Page 21 - Jornal Labor News Digital
P. 21

Artigo
                                        Código help: questão de ética




                                                  médico titular. Quanto mais graves os casos do   morais. Há um contingente de médicos de
                                                  doente, maiores os riscos.                  formação inadequada (em geral formados em
                                                     Lamentavelmente, existem muitos que não   faculdades de fundo de quintal) que aceitam
                                                  estão minimamente preocupados com o bem-    ser engessados por protocolos, o que afronta
        Antonio Carlos Lopes,                     estar de pacientes. Vivem prontos para ajoelhar   a medicina humanística e os direitos dos
       presidente da Sociedade                    e atender aos interesses institucionais.    cidadãos.
         Brasileira de Clínica
                  Médica                             Um bom hospital não se presta a tal prática.   O desabafo deve-se a minhas crenças
                                                  Deveria  haver  regra  rígida  para  o  banimento   pessoais. Penso, ou melhor, tenho convicção
                                                  de gestores e médicos desconectados com a   de que nada pode estar acima da conduta e da
                                                  assistência de qualidade e a boa medicina.  decisão do bom profissional de medicina.
                                                     Tantos  absurdos   recorrentes  apenas     As  mudanças  são  urgentes  e  é  obrigação
                                                  compravam ausência de caráter e de princípios   apontar malfeitos a serem corrigidos.

          Não   bastassem   os   problemas   de
       financiamento,  a  falta  de  acesso,  os  desvios
       de verbas públicas e a má gestão, entre tantas
       outras falhas, a saúde do Brasil enfrenta
       nova mazela neste início de século XXI.
       Recentemente,  o  Tribunal  de  Justiça  firmou
       parecer de que o médico é responsável pelo
       doente, não instituições com arremedos
       de protocolos, muitos propondo condutas
       erradas, infelizmente acatadas por médicos de
       formação questionável.
          A propósito, é cada vez  comum médicos
       seguindo protocolos equivocados e dispendiosos
       sem contestá-los. Dignidade, defesa de valores,
       zelar pelos pacientes e pelo uso correto de
       recursos econômicos e humanos quase não têm
       mais peso na rotina de diversas instituições.
          Profissionais que não honram o juramento
       de Hipócrates e de formação medíocre
       simplesmente dizem amém, quando o
       cumpra-se vem de cima. Assim, os protocolos
       ameaçam pacientes, colocando suas vidas em
       jogo,  enquanto hospitais  somam  superávits
       estratosféricos e abrem novas unidades, como
       se ergue um boteco.
          Essa falta  da ética  tem consequências
       diversas.  Antigamente,  havia   hospitais
       diferenciados,  ao menos  no campo da
       moralidade. Eram  obstáculo  a  recursos
       humanos desqualificados e mal-intencionados.
       Com o passar dos anos, aventureiros passaram
       a  assumir a  administração  de vários deles,
       transformando-os  em campo  propício às más
       práticas.
          Distintos hospitais atropelam médicos
       titulares, apossando-se de seus pacientes e
       jogando-os nas mãos de sua equipe própria.
       Isso apenas para garantir lucros vultosos.
       O resultado, já disse, são vidas em perigo,
       tratamentos retrocedendo e prejuízos de toda
       a ordem ao sistema de saúde.
          A vassalagem e a antiética caminham
       juntas em um terreno de conivência. Os órgãos
       responsáveis por fiscalizar desvios de médicos
       e diretores clínicos omitem-se, favorecendo o
       jogo do poder.
          É   absolutamente   antiético  escalar
       colaboradores para tratar dos pacientes cujo
       acompanhamento sempre foi seguido por um
                                                                               21
                                                                               21
   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25   26