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Opinião
Dr. Carlos Eduardo dos Santos Ferreira
Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial para o biênio
2020-2021
Gerente Médico do Departamento de Patologia Clínica. Laboratório Clínico - Sociedade
Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
Coordenador Médico do Setor de Imunoquímica do Laboratório Central do Hospital São Paulo -
Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal São Paulo (EPM/UNIFESP)
presidente@sbpc.org.br
COVID-19 e seu impacto no diagnóstico e tratamento de doenças
As restrições para receber pacientes em hospitais, (1%). Apenas 14% não possuem nenhuma delas. Em deixando suas doenças descontroladas, que atrasou
a transferência de leitos para o tratamento da média, os entrevistados convivem com suas doenças o início do tratamento, dificultou seu diagnóstico ou
COVID-19 e o medo de pacientes de procurar ajuda há nove anos. Quando questionados, 72% dos que que não sabiam se a doença estava sob controle ou
médica derrubaram o número de consultas, exames possuem alguma doença descobriram através de não.
e cirurgias. Pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de sintomas, o que não acreditamos ser o ideal pois este Em relação ao controle da doença, é clara a
Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e diagnóstico pode ser tardio. O diagnóstico tardio piora percepção de que durante a pandemia a doença ficou
Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) a expectativa de vida principalmente quando se trata menos controlada. Antes da pandemia, 95% diziam
revela que o descuido com a saúde aumentou durante de câncer. que sua doença estava sob controle. E agora, durante
o período de pandemia. Considerando uma lista de 13 tipos de exames, a pandemia, esse índice cai para 80%.
A pesquisa revelou que 43% dos entrevistados com os mais adiados ou feitos em menor frequência, de Para justificar essa piora, os pacientes reportam
alguma doença crônica interromperam tratamento. acordo com os próprios pacientes, foram: sangue as seguintes dificuldades para manter a doença
Isso resultou ainda na redução dos exames (30%), mamografia (27%), preventivo de colo de útero sob controle: 73% stress e ansiedade, 29% devido à
laboratoriais. Mostrou, também, que 58% decidiram e exame de urina (24%), e eletrocardiograma (23%). dificuldade em manter uma alimentação adequada,
adiar ou fazer com menor frequência os exames Os exames que tiveram sua rotina de realização 21% por não ir com a frequência ideal ao médico e 9%
durante o período da pandemia. Apenas 1% aumentou menos alterada foram: Raio X (91%), Ressonância por não manter a atividade física regular.
esta frequência e 41% disseram não ter mudado esta Magnética (90%) e Tomografia Computadorizada Um ano após o início da pandemia da COVID-19,
rotina. (90%). o vírus ainda não parou de circular. Apesar de toda
Ainda entre os que adiaram ou diminuíram a Os tipos de exames mais adiados por sugestão gravidade da doença e da necessidade em se manter
frequência, 47% receberam indicação do próprio dos próprios médicos foram, na ordem: Sangue (22%), as medidas de controle, não podemos nos esquecer
médico, mas os outros 53% tomaram a decisão eles Ultrassonografia (11%), Tomografia Computadorizada que o cuidado com a nossa saúde é mais amplo. Outras
próprios. (11%), Colonoscopia / Endoscopia (6%), Ressonância doenças crônicas não podem ser negligenciadas visto
Foram entrevistadas 200 pessoas, em São Magnética (5%), Ecocardiograma / EcoDoppler (4%), que as consequências são críticas como o aumento da
Paulo e Rio de Janeiro. De modo geral, 6 em cada Fezes (4%), Raio X (4%) e Exames Pré-operatórios por morbimortalidade.
7 entrevistados (ou 86%) têm alguma das nove adiamento da cirurgia (4%). Vamos continuar focados no controle da
doenças questionadas: Diabetes (33%), Cardiovascular Entre os que adiaram a realização de algum disseminação do vírus, ampliando a cobertura
(26%), Tireoide e Gástrica (iguais 12%), Renal (8%), exame ou mesmo reduziram a sua frequência de vacinal e não esquecendo do controle das doenças
Neurológica (7%), Câncer (6%), Reumática (6%) e Aids realização, a maior parte admite que isso acabou crônicas.
