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Artigo
Código help: questão de ética
médico titular. Quanto mais graves os casos do morais. Há um contingente de médicos de
doente, maiores os riscos. formação inadequada (em geral formados em
Lamentavelmente, existem muitos que não faculdades de fundo de quintal) que aceitam
estão minimamente preocupados com o bem- ser engessados por protocolos, o que afronta
Antonio Carlos Lopes, estar de pacientes. Vivem prontos para ajoelhar a medicina humanística e os direitos dos
presidente da Sociedade e atender aos interesses institucionais. cidadãos.
Brasileira de Clínica
Médica Um bom hospital não se presta a tal prática. O desabafo deve-se a minhas crenças
Deveria haver regra rígida para o banimento pessoais. Penso, ou melhor, tenho convicção
de gestores e médicos desconectados com a de que nada pode estar acima da conduta e da
assistência de qualidade e a boa medicina. decisão do bom profissional de medicina.
Tantos absurdos recorrentes apenas As mudanças são urgentes e é obrigação
compravam ausência de caráter e de princípios apontar malfeitos a serem corrigidos.
Não bastassem os problemas de
financiamento, a falta de acesso, os desvios
de verbas públicas e a má gestão, entre tantas
outras falhas, a saúde do Brasil enfrenta
nova mazela neste início de século XXI.
Recentemente, o Tribunal de Justiça firmou
parecer de que o médico é responsável pelo
doente, não instituições com arremedos
de protocolos, muitos propondo condutas
erradas, infelizmente acatadas por médicos de
formação questionável.
A propósito, é cada vez comum médicos
seguindo protocolos equivocados e dispendiosos
sem contestá-los. Dignidade, defesa de valores,
zelar pelos pacientes e pelo uso correto de
recursos econômicos e humanos quase não têm
mais peso na rotina de diversas instituições.
Profissionais que não honram o juramento
de Hipócrates e de formação medíocre
simplesmente dizem amém, quando o
cumpra-se vem de cima. Assim, os protocolos
ameaçam pacientes, colocando suas vidas em
jogo, enquanto hospitais somam superávits
estratosféricos e abrem novas unidades, como
se ergue um boteco.
Essa falta da ética tem consequências
diversas. Antigamente, havia hospitais
diferenciados, ao menos no campo da
moralidade. Eram obstáculo a recursos
humanos desqualificados e mal-intencionados.
Com o passar dos anos, aventureiros passaram
a assumir a administração de vários deles,
transformando-os em campo propício às más
práticas.
Distintos hospitais atropelam médicos
titulares, apossando-se de seus pacientes e
jogando-os nas mãos de sua equipe própria.
Isso apenas para garantir lucros vultosos.
O resultado, já disse, são vidas em perigo,
tratamentos retrocedendo e prejuízos de toda
a ordem ao sistema de saúde.
A vassalagem e a antiética caminham
juntas em um terreno de conivência. Os órgãos
responsáveis por fiscalizar desvios de médicos
e diretores clínicos omitem-se, favorecendo o
jogo do poder.
É absolutamente antiético escalar
colaboradores para tratar dos pacientes cujo
acompanhamento sempre foi seguido por um
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