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Opinião
Dr. Carlos Eduardo dos Santos Ferreira Dr. André M. Doi
Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial para o biênio Médico Patologista Clínico
2020-2021 Setor de Microbiologia
Gerente Médico do Departamento de Patologia Clínica. Laboratório Clínico - Sociedade Laboratório Clínico do Hospital Albert Einstein
Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
Coordenador Médico do Setor de Imunoquímica do Laboratório Central do Hospital São andre.doi@einstein.br
Paulo - Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal São Paulo (EPM/UNIFESP)
presidente@sbpc.org.br
O laboratório clínico e as sub-variantes da cepa Delta
A variante Delta foi detectada pela primeira recentemente designada AY.33, contém 4 possam realizar validações específicas de suas
vez na Índia em dezembro de 2020. No Brasil, mutações nos genes da proteína S: S:29A, metodologias frente a esta nova variante e
os primeiros casos começaram a ser reportados S:250I, S:299I, S:613H. Essa sub-variante têm outras que possam surgir.
em meados de junho deste ano. Desde sido reportadas em diversos países da Europa, Todo esforço dos diferentes players mercado
então, tornou-se a variante mais comumente especialmente Dinamarca, Alemanha e Suécia. do diagnóstico invitro, destacando o trabalho
encontrada no país em detrimento da variante Recentemente, em Belém do Pará, foi reportada incansável dos analistas, médicos e pesquisadores
P1 (gama). esta sub-variante e ficou a preocupação se os da nossa Medicina Laboratorial continua sendo
A transmissibilidade para essa variante é cerca testes disponíveis de RT-PCR seriam capazes de fundamental para continuarmos nesta batalha
de 2 vezes maior que as variantes anteriores. A carga identificar esta nova cepa. contra o Sars-Cov2.
viral em pacientes com infecção por variante Delta Grande parte dos ensaios de RT-PCR
é cerca de 1,26 vezes maior quando comparada com disponíveis no mercado nacional tem como Referências
outras variantes como Alfa e Gama. Em pacientes alvo dois genes, incluindo o Nucleocapsídeo. Proposal to designate parent lineage of AY.33 and
não vacinados, estudos sugerem maiores taxas de As mutações desta sub-variante acometeram o call AY.33 -> AY.33.1. Acessado em https://github.com/
hospitalização. gene da proteína S. Teoricamente os ensaios que cov-lineages/pango-designation/issues/219. Último acesso
Já em indivíduos vacinados, a maior comtemplam 2 alvos são capazes de detectar a 26/2/10/2021.
Delta Variant: What We Know About the Science. CDC
preocupação é devido à maior transmissibilidade sub-variante. 2021. Acessado em https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-
uma vez que não há evidência de maior Porém, é importante que continuemos ncov/variants/delta-variant.html. Último acesso em
morbimortalidade nessa população. Pacientes a vigilância epidemiológica no país com a 26/10/2021.
vacinados parecem disseminar o vírus por um realização da genotipagem de parte dos casos Global Virus Network. Acessado em https://gvn.org/
tempo bem menor quando comparado com os positivos para que possamos evidenciar o covid-19/delta-b-1-617-2/. Último acesso em 26/10/2021.
não vacinados. potencial avanço desta nova linhagem (AY.33) Krause et al. SARS-CoV-2 Variants and Vaccines. NEJM.
