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Opinião

                    Giannina Ricci, PhD
                    Doutorado realizado através do convênio CAPES/DAAD entre o Instituto de Medicina Tropical, Universidade de Tübingen, Alemanha e o
                    Departamento de Patologia (UNIFESP).
                    Pós-doutorado na Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina– Laboratório Especial de Micologia (LEMI), UNIFESP.
                    Diretora Executiva do Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Biologia Molecular Dr. Ivo Ricci
                    info@biomolricci.com
                                  Associação entre Leishmania spp. e as diferentes

                                       formas clínicas da Leishmaniose humana*


         O  texto,  abaixo,  ressalta  a  importância  da   tratada, com parasitas que afetam o fígado, o baço   Para o manejo clínico diário, por outro lado,
       tipificação  da  Leishmania spp,  através da biologia   e a medula óssea. Além disso, L. donovani causa LV,   a  tipificação  de  espécies  individuais  nem  sempre
       molecular  (PCR  e  Sequenciamento)  e  foi  extraído,   em que os pacientes curados, às vezes, desenvolvem   é  possível,  seja  por  razões  técnicas,  logísticas  ou
       parcialmente,  e traduzido  livremente do artigo   uma complicação cutânea específica conhecida como   financeiras.  A  situação  mais  direta  é  apresentada
       *“Species Typing in Dermal Leishmaniasis” (Gert Van   leishmaniose dérmica pós-calazar (LDPC), que não é   por um centro de saúde primário localizado em uma
       der Auwera & Jean-Claude Dujardin).        observada na infecção com L. infantum e se manifesta   região de endemicidade onde circula apenas uma
         Como se sabe, Leishmania spp. são protozoários,   como nódulos que cobrem grandes partes do corpo.   espécie.  Nesses  casos,  basta  um  diagnóstico  preciso
       parasitas digenéticos*, infecciosos, relacionadas aos   Especialmente no Sri Lanka, a infecção por L. donovani   pela detecção do gênero, desde que a epidemiologia
       tripanossomas africanos e americanos. Vale salientar   frequentemente leva à LC, tornando a leishmaniose   da área seja suficientemente monitorada. A detecção
       que todas as espécies são patogênicas aos humanos.   dérmica uma  doença  que pode ser provocada  por   desse gênero pode ser simples e baseada em exames
       A transmissão ocorre por flebotomíneos para animais   todas as espécies de Leishmania que são infecciosas   clínicos ou microscópicos das lesões, embora não sejam
       selvagens e domésticos e para humanos. De acordo   para humanos.                       os métodos mais sensíveis ou específicos. A sorologia
       com  uma  estimativa  recente,  a  incidência  anual  da   A  associação  entre diferentes formas  clínicas   não é muito sensível devido ao forte viés da imunidade
       doença está entre 0,7 e 1,2 milhão de casos em todo   de LC  e espécies  de  Leishmania  não  é  absoluta.  O   celular  do  tipo  Th1  (T  helper 1),  sendo  os  métodos
       o  mundo.  É  endêmica  em  87  países,  10  dos  quais   melhor  exemplo  é  provavelmente  a  leishmaniose   moleculares superiores quando a carga parasitária é
       (Afeganistão,  Argélia,  Colômbia,  Brasil,  Irã,  Síria,   mucocutânea  (LMC),  que  geralmente  é  encontrada   baixa. Um cenário mais complicado é o de um centro
       Etiópia, Sudão, Costa Rica e Peru) suportam 70 a 75%   em pacientes infectados  com  L.  braziliensis, mas   de saúde primário localizado em uma região onde duas
       da carga global da doença.                 também  foi  relatada  para outras espécies do   ou mais espécies ou variantes são transmitidas, como é
         Importante  destacar  que  todas  as  espécies   subgênero  Leishmania (Viannia),  como  L. guyanensis.   o caso do Brasil, onde cada uma exige uma abordagem
       de  Leishmania patogênicas  ao  homem  podem   Especialmente  com  a  coinfecção  por  HIV  e em   de tratamento diferente. Nesse cenário, médicos
       causar  doença  cutânea,  embora  com  gravidades   indivíduos imunossuprimidos, podem ser encontradas   experientes podem separar as espécies com base na
       diversas.  Dessa  forma,  a  identificação  da  espécie   apresentações  clínicas  inesperadas.  Além  disso,  a   morfologia da lesão e na síndrome clínica. Se isso não
       causadora  é relevante tanto  em estudos  clínicos   conotação  geográfica  tradicional  de  formas  clínicas   for possível, então as espécies podem ser identificadas
       e epidemiológicos, quanto  no  manejo  de  casos  e   deve ser tomada com cautela, porque a expansão ou   usando técnicas que separam as variantes do parasita
       controle.  A  leishmaniose  cutânea  (LC)  é  uma  das   movimento dos ciclos de transmissão pode fazer com   local. Além disso, um centro de referência regional ou
       principais manifestações clínicas da infecção humana.   que espécies  raras circulem  em regiões ou  habitats   nacional normalmente lida com pacientes infectados
       Ao  contrário  da  leishmaniose  visceral  (LV),  não  é   inesperados.                em  vários  ambientes,  o  que  torna  a  identificação  de
       letal, mas  muitas  vezes é traumática  e associada  à   Portanto, a partir das informações acima e   espécies  individuais  mais  relevante,  pois  a  origem
       estigmatização social.                     também  porque  as  espécies  exibem  padrões  de   geográfica  exata  da  infecção  e  a  epidemiologia  local
         De um lado do espectro  está  Leishmania  major,   transmissão  específicos,  que  afetam  o  prognóstico   são muitas vezes difíceis de avaliar.
       que geralmente  causa  lesões cutâneas  localizadas,   da doença e podem reagir diversamente a certos   Finalmente,  o cenário  mais  complicado  é o da
       autocurativas,    no  local  da  infecção  (LCL)  e  é   medicamentos ou regimes de tratamento, que o   medicina de viagem que atende pacientes que visitaram
       encontrada  na  região  do  Mediterrâneo,  África,   controle  eficiente  da  leishmaniose  dérmica  requer   várias  regiões  ou  países  endêmicos.  Geralmente,  a
       Oriente Médio, e Índia. No lado oposto encontra-se   análise das espécies, fato que só ocorre através   região exata da infecção é desconhecida e os médicos
       a L. braziliensis, que é endêmica na América do Sul e   da  biologia  molecular  (PCR  e  sequenciamento).   assistentes  têm  menos  conhecimento  ou  acesso
       é capaz de causar leishmaniose mucocutânea (LMC),   Dessa forma, além da identidade parasitária, outros   às informações  epidemiológicas,  além de muitas
       mutilante,  grave mesmo  anos  após  a  cura  da lesão   fatores que orientam a escolha  do tratamento   vezes terem menos  experiência com  diagnóstico
       local inicial. Entre esses extremos estão as espécies   são:  apresentação  clínica,  a  herança  genética  e  a   e tratamento.  Tal ambiente  requer,  portanto,  uma
       que causam lesões localizadas  de difícil  tratamento   imunidade do hospedeiro e condições de transtornos   estratégia de diferenciação de espécies globalmente
       e as  que, muitas  vezes, dão  origem  à  leishmaniose   adicionais. A necessidade de se determinar a espécie   aplicável.
       cutânea difusa (LCD), em que várias lesões ocorrem   infectante  de  Leishmania  depende  em  grande
       distantes do local da infecção.            parte do contexto específico. Para estudos clínicos   *ou  heteroxenos  →  são  os  parasitas  que
         Para completar o quadro,  L.  infantum (syn.,  L.   e  epidemiológicos,  a  confirmação  da  espécie   necessitam  de pelo  menos  dois  hospedeiros  para
       chagasi),  encontrada  em  países  mediterrâneos  e  no   infectante é definitivamente recomendada em todos   completarem o seu ciclo evolutivo, como por exemplo,
       Brasil, e pode levar tanto à LC quanto à LV em humanos   os casos, de preferência usando uma técnica de   esquistossomo e o tripanossomo.
       e à  leishmaniose  canina  em  cães.  A LV  (também   aplicação global que tenha sido validada em todas as
       conhecida como Calazar) é uma condição letal se não   espécies.                          Referência será enviada, quando solicitada.




