (BMJ) sugere que a mortalidade por câncer
                                                                                              pode aumentar 20% por causa da pandemia, sendo
                                                                                              que parte desse aumento está diretamente atrelado
                                                                                              às pessoas com câncer que são infectadas pelo novo
                                                                                              coronavírus e, por serem grupo de risco, chegam ao
                                                                                              óbito; e outra parte relevante ocorre pois, por conta
                                                                                              da crise, o diagnóstico foi atrasado ou o tratamento,
                                                                                              como a quimioterapia, interrompido.
                                                                                                É hora de fortalecermos ainda mais as ações
                                                                                              de prevenção de doenças e da promoção da saúde
                                                                                              como uma vertente ideológica capaz de impulsionar
                                                                                              o desenvolvimento de uma nação, visto que uma
                                                                                              população saudável, com menos comorbidades e
                                                                                              menos doenças adjacentes, é mais produtiva e mais
                                                                                              resistente  a  futuras pandemias  que,  naturalmente,
                                                                                              surgirão.
                                                                                                Aqui a  tecnologia aliada à medicina pode  trazer
                                                                                              eficiência  aos  serviços  de  saúde.  Nesse  contexto,
                                                                                              a  telemedicina  vem  se  tornando  uma  ferramenta
                                                                                              importante  na  rotina  de  profissionais  de  saúde,
                                                                                              clínicas, laboratórios e hospitais. Com a autorização
                                                                                              do seu uso enquanto durar a crise ocasionada pelo
                                                                                              novo coronavírus, sua prática tem sido altamente
                                                                                              relevante ainda mais com o distanciamento social que
                                                                                              precisa ser praticado, auxiliando no teleatendimento
                                                                                              e telediagnóstico e estimulando os cuidados com a
                                                                                              saúde.
                                                                                                Para  o  setor de  medicina  diagnóstica, que  já
                                                                                              vinha atuando com  o serviço a distância,  é uma
                                                                                              prática  consolidada,  rumo  à  eficiência  e  qualidade
                                                                                              do  atendimento  e  do  diagnóstico  em  benefício  do
                                                                                              paciente.
                                                                                                E os exames mais do que preventivos são um
                                                                                              excelente caminho para que os médicos possam
                                                                                              definir  qual  o  melhor  tratamento  disponível
                                                                                              para  aquele  caso  daquele  paciente  específico,
                                                                                              principalmente quando consideramos o advento da
                                                                                              medicina personalizada.
                                                                                                Uma análise da consultoria norte-americana
                                                                                              McKinsey & Company estima que é possível reduzir
                                                                                              em cerca de 40% a carga global de doenças por meio
                                                                                              de intervenções que tornem os sistemas de saúde
                                                                                              mais  capazes  de  combater  doenças  específicas.
                                                                                              Dados  apontados no relatório  “Prioritizing health:
                                                                                              A prescription for prosperity” sugerem, inclusive,
                                                                                              que tomadas essas medidas, as mortes por câncer,
                                                                                              por exemplo, podem diminuir em 29% enquanto as
                                                                                              mortes por doenças cardiovasculares podem cair 39%.
                                                                                                Além  da  considerável  queda  sugerida  pela
                                                                                              consultoria, é interessante observar que os
                                                                                              especialistas atrelam 70% dos ganhos em saúde
                                                                                              à prevenção e 30% aos tratamentos. E os exames
                                                                                              diagnósticos  estão  envolvidos  em  todas  essas
                                                                                              vertentes,  afinal,  o  diagnóstico  precoce  salva
                                                                                              vidas e sabemos que até 70% das condutas
                                                                                              médicas são baseadas em resultados de exames
                                                                                              complementares.
                                                                                                Tudo indica que, passada a pandemia, novos
                                                                                              tempos e novos hábitos virão. Mas quando se trata
                                                                                              de saúde, não importa os caminhos trilhados, desde
                                                                                              que sejam alcançados os objetivos que levam a uma
                                                                                              vida saudável.
                                                                                10
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