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Opinião



                     Dr. Dácio Eduardo Leandro Campos
                     Presidente do CRBM – 1ª Região
                     presidencia@crbm1.gov.br

                                                Reflexos da insensatez


         No instante em que iniciamos um novo  ano   a ajuda veio tarde para muitos deles.    país,  distanciamento  social  é  fundamental  nesse
       vemo-nos  envolvidos  emocionalmente  com  um   Há meses estamos nessa condição de pandemia.   momento.  Aos  governantes  e  entidades  da  área
       cenário cruel da realidade da saúde pública no Brasil,   Ela  não  se  apresentou  nos  últimos  dias  para   da  saúde  cabe  ainda  informar  a  população  com
       especialmente na região norte de nosso país. O fato   justificar essa inação. Acompanhamos, de início, o   urgência e insistentemente, esclarecer sobre a
       não é novidade. A nova é que deixaram acontecer   surgimento e as providências na Europa, na própria   doença, a prevenção  e, sobretudo, destacar a
       outra tragédia mais uma vez!               China... Algumas acertadas, outras não, é verdade.  responsabilidade de cada um.
         As  imagens  e  depoimentos  de  profissionais   E aqui em nosso país não temos como enaltecer   Quantos mais pagarão com vida a insensatez de
       de  saúde  de  Manaus  e  cidades  próximas  que   qualquer esforço. Faltou planejamento? Estratégia?   alguns?
       nos  chegam  sobre  as  circunstâncias  enfrentadas   Alguns vão responsabilizar a nova variante do vírus,   Como biomédico, à frente do Conselho Regional
       no trabalho diário, com falta de leitos e insumos   mas a verdade é que carecemos nesse momento de   de Biomedicina (CRBM1), com décadas dedicadas
       – e, veja você, mais recentemente o oxigênio (!)   força política, segurança e vontade para enfrentar   à profissão, entendo que temos no país preparo e
       -,  o  aumento  exagerado  no  número  de  pessoas   as opiniões contrárias, tomar medidas impopulares   potencial técnico e humano para fazer mais pelas
       que  procuram  as  unidades  de  saúde,  os  óbitos   e gritar mais alto: somos nós ou o vírus.  pessoas,  temos  a  ciência ao nosso  lado  e  ampla
       crescentes...  revelam  o  quão,  como  nação,   É hora de nos abraçarmos como irmãos que   capacidade  de  formação  de  nossos  profissionais
       estamos  distantes  de  uma  mínima  condição   somos.  Darmos  à  ciência  a  credibilidade  que   para  momentos  de  crise  sanitária  como  esse.
       satisfatória  nos  serviços  de  saúde  ofertados  à   lhe  é  devida.  É  tempo  de  fortalecer  e  apoiar   Precisamos  é  de  líderes  éticos  e  comprometidos
       população.                                 os  bravos  profissionais  da  saúde.  De  combater   na condução de medidas que se mostrem eficazes.
         E  a  culpa  não  é  do  SUS!  Tampouco  dos   informações  equivocadas.  Cuidar  de  nossa   Que  se  antecipem  aos  problemas  e  ofereçam
       profissionais,  que,  guerreiros,  juntam  forças  para   família, de nossos amigos, de nosso entorno, de   respostas.  Necessitamos  ainda  do  entendimento
       o  enfrentamento  desse  caos.  A  culpa  é  de  quem   nossa comunidade.              e  da  colaboração  da  população  para a  adoção
       assiste a esse cenário e, podendo, nada faz.  As  vacinas  começam  a  chegar,  é  verdade.   dos protocolos de prevenção. Somos uma gigante
         Esgotados, muitos médicos, enfermeiros e demais   Mas  em  número  ainda  insuficiente  para  amenizar   nação e não podemos nos apequenar em gestos de
       profissionais da saúde desses hospitais alertaram para   a pandemia e autorizar outra conduta que não   egoísmo e indiferença.
       a iminência desse colapso. Gritaram por socorro, mas   seja  a  da  prevenção.  De  norte  a  sul  de  nosso   Saudações biomédicas!



                     Dra. Angela Satie Nishikaku
                     Biomédica formada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP-Botucatu). Mestre e doutora em Ciências na área
                     de Imunologia, pelo Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo (USP).
                     Realizou o pós-doutorado no Laboratório Especial de Micologia, pela Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina, Universidade
                     Federal de São Paulo (UNIFESP).
                     Atualmente pertence ao corpo técnico do Centro de Diagnóstico e Pesquisa em  Biologia Molecular Dr Ivo Ricci
                      info@biomolricci.com
                                 Importância do diagnóstico precoce da

