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Opinião
Dr. Wilson Shcolnik
Médico patologista clínico, presidente da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica
(Abramed) e do Conselho de ex-presidentes da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/
Medicina Laboratorial (SBPC/ML), vice-presidente do SINDHOSP, membro da Sociedade Brasileira
para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp) e da Câmara Técnica de
Segurança do Paciente do CFM
presidencia@abramed.org.br
Diagnóstico seguro - Aprendendo com os erros e evitando reincidências
Quando pensamos em segurança do paciente, a Felizmente, uma pequena proporção de erros no BMJ Quality & Safety, entre as falhas diagnósticas
história e a literatura nos mostram que avançamos laboratoriais resulta em dano real ao paciente. relacionadas a exames laboratoriais estão solicitação
consideravelmente ao longo do tempo. Hoje, por Segundo relatado na Clinical Chemistry and Laboratory inapropriada de testes, falha na solicitação de exames
exemplo, os erros em medicina laboratorial estão Medicine, publicação da Federação Europeia de indicados para esclarecimento do caso clínico, má
concentrados em uma vertente totalmente diferente Química Clínica e Medicina Laboratorial, o risco de interpretação e utilização dos resultados dos exames
da observada no século passado. eventos adversos causados por erros laboratoriais solicitados, atraso na execução do exame e resultados
No passado, muitos dos incidentes ocorriam por varia de 2,7% a 12%. Essa porcentagem reduzida se inexatos.
conta do desempenho analítico dos exames, cenário deve ao fato de investirmos em inúmeras barreiras Como uma extensão do reconhecido relatório
que conseguimos reverter com a automação dos e camadas de defesa. Paralelamente, o percentual Errar é Humano, publicado pelo Institute of Medicine
processos, melhorias tecnológicas, padronizações, de incidentes devido à assistência inapropriada, que dos Estados Unidos no fim da década de 1990 dando
definição de boas práticas e mais efetividade nos pode incluir pedidos de exames desnecessários, início a um amplo debate sobre segurança do paciente,
programas de controles internos e externos, além de chega a 30%. o Instituto lançou a publicação Improving Diagnosis in
capacitação profissional. Porém, mesmo com tantas construções Health Care. O documento reconhece a necessidade
Hoje enfrentamos outros percalços, muitos deles focadas em prevenir o erro, falhas podem ocorrer. de os sistemas de saúde endereçarem os erros
devido à vulnerabilidade das fases pré e pós analíticas, É, inclusive, o que prediz a Teoria do Queijo Suíço, diagnósticos como um imperativo moral, profissional
o que reforça a necessidade de termos controle, percepção cunhada pelo inglês James Reason e de saúde pública, nos mostrando ser absolutamente
qualidade e certificações durante todo o processo sobre a causalidade de incidentes que “furam importante identificarmos falhas potenciais para,
laboratorial. A norma técnica ISO/TS 22.367, publicada barreiras sequenciais”, muito utilizada no contexto então, saná-las. Adicionalmente reforça o papel do
em 2008 e atualizada recentemente, vem justamente da segurança do paciente. Aliás, é inegável que os profissional de laboratório como integrante de equipe
ao encontro desse objetivo ao tratar da redução do erros diagnósticos estão diretamente atrelados diagnóstica.
erro laboratorial por meio do gerenciamento do risco à segurança. Diagnósticos errados, atrasados, ou Por fim, precisamos continuar trabalhando para a
e da melhoria contínua. não realizados colocam o prognóstico e a vida dos construção de uma cultura organizacional que valorize
Existem processos mais ou menos suscetíveis a cidadãos em risco. a cada dia mais o diálogo, a transparência entre as
falhas, que variam de acordo com o ambiente e os No âmbito laboratorial – não podemos esquecer equipes e que permita a revelação dos erros ocorridos
recursos disponíveis. E já está provado que os erros que grande parte das decisões clínicas são tomadas naqueles ambientes. É preciso eliminar a cultura da
ocorrem mais frequentemente por causa de falhas com base em resultados de exames laboratoriais punição para que os trabalhadores da saúde tenham
sistêmicas, e não individuais. Essa última ocorre –, existem algumas causas de erros listadas na confiança em seus parceiros para relatar as falhas,
quando há violação de regras já definidas. literatura. Segundo artigo norte-americano publicado transformando-as em aprendizado.