Uma linhagem sub-variante da Delta, pelo país. E que os laboratórios clínicos do Brasil 2021
Prof. Dr. Paulo Cesar Naoum
Professor Titular pela UNESP
Diretor da Academia de Ciência e Tecnologia,
Acadêmico da ARLC
a.c.t@terra.com.br
A evolução humana explica a COVID 19
Há 70 milhões de anos, quando o processo permaneceram na África. Os H. sapiens do imunes de outros tantos. Nos últimos cem anos
de evolução dos primatas sofreu a mais hemisfério norte viviam mais tempo agrupados aconteceram vários episódios de pandemias
significativa derivação morfológica em direção em cavernas para se protegerem dos invernos com destaque para a gripe espanhola (1918 a
ao ancestral hominídeo comum, supõe-se rigorosos e se especializaram em estratégias 1920), causada pelos vírus H1N1. Esta pandemia
que as radiações solares já os afetavam e de sobrevivência, buscando outras regiões se alastrou entre os soldados que participaram
as contaminações por vírus e bactérias já os que tivessem água e alimentos em abundância. da Primeira Grande Guerra e rapidamente
infectavam. Muito tempo depois, há 3 milhões Estas buscas permitiram contatos com outros infectou todas as regiões da Europa. Ao término
de anos atrás, a derivação evolutiva fez surgir H. sapiens através dos quais se contaminaram da guerra, europeus imigrantes que fugiram da
o Homo habilis, que na sequência milenar de com agentes infectantes, disseminando-os, pobreza que avassalou o continente europeu
transformações resultou o Homos erectus em seguida, a membros de suas comunidades difundiram o H1N1 para populações dos outros
(cerca de 1,8 milhão de anos). quando retornavam para elas, causando pestes continentes.
O H. erectus se deslocava em bandos em e epidemias. Imagina-se que os sobreviventes A recente pandemia da covid 19 se deveu
busca de alimentos, o que também nos faz desses contágios tornaram seus sistemas às intensas mobilidades internacionais de
presumir que contágios por microrganismos imunes mais resistentes e especializados. turismos e negócios ocorridas entre os
infecciosos estimularam seus sistemas imunes O desenvolvimento humano ordenado anos 2000 e 2019, dispersando diversos
ainda em formação. O desenvolvimento natural surgiu há 3,5 mil anos atrás notadamente microrganismos e, em particular, o coronavírus
desta espécie fez com que o cérebro se tornasse com as civilizações sumeriana, grega, egípcia SARS-CoV-2, cujo epicentro ocorreu na China.
discretamente maior, modificando a linhagem e romana. Estas civilizações deram origens Comparando os efeitos da gripe espanhola,
evolutiva para Homo sapiens (cerca de 300 mil às comunidades organizadas em aldeias e que matou 10% das pessoas dos 500 milhões
anos atrás). Este progresso anatomofisiológico vilarejos, também promoveram guerras com de pessoas infectadas pelo H1N1 num universo
produziu a fala, a comunicação e a sociabilidade mais frequências e iniciaram a escravização dos mundial de 2 bilhões de pessoas, com a
das pessoas com objetivos comuns. Entre 120 vencidos, e na sequência dos fatos espalharam pandemia covid 19, que matou 2,1% dos 200
mil e oito mil anos atrás, os H. sapiens passaram surtos epidêmicos de doenças infecciosas milhões de pessoas infectadas até o momento,
a buscar alimentos em regiões diferentes aos que dizimaram milhares de pessoas. Acredita- num universo de 7,5 bilhões de pessoas,
de seus habitats, dispersando-se inicialmente se, assim, que os sistemas imunes dessas conclui-se que a espécie humana é resiliente
da África para a Europa e Ásia, e depois para as civilizações aumentaram suas capacidades por suas propriedades orgânicas, intelectuais
Américas e Oceania. Os que se dirigiram para de proteção contra microrganismos. Outras e organizacionais. Estas qualidades adquiridas
o norte europeu sofreram adaptabilidades informações históricas de contaminações ao longo da nossa evolução, incorpora, agora,
genéticas que resultaram na diminuição de importantes ocorreram na Idade Média com os meios de defesas contra o coronavírus, e
melanina devido a escassa radiação solar, as Cruzadas e com os descobrimentos das certamente a nossa “biblioteca imunológica”
fazendo com que suas peles ficassem mais Américas e Oceania, dizimando milhares de continuará crescendo e se especializando para
claras, fato que não aconteceu com os que nativos e tornando resistentes os sistemas vencer outros desafios.
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