Dr. Irineu Grinberg
Ex-Presidente da SBAC
Diretor da Lab Farm Consult
irineugrinberg@gmail.com
TENTANDO PENSAR, QUASE EM VOZ ALTA
Segunda parte - O BRASIL DE ESPERANÇA
No imenso mapa do Brasil existe um Estado, o Cabe então, é nossa atribuição, pesquisar o Entretanto, em se tratando de Laboratórios
que mais cresce, com uma população operosa, que nível do atendimento laboratorial à população de Análises Clínicas, a ocorrência citada não é
não renega trabalho, e que procura através de árdua desses municípios. Não existem surpresas. O nível hipotética. É uma realidade marcante, que ocorre
labuta, produzir e consumir o melhor em padrão vida dos Laboratórios é muito bom. A maioria, de porte com muito mais frequência do que possamos
para suas famílias e educação para os filhos. pequeno ou médio trabalha com excelência. Bons imaginar.
equipamentos, instalações adequadas e profissionais Em primeiro lugar nossos colegas poderiam e
O nome desse Estado é Esperança. com ótimo nível de informação e atualização. Chama a deveriam ter consciência da importância do seu
atenção um número exacerbado de estabelecimentos. trabalho e que as informações contidas nos laudos
Crescimento abundante através de indústria Numa das cidades, Frondosa Floresta com 70 mil laboratoriais estão muito acima da relação custo X
forte e diversificada, comércio sempre em evolução. habitantes existem 10 Laboratórios locais, mais três de benefício.
O agro negócio equipado com o que existe de municípios vizinhos que ali instalaram postos de coleta. A partir dessa conscientização aprenderão a
melhor, com base nas mais recentes tecnologias. Concorrência acirrada, encaminhada para uma valorizar seus trabalhos, pois são imprescindíveis
Novos empreendimentos imobiliários surgem a todo situação inoportuna e conflituosa. Declínio encaminhado para que exista Medicina de qualidade e
momento. de um sistema bem estabelecido, que pode e deve resolutividade.
Evidente está que os municípios dessa unidade da fornecer à população local um atendimento ao nível Constatarão também que existem muitas
federação acompanham todo crescimento, provendo da importância do Laboratório clínico no setor saúde e, formas e fórmulas de trabalho conjunto, a
ou tentando prover à sua população, com base também, às expectativas diferenciadas de comunidades começar por colaborações técnicas, troca de
numa classe média atuante e bem informada, o que exigentes e acostumadas ao que há de mais expressivo. serviços, padronização de métodos, unificação de
possa existir de melhor em ensino e a mais evoluída Não ocorreu às direções dos Laboratórios locais tecnologia da informação, e até a criação de centrais
assistência à saúde. uma reunião ou um jantar amigável onde todos tecnológicas.
Esperança é o “Brasil que eu Quero”, elevado às pudessem expor os seus motivos de oferecer preços Essas parcerias, além de qualificar todos os
máximas potências. extremamente baixos, a ponto de o atendimento aos Laboratórios participantes proporcionará melhor
Esperança é cortado por duas rodovias principais usuários do SUS ser realizado com apreciável desconto rentabilidade, e o aparecimento “milagroso” de
da mais alta qualidade, que percorrem o Estado no à Prefeitura Municipal. tempo para pensar o futuro, onde serão vislumbrados
formato de X, uma do sudeste ao noroeste, a outra Não ocorreu que, em pouco tempo, os crescimentos profissionais, pós graduações, visitas
na direção sudoeste a nordeste. O ponto de encontro Laboratórios de Frondosa Floresta vão cessar suas a centros de tecnologia avançada, frequências a
das duas rodovias fica próximo à capital, cujo nome é atividades por falta de condições financeiras. Alguns, Congressos e até uma disponibilidade maior de tempo
Bem Viver. ainda poucos na verdade, desativaram seus setores a ser dedicado à convivência familiar, férias e outras
Esperança tem um interior muito próspero, com técnicos, e encaminham todos os materiais biológicos benesses afins.
municípios muito bem distribuídos ao longo dos para serviços de apoio. E o mais importante: o fim da concorrência
dois eixos rodoviários com cidades de porte médio Essa atitude já os descaracterizou. predatória acarretará a cobrança e recebimento de
separadas uma das outras por distâncias aproximadas Não ocorreu aos colegas que parcerias produtivas, honorários justos e dignos. Esse é o único caminho
de 50 km. Nada falta à população dessas cidades em sejam quais forem, serão sempre melhores que possível da perpetuação de um sistema de trabalho
educação, saúde e lazer. Bons hospitais, ensino básico concorrências predatórias. Então, qual o motivo para indispensável, onde seja possível a todos alcançar o
e fundamental, universidades públicas e privadas de guerra de preços? desejado e merecido final feliz.
boa qualidade.
Lamentavelmente o Estado de Esperança, a capital Nota do autor: este texto foi publicado em LABORNEWS
Em Esperança não faltam vacinas e sobram Bem Viver e Frondosa Floresta são apenas imaginários. em abril de 2018 e revisado para adaptação ao momento
leitos de UTI. “Brasil que eu Quero”, da mesma forma. atual. Conclusão na próxima edição.
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