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Entrevista
LaborNews – O Brasil hoje consegue fazer a todos os países que tiverem acesso, diminuindo LaborNews – Na Ásia, é comum a presença
vigilância genômica do SARS-CoV-2? as hospitalizações e os óbitos. Outro foi no de pessoas usando máscaras para proteção do
Dra. Marilda – Esse vírus nos permitiu ter um conhecimento clínico, que possibilitou que vizinho. O brasileiro também terá esse cuidado
grande avanço em questão de conhecimento descobríssemos que não se trata apenas de uma daqui para frente? Podemos dizer que a Covid-19
genômico. A incrível plataforma da OMS [GISAID doença respiratória. O uso de corticosteróides e mudou o comportamento do brasileiro em relação
- Global Initiative on Sharing All Influenza anti-inflamatórios em determinados momentos, a doenças transmissíveis?
Data], espaço no qual as pessoas colocam seus de acordo com quadro clínico do paciente, salvou Dra. Marilda – Não. Uma parte da população
dados, tem mais de nove milhões de sequências vidas – e normalmente não é comum para outros talvez tenha aprendido como prevenir-se e tratar
disponibilizadas no prazo de dois anos. Esse vírus respiratórios. O conhecimento clínico foi melhor infecção respiratória. O brasileiro tinha o
compartilhamento foi também um dos enormes muito grande, e não somente porque tivemos costume de trabalhar gripado, e isso vai diminuir.
avanços gerados pela pandemia, e veio para muitos pacientes com quadros diversos, mas Algumas pessoas já têm a consciência de manter
ficar. O conhecimento genômico pode impactar também porque houve um compartilhamento certo distanciamento, principalmente se moramos
nas decisões de mudanças, ou não, das cepas de informações em tempo real, o que permitiu com pessoas mais idosas ou com fatores de risco.
que acompanham as vacinas, na decisão de clinicamente responder melhor a questão, Então, existe um entendimento melhor dessa
kits diagnósticos – onde está a mudança do diminuindo o número de óbitos. Outro avanço questão. Quanto ao uso de máscaras como na
genoma – e impacta em novas drogas que estão foi o desenvolvimento rápido de alguns Ásia, é mais difícil. Lá eles têm comportamentos
sendo utilizadas. Nós temos várias questões nas antivirais, no momento são muito caros, mas diferentes dos nossos e existem outros fatores
quais a vigilância genômica ajuda a responder. estão se mostrando bastante promissores. O culturais e sociais, sendo difícil essa comparação.
Aqui no Brasil surgiram várias redes, como a desenvolvimento de testes rápidos é outra Mas uma porcentagem importante do brasileiro
rede genômica da Fundação Oswaldo Cruz, questão importante. entendeu esse impacto que as doenças respiratórias
que trabalha com a rede do Ministério nos provocam em nossas vidas e provavelmente uma
LACEN's, assim como várias universidades se LaborNews – O Brasil sempre foi referência porcentagem vai ter um comportamento mais
organizaram em redes para responder essas em vacinação, mas algumas doenças estão tendo adequado.
questões importantes. O número de dados que um auto índice de casos, como o sarampo? Por
nós temos no país de sequenciamento genômico quê? LaborNews – Temos visto várias mulheres
poderia ser melhor, sim, mas é o que se pode Dra. Marilda – Nos últimos anos, não é só na linha frente do enfrentamento à pandemia e
fazer no momento, entretanto, tem respondido em função da pandemia, já observávamos uma trabalhando com ciência e tecnologia...
várias perguntas e sido capaz de detectar o dificuldade das coberturas vacinais no país Dra. Marilda – Isso é muito importante. Eu
aparecimento de variantes em diferentes regiões ligadas a vários fatores – claro que a pandemia tenho a sorte de trabalhar na Fundação Oswaldo
do Brasil. É um caminho que está permitindo que prejudicou – mas muito pela falta de treinamento Cruz, que é um presente de vida. É uma instituição
estados e municípios avaliem as suas políticas das equipes em vários estados brasileiros. em que nós não enfrentamos problemas por ser
públicas para o planejamento do enfrentamento Também tivemos a ausência de vacina em mulher. Mas no geral, é importante observar a
da doença. determinados momentos e de campanhas de participação feminina no desenvolvimento da
educação em saúde para vacinação. Vários nossa sociedade porque precisamos não só de
LaborNews – Já sabemos que o SARS-CoV-2 fatores impactaram negativamente, e agora mão de obra qualificada, mas de pessoas que têm
não é somente uma doença respiratória e que pode estamos correndo para recuperar esse prejuízo sensibilidades diferentes em relação ao julgamento
provocar reinfecções. Além destas, quais foram as e com o risco de ver, assim como o Sarampo em ou à tomada de decisões. Um ambiente de trabalho
grandes descobertas sobre ele? 2018, o retorno de outras doenças, como Difteria, heterogêneo ajuda muito no crescimento de uma
Dra. Marilda – A rápida produção de vacinas foi Poliomielite, entre outras, devido à queda da sociedade mais igualitária, não só socioeconômica,
um grande avanço e isso impactou positivamente cobertura vacinal. mas em termo de gênero.