Luiz Fernando Barcelos
Presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas
- SBAC, biênio 2019 / 2021
Portador do TEAC nº 0558
barcelos@sbac.org.br
A pesquisa de anticorpos da Covid-19
O SARS-CoV-2 é imediatamente identificado disponíveis no mercado não devem ser utilizados para o vírus, embora em menor intensidade. Por isso,
quando penetra no nosso organismo, provocando verificar o nível de proteção contra o novo coronavírus vacinados ou não vacinados devem continuar a usar
uma resposta que envolve linfócitos, monócitos, após vacinação. Estes testes não tem esta finalidade”. máscara, manter o distanciamento social e a higiene
neutrófilos, basófilos, eosinófilos e macrófagos. A Os laboratórios têm disponíveis para oferecer das mãos.
resposta denominada inata é imediata, realizada por aos clientes a pesquisa de anticorpos IgA, IgM e Por fim, os exames de anticorpos não foram
algumas células diretamente no local onde o agente IgG anticorpos totais e anticorpos neutralizantes – desenvolvidos para avaliarem o grau de proteção
agressor se encontra. Após algum tempo, teremos a relacionados à resposta humoral, mas que, como já individual, mas são de grande importância para
resposta celular e humoral um pouco mais demoradas vimos, representam apenas uma pequena parte da desenharem o cenário epidemiológico. É importante
e mediadas pelos linfócitos. complexa resposta imunológica do organismo. Como que os laboratórios fiquem atentos no atendimento
A imunidade celular depende dos linfócitos essa pandemia vem extrapolando nossa angústia aos seus clientes, solicitando informações quanto a
T, enquanto que a humoral será realizada pelos natural e compreensível, a COVID-19 tem levado a data em que ocorreu a doença ou a 2ª dose da vacina –
linfócitos B, responsáveis pelo desenvolvimento dos sociedade a procurar, de forma quase compulsiva, um já que é aconselhável realizar estes testes no mínimo
anticorpos IgA, IgM e IgG. Este conjunto de defesas exame cujo resultado lhes conceda a tranquilidade 30 dias após.
do organismo são ativados após a aplicação das almejada. Também deve-se levar em consideração o tipo
vacinas, impedindo a doença ou, pelo menos, a sua Desta forma, a procura para realizar pesquisas de de vacina recebida para verificar se o teste do seu
forma mais grave. anticorpos tem aumentado significativamente. Diante laboratório é capaz de detectar a região S ou N,
A infecção pelo SARS-CoV-2 é ainda muito nova de tantas incertezas, cabe aos laboratórios o cuidado informando detalhadamente todos os aspectos que
e deve ser analisada por meio dos conceitos já de oferecerem informações corretas e detalhadas, envolvem os exames para evitar clientes frustrados e
conhecidos de outras doenças infecciosas, além minimizando, sempre que possível, as falsas insatisfeitos após receberem os resultados.
de alguns outros que já aprendemos com esta expectativas e interpretações. Também é importante Enquanto isso, a sociedade de maneira geral
infecção. Vimos que a resposta imunológica pós- registrar que testes realizados fora de um laboratório deve ter o cuidado de não interpretar erroneamente
vacina ocorre sempre, mas numa intensidade ainda não possuem controle da qualidade, segurança e os resultados ou de concluir que as vacinas não
não bem conhecida. Portanto, todos que fizerem ambiente adequados, necessitando de confirmação funcionam – o que cria um clima de descrédito com
quaisquer das vacinas disponíveis podem ter a dos resultados por um laboratório, acarretando assim, a única arma que dispomos atualmente, levando a
certeza de que desenvolverão imunidade, embora custos desnecessários ao cliente. população a relaxar a vacinação. Afinal, a vacinação
não de 100% - como já acontece com quase todas Um resultado indicando que o teste não detectou pode ser uma atitude individual, mas possui reflexos
as vacinas. os anticorpos não pode ser conclusivo de que a no coletivo da sociedade. Assim, a efetividade das
É aí que surge uma grande questão: temos como vacina não foi efetiva. Assim, também um resultado vacinas deve ser avaliada pelo o impacto na população
avaliar com certeza essa imunidade por meio de indicando que o teste detectou anticorpos não pode por meio do número de contágios, internações, casos
exames laboratoriais? A resposta infelizmente é: promover o relaxamento dos cuidados. As vacinas graves e óbitos.
ainda não. Sobre este assunto, a Agência Nacional protegem fortemente o desenvolvimento da doença Esperamos, o mais rápido possível, novas
de Vigilância Sanitária expediu uma nota: “A Anvisa grave e, em menor grau, os casos médios e leves. Mas informações capazes de desenhar um cenário de
alerta que os testes para diagnóstico de COVID-19 as pessoas ainda podem ser infectadas e transmitirem maior conhecimento e domínio da doença.
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