A Lei 13.989, de 15 de abril de 2020, que autorizou o uso da telemedicina enquanto durar a pandemia, tem sido importante para o enfrentamento da Covid-19 e o atendimento de milhões de pacientes. Os resultados positivos indicam que torná-la permanente é uma alternativa eficaz para democratizar o acesso à saúde, solucionar parte expressiva das demandas mais simples e desafogar o movimento de Unidades Básicas de Atendimento (UBS), prontos-socorros e ambulatórios. Ressalve-se que continuam imprescindíveis as consultas médicas presenciais, insubstituíveis em muitos casos para a avaliação clínica, elaboração do diagnóstico e prescrição do tratamento.
É inegável que a telemedicina, no curso da pandemia, reforçou a constatação de que inovação é um conceito decisivo e irreversível na saúde. O novo coronavírus colocou em xeque os sistemas médico-hospitalares de todos os países. Nesse contexto, as tecnologias 4.0 ganharam ênfase, possibilitando as consultas remotas, que deverão continuar sendo realizadas mesmo depois de a humanidade vencer ou colocar a doença sobre controle.
O fato é que a telemedicina ganhou relevância entre a população. Os médicos adaptaram-se rapidamente e a solução mostrou-se capaz de reduzir os gargalos da atenção primária. Estudos mostram ser possível diminuir pela metade as internações de pacientes crônicos e em 40% o atendimento de urgências. Pesquisas da Market Research Future apontavam, antes da pandemia, que esse era um mercado com potencial de crescimento de 29,8% até 2023. Segundo a Global Market Insights, está avaliado em US$ 175,5 bilhões até 2026.
Os benefícios da telemedicina são ainda maiores em países como o Brasil, de grande extensão territorial e com regiões nas quais há poucos médicos e estrutura escassa de atendimento em relação aos índices demográficos.
Para os pacientes, permite acesso rápido consultas e, quando necessário, a profissionais de referência em distintas especialidades, mesmo estando em áreas remotas. Para o sistema de saúde, público e privado, há uma descentralização da assistência, possibilitando prover os cuidados em mais localidades e com custos reduzidos. Assim, podem ser destinados mais recursos à prevenção e ao tratamento das doenças.
No Brasil, as perspectivas da telemedicina e do uso mais intenso da tecnologia na saúde são maiores ante o iminente advento do 5G, cujo leilão realizou-se com sucesso em 2021. Mais do que nunca, inteligência artificial, robótica, internet das coisas e big data tornam-se ferramentas da saúde humana e do trabalho de médicos e profissionais do setor. Nesse contexto, as startups ganham espaços significativos para inovar e desenvolver soluções, acelerando processos, tendência fortalecida em decorrência da pandemia.
Estamos diante de oportunidades relevantes, mas há desafios a serem vencidos. O primeiro deles tem caráter legislativo, pois é preciso converter em definitiva a lei provisória que autoriza a telemedicina e melhorar o ambiente regulatório. Também urge reverter a falta de estímulos à indústria nacional, os baixos investimentos em inovação e a dependência da importação de suprimentos. Esses são avanços necessários para destravar o desenvolvimento da indústria de dispositivos médicos e ampliar o arcabouço tecnológico à disposição do setor.
Cumprir essa agenda é preponderante para que o Brasil dê respostas eficazes à melhoria dos serviços no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Também é importante para que toda a estrutura de nossa medicina, cuja excelência acadêmica e profissional é globalmente reconhecida, alinhe-se às mais avançadas do mundo.