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Opinião
Dr. Yussif Ali Mere Jr
Presidente da Federação e do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e
Laboratórios de Ribeirão Preto e Região (FEHOESP e SindRibeirão)
presidencia@fehoesp.org.br
A pandemia e a crise da educação
Em dez dias, de 11 a 21 de novembro/2022, viagens e festas se aproximando. Enquanto isso, autoridades brasileiras em
39% de uma amostra de 90 hospitais privados Neste cenário, temos a OPAS pedindo que geral – e isso serve para todas as instâncias –
paulistas – a grande maioria no interior do Estado as Américas “implementem as ferramentas silenciam sobre o afrouxamento de medidas
– teve um aumento de até 30% de pacientes comprovadas para manter as comunidades de proteção à saúde. Seguem pesquisadores,
com suspeita de COVID-19, segundo pesquisa seguras, incluindo vacinas, vigilância, uso de organizações e profissionais de saúde insistindo
do SindHosp, o Sindicato dos Hospitais Clínicas máscara e distanciamento social, principalmente na importância da vacinação e uso de máscaras,
e Laboratórios do Estado de SP. A maioria dos no momento que antecede o período festivo”. o que permitiria mais segurança para o
casos não evoluiu para internação e o percentual Mas essa discussão – que depende de governos funcionamento dos negócios, das escolas, das
de internações ficou em 5 pontos tanto em leitos e fortemente da adesão da população – está instituições em geral. Afinal, a conscientização
clínicos quanto em UTIs. Diante do que nós já silenciada no Brasil. O instituto Oswaldo Cruz fala sobre o respeito à ciência, à palavra do médico
vivenciamos, parece um cenário despreocupante em “alarmantes” quedas na cobertura vacinal e do professor seria, hoje, uma ferramenta
mas, autoridades mundiais continuam alertando no Brasil em relação à imunização infantil – uma importante para a gestão desta e de próximas
para o problema da circulação do vírus no mundo, conquista perdida porque o Brasil já foi exemplo crises. Sem isso, o custo da gestão pública e
para o risco da “tripla ameaça” da COVID-19, neste quesito. mesmo dos negócios privados pode ser bem
influenza e VSR-Vírus Silencial Respiratório, para o Dentro dessa crise, temos outra. O documento maior.
aumento de casos de COVID-19 na América do Sul “Perdas de aprendizagem - o que fazer sobre Países com cenário de casos de COVID-19
e riscos de agravamento dos casos de síndromes o pesado custo do COVID-19 para as crianças, a persistir seguem com medidas de proteção,
respiratórias com a chegada das festas. juventude e produtividade futura”, divulgado pelo como uso de máscaras, e vacinação da
A OPAS-Organização Pan-Americana de Saúde Banco Mundial, alerta que o mundo já enfrentava população sem protestos e, mesmo assim, ainda
chamou a atenção, há dias, para o aumento de uma crise de aprendizado e habilidades antes da têm políticas vigentes mais rígidas do que o
17% de casos de COVID-19 na região na segunda pandemia, mas que obviamente este cenário foi Brasil para controle das doenças respiratórias,
semana de novembro, além do aumento do agravado a partir de 2020. Se pensarmos a longo mas nem por isso as crianças estão sem escola
número de mortes na América do Sul e América prazo, vemos que isso não é um problema apenas e os negócios fechados. É isso que nos faz
Central e o alerta de que uma redução nos testes de compensar o ano escolar. O fechamento pensar na importância de políticas públicas que
pode estar escondendo o verdadeiro número de das escolas comprometeu rendimento e incluam numa mesma estratégia a educação e
infecções, sem contar o crescimento significativo produtividade, agravou desigualdades e trouxe a saúde. São dois pilares imprescindíveis para a
das infecções por VSR que, segundo a entidade, uma série de problemas em cadeia com efeito para qualidade de vida, inclusão, desenvolvimento
sobrecarregam os sistemas de saúde do Brasil, as próximas décadas, alerta a instituição. Ou seja, social e econômico. O custo da politização é o
Canadá, México, Uruguai e EUA especialmente o problema não se limita a um comprometimento agravamento de crises – de saúde, educação,
com crianças e bebês menores de 1 ano de idade. de aprendizagem de disciplinas nesses dois anos econômica etc. – que poderiam contar, hoje,
O risco chamado “tripla ameaça” (COVID-19, letivos – é algo bem maior e com efeitos mais com maior controle se tivesse a conscientização
influenza e VSR) é maior com o período de férias, duradouros e severos. da população como aliada.