              Alerta
                 Rede Pública de Saúde registra falta de medicamentos

                                             para Doença de Parkinson


                                                  de Rasagilina  e o  Entacapona,  comprometendo  o   e cobrar pela falta de medicamentos”, explica Dra
                                                  tratamento de milhares de portadores da Doença de   Érica Tardelli, presidente da ABP.
                                                  Parkinson em todo o país. Hoje, estima-se que 200 mil   O  aumento  da  Doença  de  Parkinson  está
                                                  brasileiros tenham a doença.                associado  a  fatores externos  como  poluição,
                                                     “A  falta  de medicamento  já  acontece  há  algum   agrotóxico  e solventes. Por  isso, a  informação  é
                                                  tempo e a ABP fez reuniões com as autoridades para   importante para identificar os sintomas, que ajudam
                                                  demonstrar a preocupação  com  o atendimento  aos   no  diagnóstico  precoce  e  podem  aparecer  até  15
                                                  pacientes.  Sabemos  que há  essas medicações  nas   anos antes da manifestação do Parkinson.
                                                  farmácias,  então  não  é problema  de fornecimento   Todas  as  informações  sobre  a Doença  de
                                                  dos  laboratórios.  Temos  até  portadores da  Doença   Parkinson  estão  no  site  da  ABP,  que  lançou
           A  Associação  Brasil  Parkinson  (ABP)  informa   de Parkinson  enviando  carta  aberta cobrando  uma   um  ebook  fácil  de  compartilhar  -  https://www.
        que alguns  medicamentos  estão  em falta  na  rede   posição. Abril, no mês da conscientização da doença,   parkinson.org.br/
        pública  de  saúde,  como  o  Prolopa  HBS,  Mesilato   precisamos falar dos sintomas, do diagnóstico precoce   Fonte:vera@veramoreira.com.br

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