                             Hanseníase no combate efetivo da doença


          A  Hanseníase  é  uma  doença  crônica,   sinais e sintomas da doença incluem alteração de   infecção de doença ativa, contribuindo para o
       infectocontagiosa   milenar,   de   notificação   sensibilidade na pele, manchas na pele, perda de   tratamento em tempo oportuno e prevenindo a
       compulsória,  que  afeta  principalmente  países  de   força nos membros, dormência e lesões ósseas,   discriminação e o estigma social dos pacientes.
       menor  poder  aquisitivo,  associados  às  condições   associadas às deformidades e incapacidades   Técnicas  de  biologia  molecular,  como  PCR
       de maior aglomeração e de grandes desigualdades   físicas que causam discriminação e estima social   convencional e nested PCR, PCR em tempo real
       socioeconômicas. Segundo a Organização Mundial   aos pacientes e familiares. A doença é curável se   quantitativa (qPCR) e sequenciamento do DNA,
       da  Saúde,  202.189  novos  casos  de  Hanseníase   tratada precocemente, a partir da combinação de   demonstram  ser  muito  úteis  em  laboratórios
       foram diagnosticados no mundo em 2019, dos quais   diferentes  antimicrobianos  (poliquimioterapia),   de  referência  em  Hanseníase,  não  apenas  para
       a Índia representa o país com o maior número de   disponíveis no sistema público de saúde.  fins diagnósticos, mas também para estudos
       casos (>50%), seguido por Brasil (14%) e Indonésia   Apresenta um amplo espectro de formas   epidemiológicos e para a  detecção de genes
       (9%).  Do  total  de  casos  notificados  nas  Américas   clínicas,  classificadas  de  acordo  com  o  padrão   de  resistência  aos  medicamentos.  A  PCR  tem
       em  2018,  92,6%  deles  foram  registrados  somente   de  resposta  imune  e  o  número  de  lesões,   alta especificidade, enquanto a sensibilidade
       no Brasil; dados epidemiológicos do Ministério da   bacilos  e  acometimento  do  tronco  nervoso:  1)   pode  ser  variável  em  pacientes  PB  (34-80%)  e
       Saúde  em  2019  registraram  maior  concentração   paucibacilar - PB (indeterminada e tuberculoide);   maior  que  90%  em  pacientes  MB.  A  PCR  pode
       dos casos nos estados do Mato Grosso, Tocantins   2)  multibacilar  -  MB  (dimorfa  e  virchowiana  ou   ser  útil  no  diagnóstico  diferencial  em  doenças
       e Maranhão.                                lepromatosa). A gama de manifestações clínicas   de  pele,  como  pitiríase  alba,  leishmaniose,
          O principal agente etiológico da Hanseníase   dificulta o diagnóstico definitivo da Hanseníase,   tuberculose  cutânea  e  sarcoidose,  nas  quais
       é  a  bactéria  Mycobacterium leprae,  bacilo   baseado  em  achados  clínicos  e  exames   a  histopatologia  é  inconclusiva.  O  diagnóstico
       intracelular obrigatório, não cultivável, cuja   laboratoriais, como a baciloscopia (coloração de   molecular realizado a partir de tecido fresco ou
       fonte mais provável de transmissão é o     Ziehl-Neelsen)  de  material  de  raspado  de  pele   fixado em formalina e emblocado em parafina
       contato  com  gotículas  aéreas  da  saliva  ou   ou mucosa nasal e a histopatologia em biópsia   (FFPE)  é  considerado  sensível  e  específico
       secreção nasal de pacientes, não tratados,   de  pele  ou  nervo  espessado.  A  baciloscopia   para a identificação do agente causador da
       com  a  forma  multibacilar  (MB)  da  doença,  por   e a histopatologia, embora sejam técnicas de   Hanseníase. Portanto, métodos para análise de
       períodos  prolongados  de  exposição  ao  bacilo.   baixo custo, não são eficazes para o diagnóstico   DNA do patógeno podem auxiliar no diagnóstico
       A  doença  acomete  indivíduos  de  diferentes   de  formas  PB  ou  detecção  de  contactantes.   assertivo da doença em pacientes suspeitos
       faixas etárias e de ambos os gêneros, afetando   A  baciloscopia  negativa  não  exclui  a  doença.   com  lesões  cutâneas  clinicamente  sugestivas
       predominantemente a pele, os nervos periféricos,   Os   métodos   diagnósticos   convencionais   ou atípicas, apresentando baciloscopia negativa
       a mucosa do trato respiratório superior e os   apresentam baixa sensibilidade e especificidade,   e  histopatologia  inconclusiva  ou  indivíduos
       olhos. M. leprae apresenta tropismo para células   limitando a acurácia na detecção da doença nos   com  a  hanseníase  neural  pura  ou  a  forma
       de  Schwann e histiócitos e queratinócitos na   programas  de  vigilância  para  erradicação  da   indeterminada, que apresentam baixa carga
       pele, o que favorece o desenvolvimento de   Hanseníase.                                bacteriana.
       lesões neurais e cutâneas. A evolução da doença   Neste  sentido,  o  diagnóstico  precoce   Bibliografia. As referências bibliográficas serão enviadas,
       é muitas vezes lenta e progressiva. Os principais   e  confiável  é  primordial  para  diferenciar   quando solicitadas.
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