Doença Rara
Reconhecimento facial ajuda geneticista brasileiro
O Dr. Carlos Leprevost inseriu em seu celular de uma criança uma aparência distinta. No entanto, achou 13 VUS – Variantes de Significado Incerto”.
um simples retrato de seu paciente os sinais podem ser mais sutis para VUS (abreviação do inglês Variants of Unknown
Nicolas, de 13 anos de idade, no outras condições genéticas com Significance) são comuns em resultados genéticos.
aplicativo Face2Gene da FDNA. Em casos também mais raros. Eles indicam alterações genéticas que ainda não
segundos, foi revelado uma alta O aplicativo possui tecnologia possuem correlação definida com uma síndrome.
similaridade facial com a síndrome de aprendizagem profunda (deep “Exames genéticos são diferentes do que um exame
de Coffin-Lowry, doença genética learning) que combina as fotos de de diabetes, por exemplo. Todos temos genes
rara. O diagnóstico foi confirmado em pacientes de doenças raras com com mutação – isso é o que torna cada ser único.
laboratório, terminando uma longa fotos de outros pacientes em todo o Mas esses genes mutados não necessariamente
jornada de 10 anos, 40 especialistas e mundo instantaneamente, ajudando causam doenças ou síndromes. Temos alguns genes
inúmeros exames. assim os profissionais médicos a que sabemos que sua mutação está ligada a uma
Casos como o de Nicolas são diagnosticar crianças em um estágio síndrome por causa da literatura científica. Já outros,
comuns. Segundo a OMS, no mundo inicial. A tecnologia proprietária temos suspeitas”.
pacientes levam em média cinco anos fortalece a fenotipagem de Dentre as VUSs do Nicolas estava o gene
para diagnosticar doenças genéticas próxima geração (Next Generation RPS6KA3. “Eu havia colocado o retrato dele no
raras. O Dr Calos Leprevost, geneticista Phenotyping - NGP), a captura, Face2Gene, que indicou que sua face havia alta
de Curitiba, explica que isso acontece estruturação e análise de dados compatibilidade para a Síndrome de Coffin-Lowry,
pois muitas vezes os sintomas são fisiológicos humanos complexos uma condição neurodesenvolvimental ligada ao
confundidos com outras doenças, e – permitindo que os profissionais cromossomo X e causada por possível mutação
existe demora para que o paciente médicos identifiquem centenas de no RPS6KA3”. As informações atualizadas e o
seja referendado ao especialista distúrbios adicionais apenas com a resultado do Face2Gene foram compartilhadas com
certo. “No caso do Nicolas, ele tem análise facial. o laboratório, que reclassificou a variante RPS6KA3
características de autista, mas é uma O Dr. percebeu durante exame de VUS para Patogênica, confirmando o diagnóstico
causa genética, e muitos especialistas indicavam que clínico algumas alterações na face de Nicolas de Síndrome de Coffin-Lowry.
eram outras causas. Esse é o normal, o geneticista é como hipertelorismo (afastamento dos olhos), O Dr. Carlos Leprevost apresentou o caso do
o último a ser procurado”, explica. fissura palpebral descendente, filtro nasolabial Nicolas durante Congresso da Sociedade Brasileira
Muitas vezes, a aparência do rosto de uma (região entre nariz e boca) longo, orelhas grandes, de Neurologia Infantil que aconteceu esse mês. Veja
criança, juntamente com outros sintomas clínicos, sobrancelhas grossas, nariz curto e lábios grossos e o caso apresentado.
podem ser pistas para síndromes genéticas. Um evertidos. “Eu pedi um painel NGS de leucodistrofias, rodrigo@fdna.com
exemplo disso é a síndrome de Down que dá à face um exame genético que investiga 835 genes, que rodrigo.boro@vv4pr.com.br (11) 96465-9194
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