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Opinião


                   Dr. Carlos Eduardo dos Santos Ferreira
                   Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial para o biênio
                   2020-2021
                   Gerente Médico do Departamento de Patologia Clínica.  Laboratório Clínico -  Sociedade
                   Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
                   Coordenador Médico do Setor de Imunoquímica do Laboratório Central do Hospital São Paulo -
                   Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal São Paulo (EPM/UNIFESP)
                   presidente@sbpc.org.br
                                             A Importância Diagnóstica


          Chegamos  ao  final  de  um  ano  complicado   da  COVID-19  e  o  medo  de  pacientes  de  procurar   no  número  de  pacientes.  Apenas  27%  deixaram
       para toda população mundial. Na área diagnóstica   ajuda  médica  derrubaram  no  Brasil  e  o  mundo,  o   de trabalhar  com receio de sair de casa, alguns
       ganhamos destaque mas trabalhamos duro. Apesar   número de consultas, exames e cirurgias. Algumas   acreditam que o excesso de protocolos assustou
       dos  problemas  com  a  testagem  no  pais  (falta  de   consequências  já  foram  observadas  ao  logo  dos   os  pacientes  (10%),  demais  em  função  da  perda
       insumos,  guerra  comercial, qualidade  variadas)   meses.  Alguns  pacientes  chegando  aos  hospitais   de  renda  e  planos  de  saúde  de  pacientes  (5%),
       conseguimos demonstrar  desde o primeiro caso   com  quadros  avançados  de  infarto,  Acidente   cancelamento e  adiamento de  cirurgias  eletivas
       diagnosticado  do  novocoronavírus  a  qualidade   Vascular  Cerebral,  processos  infecciosos;  ou  até   (5%),  ou  por  plantão  e  revezamentos  no  trabalho
       da  Medicina  Laboratorial  Brasileira.  Programa  de   mesmo vindo a falecer em domicílio.  Outra parcela   (2%).
       validação de métodos, desenvolvimento de novas   deixou de monitorar por um período de meses suas   Os  exames  mais  adiados  foram:  sangue  (22%),
       tecnologias  aplicadas  ao  diagnóstico  da  COVID   doenças  crônicas  e  outros    receberão  cuidados   ultrassonografia (11%) tomografia computadorizada
       19,  disseminação  do  conhecimento  científico   apenas  quando  a  pandemia  acabar  -  visto  que   (11%), colonoscopia / endoscopia (6%), ressonância
       para  correta  utilização  dos  testes...entre  outras   ainda continuam reclusos. Segundo levantamento   magnética  (5%),  ecocardiograma  /ecodopler  (4%),
       iniciativas.   Em paralelo a todo esse trabalho  ocorreu   da  Abramed,  os  laboratórios  de  diagnóstico   mamografia (3%), preventivo de colo de útero (2%),
       um  problema  no  auge  das  medidas  utilizadas  na   registraram uma queda de 70% nos atendimentos,   entre outros da lista.
       tentativa de conter o avanço do novocoronavírus:   nos meses  iniciais  que  o  coronavírus chegou  ao   A  boa  notícia  é  que  89%  dos  entrevistados
       o paciente, ficando em casa (seja por medo ou por   Brasil.                            reconhecem  a relevância  dos  testes laboratoriais
       recomendação),  deixou de lado o monitoramento   Na  pesquisa  feita  pela  SBPC/ML,  os  médicos   no  diagnóstico  correto  da  COVID-19  e  mostraram
       das suas doenças crônicas.                 relatam  que  aproximadamente  50%    dos  seus   bom conhecimento sobre eles. O RT-PCR é o mais
          Pela  nossa  preocupação  e  compromisso  em   pacientes   não   conseguiram   controlar   ou   conhecido, por 98% dos entrevistados, seguido da
       estimular cada vez mais um dos pilares da Medicina   abandonaram o controle de suas doenças devido   sorologia – teste rápido, por 97%, antígeno por 85%,
       deste  século  (Medicina  Preventiva)  que  trata  a   a  pandemia.  E  o  dado  mais  alarmante:  43%   sorologia  –  Elisa  (76%),  sorologia  –  fluorescência
       saúde  e  não  a  doença,  e  portanto,  incorpora  a   interromperam  algum  tipo  de tratamento  que   (57%),  sorologia  –  quimiluminescência  (54%)  e
       prevenção como seu mantra principal, conduzimos   estavam fazendo.                     apenas  1%  disse  não  conhecer  nenhum  dos  itens
       uma pesquisa com 300 médicos especialistas, em   Quarenta porcento dos  médicos  admitiram   citados.
       território nacional, para saber o real impacto da   ainda  que  reduziram  a  prescrição  de  exames,   A pandemia não acabou e deveremos conviver
       pandemia na vida dos pacientes.            muito em função do volume reduzido de trabalho   com  o  novo  coronavírus  ao  longo  dos  anos.  A
          E  o  resultado,  que  já  esperávamos,  é  que  ao   e da imobilidade dos pacientes. Quarenta e cinco   esperança do controle da pandemia com a chegada
       mesmo  tempo  que  o  diagnóstico  da  COVID-19  e   porcento dos médicos pesquisados relatam terem   da vacina aumenta dia a dia. Mas ainda devemos
       os testes associados a ele cresceram, os demais   trabalhado menos ou muito menos que o normal,   continuar  focados  nas  medidas  preventivas  que
       procedimentos  e  controles  foram  postergados   contra 23% que alega não ter alterado o ritmo, 21%   buscam  uma  menor  circulação  do  vírus.    Nunca
       por  boa  parte  da  população,  causando  algumas   que trabalhou mais e 12% que trabalhou muito mais.   deixando de lado também o monitoramento  e a
       consequências    imediatas    (diagnósticos  Talvez, os dois últimos grupos, de alguma maneira   prevenção das doenças crônicas para a manutenção
       postergados) e um impacto futuro no segmento de   ligados diretamente a assistência dos pacientes   de  uma  sociedade  saudável  até  mesmo  para
       determinadas patologias.                   infectados.                                 continuarmos nesta batalha.
          As  restrições  para  receber  pacientes  em   Entre os médicos  que trabalharam  menos,   Vale lembrar nossa campanha #ImportantePrevenir
       hospitais, a transferência de leitos para o tratamento   77%  alegam  que  isso  ocorreu  devido  à  redução   – prevenir é o melhor remédio!