Opinião
Dr. Dácio Eduardo Leandro Campos
Presidente do CRBM – 1ª Região
presidencia@crbm1.gov.br
Vacine-se!
Desde o final de 2019, início de 2020, vimos e desafiadora. Temerosos, soubemos dar as mãos ser menos letal, mas também é responsável por casos
assistindo, inicialmente na China e, posteriormente, em e superar os momentos mais difíceis do contágio. graves e mortes. E dados de 2021 indicam que somente
países europeus, o surgimento de casos da COVID-19 Faltavam as vacinas. 72% das pessoas se vacinaram, quando o esperado
e suas consequências. Um exército formado por E com a intensificação de estudos nacionais e eram cerca de 90%. Em algumas localidades, o índice de
cientistas, especialistas, pesquisadores e profissionais internacionais, em tempo recorde, apresentou-se imunizados contra a gripe não passou de 50%. É pouco!
da saúde no mundo todo foi o responsável por ao mundo uma forma de preservar vidas, minimizar O que quero destacar é que os vírus continuam
identificar o vírus e desenvolver vacinas, inclusive no dores e as consequências de tão avassalador vírus: as circulando e, ainda que em menor medida, daqui
Brasil, onde a ciência é facilmente confundida pelos vacinas. para a frente vamos conviver anualmente com o Sars-
leigos como uma “disciplina”, uma área qualquer. Nossos profissionais também foram destaque CoV-2 e suas mutações, o Influenza, o H3N2... enfim,
Fomos fortes, vigilantes e, atentos, buscamos nas pesquisas, especialmente no sequenciamento não há como preservar vidas e evitar contágios sem a
formas de minimizar o contágio, com sucessivos genético dos vírus, e mais recentemente nas população estar atenta à vacinação. Todos precisam
estudos e compartilhando informações. A mídia de campanhas de imunização por todo o país. Muito nos entender a parcela de responsabilidade que possuem.
nosso país, sempre tão menosprezada, realizou junto orgulha ter acompanhado de perto e feito parte de A pandemia da COVID-19 levou crianças e adultos,
à saúde um papel fundamental na conscientização da toda essa evolução na ciência. parou o nosso e tantos outros países, aumentou a
população brasileira. Porém, mesmo vulneráveis ao contágio, muitos pobreza, a desigualdade social, e trouxe sérios danos
Vivemos (e, infelizmente, ainda sentimos) a parecem ainda não ter entendido que a mensagem é uma à economia mundial. Na área da saúde, retardou
pandemia. Mudamos hábitos, ampliamos o olhar para só: é preciso acreditar na ciência, confiar em especialistas diagnósticos, cirurgias e tratamentos de toda uma
as transmissões, mutações e tudo o que cerca esse e seguir as recomendações. Taí o ressurgimento de população. Na educação, foi responsável por impactar
novo coronavírus. doenças dadas como erradicadas no Brasil. o desenvolvimento de crianças e jovens. A formação
Como profissionais da saúde, especialmente Antecipando-se às previsões, em dezembro do profissional também se viu prejudicada... São muitas
os que estiveram na chamada “linha de frente” no ano passado o surto de gripe chegou ao país. O vírus as perdas para considerar. Não podemos ignorar os
enfrentamento da doença, em hospitais e postos Influenza era “aguardado’ para o final deste mês, com a fatos em nome de crenças e falsas notícias. Vamos
de saúde, experimentamos uma realidade dolorosa campanha de vacinação prevista para abril. A gripe pode fazer a nossa parte: vacine-se!
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