                     Dr. Yussif Ali Mere Jr
                     Presidente da Federação e do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e
                     Laboratórios de Ribeirão Preto e Região (FEHOESP e SindRibeirão)

                     presidencia@fehoesp.org.br

                  O fim das isenções do ICMS e seus impactos na Saúde


         Como se não bastasse a preocupante proposta   conseguiu aprovar o PL 529 em tempo recorde e,   “só” o Governo do Estado que perdeu.
       de  reforma  tributária  enviada  pela  União  ao   no  dia  seguinte,  a  Lei  17.293  e  seus  decretos  de   O valor da renúncia fiscal dos Estados com o
       Congresso  Nacional,  o  setor  de  saúde  paulista   regulamentação  já  estavam  no  Diário  Oficial.  A   convênio do CONFAZ é de R$ 1,68 bilhão. Com o
       vive  outro  drama,  desta  vez  deflagrado  pelo   redução de benefícios fiscais e o encerramento de   fim da isenção e a alíquota de 18% do ICMS, a cadeia
       Governo  do  Estado  de  São  Paulo.  Em  outubro,  a   alguns convênios foram prorrogados e podem ser   privada  da  saúde  terá  um  acréscimo  de  gastos
       Assembleia  Legislativa  aprovou  o  Projeto  de  Lei   extintos a partir de janeiro.  anuais  da  ordem  de  R$  2,73  bilhões,  segundo
       529, convertido na Lei 17.293 e já sancionada pelo   Na ânsia de resolver seu “problema” de caixa,   projeções  de  algumas  entidades  representativas
       governador  João  Doria.  Essa  lei,  sob  pretexto  de   o  Governo  de  São  Paulo  olhou  apenas  para  o   da  indústria  da  saúde,  como  ABIMO,  ABRAIDI  e
       reequilibrar as finanças estaduais, altera a legislação   próprio umbigo. O fim das isenções traz enormes   ABIMED.  Esse  impacto  foi  calculado  com  base
       do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias   prejuízos ao setor da saúde, que é o protagonista   no  efeito  cascata  que  o  ICMS  causa  em  outros
       e  Serviços).  Com  isso,  a  isenção  do  imposto  nas   no  enfrentamento  da  pandemia.  Com  medo  do   impostos  e  contribuições,  como  o  ISS,  PIS  e
       operações com equipamentos e insumos destinados   novo  coronavírus,  hospitais, clínicas, laboratórios   COFINS.
       à  prestação  de  serviços  de  saúde,  garantida  pelo   e  outros  serviços  privados  viram  sua  clientela   O Decreto 65254/20 tratou de manter a isenção
       Convênio  CONFAZ  (Conselho  Nacional  de  Política   sumir. Estimativas do SindHosp mostram que essas   das vendas aos hospitais públicos e santas casas.
       Fazendária) 01/99, está ameaçada. Esses produtos   empresas perderão este ano o equivalente a dois   Mas temos no país um Sistema Único de Saúde e
       podem ser tributados, a partir de janeiro,  com   faturamentos  mensais.  O  aumento  indiscriminado   é  inadmissível  que  os  governos  não  tratem  com
       alíquotas que podem ir a até 18%.          no preço dos Equipamentos de Proteção Individual   isonomia  a  prestação  de  serviços  nesse  setor,
         De todos os tributos estaduais, o ICMS é a maior   (EPIs) e os cuidados redobrados para a segurança   seja realizada por entidades públicas ou privadas.
       fonte arrecadatória dos estados. A crise provocada   do paciente também contribuíram para aumentar o   Aliás,  durante  a  pandemia  o  setor  privado  deu
       pela Covid-19 fez a arrecadação dos estados encolher   custo da assistência. A indústria e os distribuidores   inúmeras  demonstrações  da  sua  importância  na
       quase 9,2% nos nove primeiros meses deste ano, e   da  saúde  também  foram  altamente  impactados   assistência da população. Onerar esse setor com
       11,24%  na  região  Sudeste,  quando  comparada  ao   durante a pandemia com a desvalorização de quase   aumento de impostos é um grande erro. Saúde é
       mesmo período de 2019. Com o objetivo de tentar   50%  do  real  frente  ao  dólar,  com  problemas  de   um setor essencial e merece tratamento tributário
       equilibrar o caixa em 2021, o Governo de São Paulo   logística e aumento do frete. Como se vê, não foi   diferenciado.
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